Econ - Leandro Roque - A Taxa SELIC, CDI, Overnight (Ótimas Explicações) II

 (continuação...)

388 - (Curiosidade: a taxa real de juros brasileira voltou a ser a maior do mundo já no fim de 2013, quando foi elevada nominalmente a 9,5% novamente. Ficou quase igual a da China e pouco superior a do Chile. O mundo já estava em geral com juros bem baixos. Universo de 40 países relevantes).

389 - Outra conclusão importante: ao utilizar essa regra operacional - em que os juros são fixados -, o Banco Central não pode determinar a quantidade exata de moeda que ele quer na economia. Ele faz as operações de mercado aberto de modo a manter a taxa SELIC constante, mas ele não determina a quantidade específica de moeda para a economia. Diz-se nesse caso que a moeda é endógena.

390 - Mecanismo de transferência dos Juros SELIC para a economia real: como os bancos são meros intermediadores financeiros, eles não investem dinheiro próprio (afinal, o dinheiro, na teoria, é seu e não deles). Logo, quando ocorre um aumento da SELIC - o que significa que o Banco Central está vendendo títulos -, os bancos comerciais irão, obviamente, comprar estes títulos com o seu dinheiro que foi lá depositado. O dinheiro irá para o Banco Central e lá será "deletado" (lembre-se que nessas operações ocorre uma redução do nível - não de percentual - das reservas compulsórias). Portanto, houve uma diminuição da quantidade de dinheiro na economia. (...) Com menos dinheiro no sistema, os bancos que lançam seus CDIs para conseguir dinheiro também têm de pagar juros mais altos sobre eles. O dinheiro que esses bancos arrecadam ao lançar seus CDIs também será emprestado para a economia real a um preço (juro) maior. Dessa forma, um aumento da taxa básica de juros pelo Banco Central aumenta os juros de toda a economia.

391 - Com isso, agora podemos entender por que as políticas monetárias anteriores ao Real jamais funcionavam no Brasil. Naquela época, a maior parte de dívida pública estava na forma de LFTs, que pagam juros de acordo com a SELIC. Assim, quando a SELIC aumentava, os portadores desses títulos obtinham um aumento imediato de renda, o que gerava o efeito oposto daquele tencionado pelo aumento dos juros, que era o de contrair a demanda. (Ou seja, se o governo vira MMTeiro, ou exagerar nas operações twister, e passar a financiar tudo na dívida de curto prazo com Selic a 2 ou 3%, perde capacidade de fazer política monetária contracionista e a inflação fica ao sabor do câmbio ou das indexações da vida).

392 - Elevação da SELIC tende a elevar também os juros de longo prazo: Quando o BC eleva a SELIC (que é uma taxa de juros de curto prazo), isso induz as pessoas e as empresas a venderem seus títulos públicos de longo prazo para comprarem títulos de curto prazo (isso chama-se arbitragem). Essa fuga dos títulos de longo prazo faz com que seus preços caiam e seus juros subam.

393 - Outro meio pelo qual - e que complementa as questões acima - a elevação da SELIC tende a frear o consumo é a queda do preço (valor atual) dos títulos de longo prazo (e consequentemente do “patrimônio disponível”, digamos): ... quando o BC aumenta a SELIC, a arbitragem dos agentes econômicos faz com que os juros de longo prazo também subam. Isso irá não só provocar uma queda na demanda de investimentos, estoques e bens duráveis - como casas e automóveis -, como também irá provocar uma perda de riqueza para os proprietários da dívida pública. E essa perda de riqueza faz com que os gastos sejam contraídos. Leandro crê que é fantasiar racionalidade demais nessa galera que compra título longo. Prudência demais.

394 - Afirma que como o governo suga poupança privada para financiar seus déficits, o juros no mercado privado acaba sendo bem mais alto do que poderia ser e desestimula investimentos.

395 - Se não existissem títulos públicos, isto é, se o governo não se endividasse, não haveria como o Banco Central fazer política monetária. Não haveria como o Banco Central estipular juros.

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