Livro: Hunt, E. K. - Historia do Pensamento Econômico - Capítulo 4

         

Livro: Hunt, E. K. - Historia do Pensamento Econômico



Pgs. 110-141


"CAPÍTULO 4: "Thomas Robert Malthus"


111 - Ocupou a primeira cátedra inglesa de Economia Política, onde permaneceu até sua morte, em 1834.


Conflitos de Classes no Tempo de Malthus


112 - Situação operária na época: Essa tendência dos padrões de vida da classe operária nas primeiras décadas do século XIX é um tema controvertido entre os historiadores. O fato de muitos estudiosos eminentes encontrarem evidências suficientes para argumentar que o padrão de vida deixou de aumentar, ou até mesmo baixou, nos leva à conclusão de que qualquer aumento, naquela época, deve ter sido, quando muito, modesto.


113 - Hobsbawn complementa: "...No exato momento em que os pobres estavam nas piores condições possíveis… a classe média estava com sobra de capital, que investia quase que integralmente em estradas de ferro e gastava em mobiliário e artigos domésticos apresentados na Grande Exposição de 1851 e em construções opulentas nas cidades… nas escuras cidades do norte".


114 - Outros aspectos: O novo sistema fabril destruiu completamente o modo de vida tradicional dos trabalhadores, lançando-os em um mundo de pesadelos para o qual estavam completamente despreparados. Eles perderam o orgulho da habilidade pessoal no trabalho e a proximidade das relações pessoais que existiam nas indústrias artesanais. Pelo novo sistema, sua única relação com seu empregador era através do mercado impessoal, ou o elo do dinheiro. (...) O emprego na fábrica trouxe a tirania do relógio. (...) O ritmo de trabalho não era mais decidido pelo indivíduo, mas pela máquina. A relação se inverte. O homem vira apêndice da máquina. 


115 - As autoridades que controlavam as Leis dos Pobres podiam contratar os filhos dos pobres, e isso levava a “negociações habituais… (em que) as crianças… eram tratadas como meras mercadorias… entre os empresários das fiações de um lado e as autoridades que controlavam as Leis dos Pobres do outro. Grupos de cinquenta, oitenta ou mesmo cem crianças eram mandados para as fábricas como gado, onde ficavam presas muitos anos”. (...) Os capatazes eram pagos de acordo com o volume de produção das crianças e, portanto, as pressionavam sem misericórdia. Falam em jornadas de 14 a 18 horas, de dedos cortados e amassados mesmo para as crianças. As crianças eram disciplinadas de maneira tão brutal e selvagem, que uma narrativa dos métodos empregados pareceria inteiramente inacreditável para o leitor de hoje. Relatos horríveis sobre as mulheres também. 


116 - As cidades inglesas eram horrorosas: “A civilização faz seus milagres” – escreveu o grande liberal francês de Tocqueville sobre Manchester – “e o homem civilizado volta a ser quase um selvagem. O roubo e prostituição prosperavam. Traz vários relatos medonhos documentados.


117 - Luta de classes havia desde sempre: Em 1792, um sindicato de tecelões obrigou a Bolton and Bury Manufacturers a assinar um acordo coletivo. ... O resultado foi a Lei do Conluio, de 1799, que tornava ilegal qualquer combinação entre operários. Os capitalistas lutaram, também, pelo fim de qualquer ajuda do governo aos pobres, como o sistema Speenhamland. Ao que entendi, era a época da alta do preço do trigo e tudo ficou pior ainda.


118 - Capitalistas ingleses queriam o fim da Lei dos Cereais. O salário "básico" tinha que ser mais alto por causa dela. (...) os altos preços dos produtos agrícolas tinham o efeito de transferir grande parte da mais-valia, criada pelos operários, dos lucros dos capitalistas para as rendas dos proprietários de terras. Ademais, abrindo-se irrestritamente os mercados, facilitava-se a exportação dos produtos industriais. A reciprocidade, sobre qualquer tipo de produto, se tornava uma arma. A mais-valia gerada pelos trabalhadores era dividida entre capitalistas e proprietários de terras, cada uma dessas classes lutando para tornar-se a facção dominante da classe dirigente do capitalismo. (...) Os capitalistas industriais tinham o domínio econômico, mas os proprietários de terras ainda controlavam o Parlamento. Resultado: a briga durou mais de trinta anos e só em 1846 houve a abolição total da lei.


A Teoria da População


119 - Curiosa história: Condorcet tivera uma importante influência nas primeiras fases da Revolução Francesa, mas, depois de os jacobinos dominarem a Convenção, ele argumentou que a República deveria abolir a pena de morte, protestou contra a execução do rei e a prisão dos girondinos e disse à Convenção que Robespierre era pobre, não só de ideias, como também de sentimentos humanos. Por isso, Condorcet foi condenado à morte. Escondido, escreveu Esquisse d’um Tableau Historique des Progrès de L’esprit Humain, sua obra mais famosa.


120 - Nessa época, William Godwin era mais radical: ...Essas duas ideias de Godwin viriam a ser muitas vezes repetidas pelos socialistas do século XIX: (1) as instituições sociais e econômicas capitalistas, particularmente as relações de propriedade privada, eram as causas dos males e do sofrimento no sistema e (2) o governo de um sistema capitalista nunca repararia esses males, pois era controlado pela classe capitalista. A solução? A razão humana. Raciocinando, veríamos a necessidade de abolir o Estado, as classes e a propriedade.


121 - Contra Condorcet e Godwin, levantava-se Malthus. Seria tudo contra a lei natural. ASua teoria da população? ...a pobreza e o sofrimento abjeto eram o destino inevitável da maioria das pessoas, em toda sociedade. Além do mais, as tentativas de minorar a pobreza e o sofrimento, por mais bem intencionadas que pudessem ser, tornariam a situação pior, e não melhor.


122 - P.A dos alimentos evitava, segundo Malthus, que o crescimento da população fosse realmente P.G. Ou seja, o potencial era continuamente freado pela fome, miséria e pragas, por exemplo, resultantes desse descompasso. 


123 - Só a abstinência e controle, para Malthus, gerava riqueza. Seu argumento: ...se a riqueza e a renda de qualquer membro da sociedade aumentasse, a grande maioria reagiria, tendo tantos filhos que logo voltaria ao nível simples de subsistência; só o homem moralmente virtuoso poderia escapar a esse destino. (...) Assim, pela teoria de Malthus, a diferença final entre o rico e o pobre era o alto nível moral daquele e o baixo nível moral desse


124 - Malthus era contra políticas de redistribuição de renda. Para ele, grosso modo, dar dinheiro ao pobre só serviria para onerar os ricos (tidos como "úteis/produtivos") enquanto o pobre fica mais tempo sem trabalhar. Os membros mais úteis da sociedade eram, obviamente, a classe rica dos proprietários, cujo valor era não só econômico, como também cultural.


125 - No mais, ele praticamente mandava matar os pobres por omissão. Nem remédio queria dar. Segundo os autores, Malthus influenciou até mesmo Darwin.


Economia de Troca e Conflito de Classes


126 - No fundo, o pensamento de Malthus se resume a isto aqui: ...toda troca é benéfica para o capitalista e para o trabalhador, particularmente se for aceita a inevitabilidade de uma classe de proprietários e de uma classe de trabalhadores. (...) A utilidade universal da troca, que, como veremos em outros capítulos, iria transformar-se no centro normativo da economia neoclássica, foi definida sucintamente por Malthus.


127 - Enquanto Smith definira riqueza como um produto do trabalho, Malthus escreveu: “Devo definir a riqueza como sendo os objetos materiais, necessários, úteis ou agradáveis para o homem, de que se apossam voluntariamente os indivíduos ou as nações.”


128 - Um clássico do cinismo: “...não se pode deduzir que o trabalhador ou lavrador que, na loteria da vida humana, não tenha tirado um prêmio de terra, seja alvo de qualquer injustiça, por ser obrigado a dar algo em troca do uso de algo que pertence a outro”. ... "não é correto” – insistia Malthus – “identificar, como fez Adam Smith, os lucros do capital como uma dedução do produto do trabalho”


129 - Colocam que a teoria da renda de Malthus era bastante parecida com a de Ricardo (renda diferencial e tal).


A Teoria da Superprodução

 

130 - Malthus e a superprodução: ...a condição necessária para a demanda efetiva ser igual ao valor de todas as mercadorias produzidas era que as três classes em conjunto estivessem dispostas a gastar, e pudessem gastar toda a sua renda coletiva nas mercadorias produzidas em cada período. Preço natural e preço de mercado poderiam "brigar" mais do que se pensava, digamos.


131 - Smith e quase todos os outros economistas clássicos argumentavam que o capitalismo nunca passaria pela dificuldade de uma demanda agregada insuficiente por todas as mercadorias produzidas e destinadas à venda. Entretanto, o sistema capitalista teve e continua tendo esses problemas.


132 - Os proprietários de terra são heróis do ócio em Malthus. Consomem o que os capitalistas não podem, impedindo a depressão. Os capitalistas têm que trabalhar "sete ou oito horas por dia". Chega a escrever quase poeticamente sobre esse nobre consumo de serviços pessoais e bens.


133 - Ressaltam, com razão, que a teoria da superprodução de Malthus contraria a própria teoria da população de certa forma. Explicam lá e eu concordo.


134 - A "solução" de Malthus era aumentar a renda para os proprietários consumirem e diminuir os lucros excessivos dos capitalistas. (...) Assim, a solução apontada por Malthus implicava a criação de um exército de trabalhadores improdutivos como criados dos proprietários de terras. Aí que entravam as "leis dos cereais" da vida.


135 - Dá um exemplo de ideologia agindo quando Malthus se nega a apoiar política de aumento de renda dos trabalhadores porque "reduziria o lucro" dos capitalistas... Impressionante.


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