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Mostrando postagens de dezembro 27, 2020

Cap. 01 – 'Feitiçaria e Piedade Popular: notas sobre um processo modenense de 1519' (GINZBURG, Carlo)

  FICHAMENTO e, depois, RELATÓRIO DE LEITURA (não foram feitos por mim) 1 - A escolha do processo modenense de Chiara Signorini se justifica no livro por apresentar de modo evidente associações plausíveis, ainda que de caráter psicológico. Exemplos: relações entre feitiçaria e piedade popular; as motivações sociais da própria feitiçaria e a sobreposição de esquemas inquisitoriais à realidade da feitiçaria popular.   2 - É num processo contra um padre servita, Bernardino Martino, em 9 de dezembro de 1518, que serão formuladas as primeiras acusações contra Chiara Signorini. Conta-se que a suposta feiticeira, em conluio com seu cônjuge Bartolomeo, segundo o irmão da “vítima” do “malefício”, chamado Bartolomeo (também) Guidoni, teria feito um “trabalho” em vingança e chantagem para que fossem readmitidos na pequena propriedade da qual foram expulsos pela “vítima”, Margherita Pazzani. Segundo a acusação, Chiara teria dito que poderia curá-la em um mês e que Margherita “não ter...

Cap. V do 'A Sociedade de Corte' (ELIAS, Norbert)

  FICHAMENTO (não fui eu quem fiz)     Cap. V – “Etiqueta e Cerimonial: comportamento e mentalidade dos homens como funções da estrutura de poder de sua sociedade”. In: A Sociedade de Corte : Investigação Sobre a Sociologia da Realeza e da Aristocracia de Corte. ELIAS, Norbert. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001.                 1 - O texto inicia narrando o lento processo de deslocamento do centro de gravidade da vida social, que, em Luis XIV, era a própria corte, dos palácios (e depois também os “hôtels” dos aristocratas que não eram príncipes) para a cultura de salão, na qual o convívio social e a cultura da alta sociedade já chegavam aos “hôtels” dos financistas. Mais tarde, a Revolução Francesa detonaria toda essa estrutura fragilizada. Com o Império, porém, a Corte de Napoleão foi o centro da “boa sociedade”, ainda que bem diferente da original no estilo de vida e refinamento.   ...

História Econômica do Brasil - Ciclo do Café (Textos) II

(continuação...)   18 - (p. 29) O “registro paroquial” validou ou revalidou a posse de títulos de sesmarias e a ocupação de terras devolutas que tivessem acontecido até 1854. Entretanto, uma “verdadeira indústria de falsificação de títulos de propriedades, sempre datados de época anterior ao registro paroquial,” tomou conta dos cartórios oficiais, geralmente mediante suborno aos escrivães e notários. Imigrantes e antigos escravos não podiam participar de tal festa, eis que ignorantes das praxes ou mesmo pelo baixo poder aquisitivo necessário ao suborno de funcionários e pagamento de despesas judiciais. Logo, a grilagem, investimento bastante lucrativo, ficou reservado aos que podiam pagar,   20 - (p. 32) Com a terra passando a ter valor de mercado significativo, os bancos e comissários voltam a enxergar uma contrapartida valorizada para os empréstimo de seus capitais. “A propriedade do escravo se transfigura em propriedade da terra como meio para extorquir trabalho e não para ...

História Econômica do Brasil - Ciclo do Café (Textos)

Esses fichamentos não são meus: FURTADO, Celso. Gestação da economia cafeeira   1 - (p. 164) Para Celso Furtado, a economia brasileira, na maior parte do Século XIX, mostrou-se estagnada ou mesmo decadente.   2 - (p. 165) Furtado defende que o organismo econômico brasileiro não tinha ainda complexidade - a qual se caracteriza por relativa autonomia tecnológica - suficiente para almejar um desenvolvimento com base no mercado interno. Restava ao Brasil tentar se reintegrar nas linhas em expansão do comércio internacional.   3 - A situação fiscal grave e estagnação das exportações limitavam qualquer possibilidade de expansão do crédito público, tendo este na verdade se reduzido.   4 - (p. 166) As exportações tradicionais brasileiras já não tinham como gerar excedente a ser redirecionado, haja vista a tendência declinante do preço do açúcar e algodão, pra falar dos dois principais produtos exportados, em razão da ampliação da concorrência internacional. ...

João Bernardo - A Revolução Russa como resolução negativa da nova forma de ambiguidade do movimento operário IV

(continuação...) 22 -  O grupo Centralismo-Democrático, que cerca de 1926 pretendia a constituição de um novo partido e classificava a situação da URSS desde a NEP como uma forma de capitalismo, não consegue ultrapassar a ambiguidade concreta em que se desenvolveu toda a revolução russa e é, na política prática, um elemento passivo da plataforma centrista-utópica.   23 -  A primeira grande realização da nova função do Estado processar-se-á no espaço cronológico que vai de 1928 a 1930 sob o nome de colectivização da agricultura. Na realidade, o que se passou foi a luta entre os proprietários colectivos de Estado e os proprietários individuais pelo controle da propriedade agrária. (...) Alguns dos antigos proprietários camponeses individuais integraram-se no novo regime, ascendendo nos quadros da propriedade colectiva. A maior parte, porém, foi exterminada, no sentido exacto da palavra.  O motivo?  Os proprietários colectivos da grande indústria se  viam...

João Bernardo - A Revolução Russa como resolução negativa da nova forma de ambiguidade do movimento operário III

 (continuação...) 16 -  Trotsky, por exemplo, o grande organizador e o maior defensor das instituições hierarquizadas do exército e da integração nessas instituições de toda a vida económico-social, considerava o “comunismo de guerra” como resultado somente da miséria e da penúria, e afirmava que só com a NEP se voltara a economia. (...)  JB:  A economia deixa de procurar as leis da sua dinâmica ao nível das instituições sociais e passa a reger-se pela rentabilidade imediata, ou seja, a constituir-se como forma de realização da lei do valor.   17 -  O Bukharin direitista escreve que a pressão das massas trabalhadoras sobre a orientação do económico se processa através do mercado .   18 -  A vontade dos produtores ou, numa formulação mais correcta, a dominância do social organizado sobre o económico só pode ser definida pelos próprios produtores. Se não existem as instituições que permitem a definição e a consequente imposição dessa vontade social,...

João Bernardo - A Revolução Russa como resolução negativa da nova forma de ambiguidade do movimento operário II

 (continuação...) 9 - Nomes de cada ala. Na ala esquerda encontrávamos:  Bukharin revolucionário (que se transformaria, com a NEP, no Bukharin de ultra-direita), muitos dos futuros trotskistas e a maior parte daqueles que constituiriam a Oposição Operária, o grupo Centralismo-Democrático e outras formações de esquerda que duraram com mais ou menos continuidade até serem fisicamente exterminadas no principio dos anos trinta e a base concreta económico-social deixar de as sustentar. Radek, o patologicamente oportunista, oscilante sempre entre o aparelho e a revolução, entre o nacionalismo e o internacionalismo, que havia de ser trotskista para rapidamente abandonar o trotskismo e, entre duas prisões, com Bukharin, redigir a constituição staliniana para ser condenado, mês e meio depois da sua promulgação, e desaparecer nos labirintos siberianos; Piatakov que, como tantos outros trotskistas, haveria de ser fuzilado, depois de ter dirigido a edificação da grande indústria do capita...

João Bernardo - A Revolução Russa como resolução negativa da nova forma de ambiguidade do movimento operário

  Texto: João Bernardo - A Revolução Russa como resolução negativa da nova forma de ambiguidade do movimento operário   1 - Originalmente publicado como capítulo 18 do livro “Para uma teoria do modo de produção comunista” (Porto: Afrontamento, 1975, pp. 141-179), de João Bernardo.   2 -   É este, aliás, o modelo do processo dialéctico: um estádio tem as suas condições preparadas num estádio anterior, mas não decorre imediatamente dele; é determinado na acção sobre esse estádio de uma outra contradição.   3 - Será a relativa quebra do movimento operário posterior à Comuna de Paris, combinada com a crescente dominância social da classe tecnocrática, que levará à constituição de partidos operários em que se enraízam os actuais. São “operários” porque integram massas operárias, mas unicamente nesse sentido. Na sua função, são idênticos aos burgueses, propondo-se o controle do aparelho político particularizado relativamente às massas produtoras que dele s...

Benedict Anderson - Comunidades Imaginadas, Reflexões Sobre a Origem e a Difusão do Nacionalismo II

 (continua...) 14 - Eram “línguas-verdade” (o latim canônico era “nosso” famoso exemplo) as quais, há algum tempo atrás, não deveriam sequer serem traduzidas. A realidade ontológica só poderia ser apreendida por um único sistema de signos. (Isso me faz entender várias defesas que os católicos “fundamentalistas” fazem até hoje, 2019).   15 - Adorei ele falando do caráter abstruso “autoconstruído” da linguagem dos advogados e economistas. Lembrei muito do nosso primeiro dia de conversa falando justamente isso.    16 - Os letrados eram como a mediação entre o céu e a terra. Membros da hierarquia do divino. As línguas inferiores eram máscaras da realidade, sem alcançar a profundidade desta.   17 - A exploração do mundo não-europeu dos séculos seguintes ajudaria a reduzir o prestígio das grandes comunidades imaginadas religiosamente e sua “coesão inconsciente”. O contato com outras culturas leva a um Marco Polo, por exemplo, falar em religião “mais verdadeira” em vez...