Econ - Ha-Joon Chang - Capítulos II e III do Maus Samaritanos (Livro) III

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59 - Além de ser o país mais protecionista do mundo durante o século XIX e até a década de 1920, os Estados Unidos também eram a economia que crescia mais rápido. (...) Alguns economistas do livre-comércio argumentam que os Estados Unidos cresceram rapidamente durante o período, apesar do protecionismo, porque tinham muitas outras condições favoráveis ao crescimento, particularmente seus recursos naturais abundantes, o mercado doméstico grande e a taxa de alfabetização elevada. Como veremos, a força desse contra-argumento é atenuada pelo fato de muitos outros países com menos condições também terem crescido rapidamente ao adotar barreiras protecionistas. A Alemanha, a Suíça, a França, a Finlândia, a Austrália, o Japão, a Tailândia e a Coréia… Exemplos.

60 - Os Estados Unidos nunca praticaram o livre-comércio no mesmo nível que a Inglaterra o fez durante seu período de livre-comércio (1860 a 1932). Nunca tiveram um regime de tarifa zero como a Inglaterra e foram muito mais agressivos no uso de medidas protecionistas não-tarifárias quando necessário. Além disso, mesmo quando mudou para o comércio mais livre, o governo dos Estados Unidos promoveu indústrias-chave por outros meios, principalmente o Fundo Público de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Entre a década de 1950 e a metade da década de 1990, o fundo do governo federal americano contava com 50 a 70% de todo o fundo de P&D do país, o que está acima do que se registrou nos países “com crescimento liderado pelo governo” como o Japão e a Coréia, que chegavam em torno de 20%.

61 - Mais: A França, a Alemanha e o Japão - os três países considerados as casas do protecionismo-sempre tiveram tarifas mais baixas do que a Inglaterra e os Estados Unidos (até os dois últimos países se converterem ao livre-comércio após sua ascensão económica). Mostra dados depois.

62 - Depois, nas décadas de 60 e 70, a tarifa dos EUA eram iguais ou levemente superiores à média do desenvolvidos.

63 - Chang alerta, ainda, em rodapé, que tarifas médias baixas muitas vezes escondem proteções importantes: Por exemplo, durante o final do século XIX e o início do século XX, enquanto a Alemanha mantinha uma tarifa industrial média relativamente moderada (entre 5% e 15%), aplicava proteção tarifária intensa sobre indústrias estratégicas como a do ferro e do aço. Durante o mesmo período, a Suíça também aplicou proteção elevada sobre suas novas indústrias de engenharia, embora sua tarifa média estivesse entre 15% e 20%. Na primeira metade do século XX, a Bélgica manteve níveis moderados de proteção geral (a tarifa industrial média era de 10%), mas protegeu fortemente os setores têxteis mais importantes (30% a 60%) e a indústria do ferro (85%).

64 - Menciona, ainda, vários subsídios e empresas públicas “usadas” para a industrialização nascente dos países desenvolvidos.

65 - A França praticou o “laissez-faire” da Revolução Francesa até a Segunda Guerra e que isso não resultou em crescimento maior. Já no pós-Guerra: o Estado francês tornou-se muito mais ativo na economia. Ele aplicou um planejamento “indicativo” (oposto ao “compulsório” comunista), apoiou indústrias-chave por meio da nacionalização e canalizou investimentos para indústrias estratégicas por intermédio de bancos públicos. Para criar a possibilidade de crescimento das novas indústrias, as tarifas industriais foram mantidas em um nível relativamente alto até a década de I960. A estratégia funcionou muito bem. No final da década de 1980, a França se transformara em líder tecnológica em várias áreas. Tirei o gráfico abaixo de outro livro dele:



66 - Japão pós-guerra: O investimento estrangeiro foi simplesmente proibido em algumas indústrias-chave. Mesmo quando ele era permitido, havia tetos máximos à propriedade estrangeira, normalmente o máximo de 49%. As empresas estrangeiras eram obrigadas a transferir tecnologia e comprar localmente pelo menos proporções específicas de seus insumos (as chamadas exigências locais de consumo). … No entanto, diferentemente do século XIX, o governo japonês não usou as empresas públicas nas indústrias de manufaturas-chave.

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