João Bernardo - A Revolução Russa como resolução negativa da nova forma de ambiguidade do movimento operário III

 (continuação...)


16 - Trotsky, por exemplo, o grande organizador e o maior defensor das instituições hierarquizadas do exército e da integração nessas instituições de toda a vida económico-social, considerava o “comunismo de guerra” como resultado somente da miséria e da penúria, e afirmava que só com a NEP se voltara a economia. (...) JB: A economia deixa de procurar as leis da sua dinâmica ao nível das instituições sociais e passa a reger-se pela rentabilidade imediata, ou seja, a constituir-se como forma de realização da lei do valor.

 

17 - O Bukharin direitista escreve que a pressão das massas trabalhadoras sobre a orientação do económico se processa através do mercado.

 

18 - A vontade dos produtores ou, numa formulação mais correcta, a dominância do social organizado sobre o económico só pode ser definida pelos próprios produtores. Se não existem as instituições que permitem a definição e a consequente imposição dessa vontade social, ela não pode ser susceptível de adivinhação. Quando tais instituições não existem, a economia deixa de ser dominada pelo social e de imediato se apresenta como regida pelas leis de um automatismo, quer dizer, estrutura-se noutra base.

 

19 - Como formar os preços? O pessoal da Hungria propunha o seguinte: “Para aqueles que articulam as propostas mais sistemáticas neste sentido, não são somente os preços dos produtos exportados e importados que deveriam ser fixados com base nos preços do mercado mundial, mas também os de todos os outros produtos, e isto porque os preços mundiais representariam ‘a expressão em dinheiro do tempo de trabalho socialmente necessário à escala internacional’ (cf. Tarnovski)””. Ou seja, o mercado mundial capitalista.

 

20 - Controle do produto pelo consumidor é coisa de capitalista? Apenas se sozinho. Isoladamente. No modo de produção comunista, o controle dos produtores socialmente auto-organizados sobre a produção é – para empregar a terminologia vulgar que Bettelhelm usa – precisamente o aspecto determinante do controle dos consumidores sobre o produto. Se há alguns que podem consumir e outros não é porque alguém controla a produção e outros não. Ora, a orientação dos produtores segundo o interesse dos consumidores especificamente considerados tem um nome – a exploração.

 

21 - Este processo de degenerescência consumou-se na NEP, não sem que se tenha travado uma luta aguda, longa e violenta, mas dispersa, entre a vanguarda revolucionária e os novos elementos da classe exploradora. Entre os bolcheviques, a vanguarda revolucionária era constituída essencialmente pelos membros do partido que não desempenhavam funções no aparelho de Estado e cujo lugar no processo de produção era, em geral, o de produtores directos. (...) a vanguarda revolucionária existente no interior do partido não soube ligar-se à vanguarda operária surgida com o processo da revolução e que fora afastada do partido pela burocratização deste. (...) Durante a curta vigência da Comuna de Cronstadt, e enquanto o governo bolchevique a aniquilava a ferro e fogo, a Oposição Operária defendia, no interior do partido e subordinada ao mito do partido, um programa semelhante ao dos revolucionários de Cronstadt.

 

(continua...)

Comentários