Econ - Kirzner - Conhecimento e Planejamento Central
Kirzner - Conhecimento e Planejamento Central:
314 - Capítulo 9 do livro “The Meaning Of The Market Process” de Israel Kirzner.
315 - O “problema do conhecimento” aparece aqui como dispersão dos dados. Isso faria com que situações de troca mutuamente benéfica não ocorressem por ignorância pura com relação a tais dados.
316 - Resumo da questão que ele coloca: os defensores da “versão competitiva” acreditam que podem planejar um mercado em equilíbrio geral (onde todos os preços equivalem a custos de produção) e fazer a população se ajustar a tal plano considerado ótimo. Mas como poderia um planejador central, lidando com zilhões de dados de uma economia, arquitetar tal sistema, se mesmo um planejador individual, lidando com zilhões de dados a menos, é afetado pela ignorância dos dados relevantes para a melhor formulação de seu plano?
317 - O problema do cálculo, em Hayek, não é criar uma forma geral de planejar a produção mais eficiente possível. Seu raciocínio é radicalmente oposto: É (...) um problema de garantir o melhor uso dos recursos conhecidos por cada um dos membros da sociedade, com fins cuja importância relativa apenas esses indivíduos sabem. Ou, para resumir, é um problema da utilização do conhecimento que não é dado a ninguém em sua totalidade.”
318 - A noção de plano pressupõe uma entidade deliberadamente mirada – digamos, utilidade ou lucro – que deve ser conhecidamente maximizada. Ela adiante pressupõe restrições de recurso conhecidas. Na terminologia de Robbins, ambos meios e fins são presumidamente dados. Kirzner coloca que se um indivíduo não conhece os fins ou os recursos ou o uso eficiente deste para atingir os fins, tem-se um “problema básico do conhecimento”. O problema do conhecimento de Hayek consiste no caráter disperso da informação disponível; nosso problema básico do conhecimento consiste na simples ignorância por parte de um indivíduo das circunstâncias relevantes para a sua situação.
319 - Ocorre que o “problema básico” parece se resolver simplesmente com um plano melhor, com mais precauções e objetivos intermediários. Assim, essa inadequação seria vista então como um chamado para uma busca planejada com vistas a adquirir a informação necessária. Mais: E se o custo de adquirir o conhecimento é proibitivo, então o “ótimo hipotético”, enquanto “passível de ser obtido”, de fato não é um ótimo. Ou seja, é como se não houvesse “problema” algum.
320 - Coloca que ao executar um “plano complementar” com o fim de buscar conhecimento que faltava ao “plano original”, criando, depois, um “plano novo”, o indivíduo na verdade pode apenas ter ampliado os “problemas de conhecimento”, pois pode ter errado em qualquer dessas novas avaliações. Talvez nem precisasse de mais informação alguma. Talvez não tenha percebido que precisava de ainda mais informação do que constou no objetivo do “plano complementar”. Enfim, mais problemas sempre se colocam. Tudo isso vai tornando o “plano ótimo” cada vez mais utópico. Kirzner dá vários exemplos. O planejador inclusive pode não estar ciente de várias de suas ignorâncias., não tendo sequer, portanto, como bolar “planos complementares” para corrigi-las, o que causaria insucesso mesmo que todos os planos que fez fossem atingidos com sucesso.
321 - (Às vezes esse debate me parece o sexo dos anjos. Todo mundo planeja e todo mundo está sujeito a tudo isso, sejam empresas, indivíduos, planejadores, empreendedor… O que nunca se tentou até hoje é organizar a produção de acordo com as necessidades dos próprios produtores - e não do lucro ou algum mecanismo impessoal qualquer. Precisaríamos de um algoritmo em constante evolução? Sim, muito, mas que época maravilhosa para isso. Será perfeito? Não, como o mercado também não é ao que me parece)
322 - Resumindo as dificuldades colocadas: Primeiramente, a busca planejada pode ela mesma ser realizada sem se estar ciente de que técnicas que são mais eficientes e de fácil acesso. Segundo, a informação desejada pode de fato não justificar os custos de procura porque a verdade (a qual o planejador não conhece) é que a informação não é de significância para a obtenção dos objetivos finais do planejador. Terceiro, além da informação que o planejador percebe que lhe falta e tentará obter, ele pode precisar de outras informações que ele não percebe que lhe faltam e pelas quais ele não pensa em tomar nenhuma medida de busca planejada
323 - Como o mercado resolve para Hayek: o insolúvel problema do conhecimento confrontado pelos planejadores centrais tende a se dissolver no processo de descoberta competitiva empreendedora.
324 - Dizer que os preços de mercado comunicam informação, e dessa forma superam diretamente o problema do conhecimento disperso é defender que os mercados dependem de uma pressuposição dúbia: ele eles estão sempre em equilíbrio ou próximos a ele. Apenas no equilíbrio pode ser dito que um participante guiado pelos preços é automaticamente levado às ações que se coordenam plenamente com as ações dos demais participantes do mercado (similarmente guiados). Além disso, pressupor que os mercados estão próximos do equilíbrio é essencialmente (sem levar em conta nossas outras razões para nos sentirmos incomodados com nossa pressuposição) é fugir (ao invés de superar) ao problema Hayekiano do conhecimento disperso. (...) O conhecimento disperso é precisamente a razão para a bem realística possibilidade de que os mercados num dado momento são incapazes de se equilibrarem e assegurarem a ausência de recursos desperdiçados.
325 - Kirzner afirma que os preços de fato não transmitem informação perfeita, mas oferecem valorosas armas para combater os desequilíbrios e imperfeições: … sua importância reside na habilidade dos preços de desequilíbrio oferecerem oportunidades de lucro puro que podem chamar a atenção de empreendedores alertas, em busca de lucros. (...) Esse elemento empreendedor da ação humana é o que responde aos sinais de lucro puro que são gerados pelos erros advindos do conhecimento disperso disponível na sociedade
326 - A firma é uma ilha de planejamento central? Podemos esperar que as firmas tendam espontaneamente a se expandir até o ponto onde as vantagens adicionais do “planejamento central” são ofuscadas pelas dificuldades incrementais que aparecem com a informação dispersa. (...) A competição entre as firmas de diversos tamanhos e escopo tenderão, logo, a revelar a extensão ótima de tal “planejamento central”.
327 - Por essas e outra, ao fim, espeta até a ideia de política industrial.
.
Comentários
Postar um comentário