Uma Entrevista Com E. P. Thompson II

(continuação...)

12 - Thompson coloca que os “partizans” eram ativos não apenas na Iugoslávia. Na própria Inglaterra havia luta por moradia, greves e empolgação com nacionalização das minas e introdução do seguro social. No início, havia uma frente popular diversificada nesses grupos. A política da Guerra Fria é que forçou o fim dessa abertura.

 

13 - Afirma que nunca “tomou a decisão de ser historiador”. Comecei a lecionar para adultos porque me parecia ser uma área em que poderia aprender algo sobre a Inglaterra industrial e ensinar uma gente que por sua vez ensinaria a mim mesmo. A militância política nunca cessou. Trabalhou pelo pacifismo, contra a Guerra da Coréia, enquanto membro do partido. Quando “capturado” pelo interesse em apresentar, defender e pesquisar William Morris, inclusive tomando paixão pelos “arquivos”, tomou gosto por isso de “ser historiador”, o que atribui também bastante à colaboração dos companheiros socialistas. A maioria desses historiadores deixaria, porém, o partido a partir de 1956. (a entrevista não explica, mas creio que tem a ver com o contexto internacional das denúncias, por Kruschev, dos crimes do stalinismo, já que isso gerou crises internas em diversos PCs pelo mundo)

 

14 - Deixou a Universidade de Warwick porque a medida que se avança na carreira, as tarefas administrativas vão se tornando meio que uma obrigação, o que não condizia com as prioridades da sua vida. Disse que era mais um escritor que um professor.

 

15 - “A formação” seria apenas um livro “solicitado” por um editor. Um ganha-pão. Porém, também foi “capturado” pela pesquisa. O material “pediu” isso. Não era exatamente o que ele pretendia. Foi tipo eu no tinder.

 

16 - Por que começou “A formação…” do Século XVIII? Coloca alguns fatores. Entre eles, o de que sua mulher já pesquisava bastante o período cartista (início do Século XIX).

 

17 - História, para Thompson, não se trata apenas de escolher o melhor método para provar as teorias existentes. Por vezes, será necessário reconstruir a própria teoria. Cita até um artigo “recente” como exemplo disso, mas não detalha. Coloca como tarefa de jovens escrever a história do século XX. Por exemplo, considera que esteve envolvido demais com 1945 para ter o distanciamento necessário à pesquisa.

 

18 - Traça alguns comentários sobre sua polêmica com Perry Anderson (não achei muito explicativos). Assim resumiu: Se olhar para o seu próprio trabalho histórico, Anderson perceberá que fala muito de poder e de estruturas, e muito pouco da cultura e de interiorização da experiência.

 

19 - Ele não é um crítico total do “estruturalismo”, apontando que inclusive se utiliza desse tipo de análise. Suas objeções são mais a certos tipos de estruturalismo, como o athusseriano. (vaga lembrança sobre essas discussões...). Observa, porém, que Anderson não é exatamente althusseriano. Associa o marxismo de Althusser a uma espécie de “teologia”, um idealismo, retirando o tão necessário diálogo empírico dos conceitos marxistas.

 

20 - Cita Vico, Marx, Blake e Morris como seus “ancestrais teóricos”.

 

21 -  Considero – embora isso possa fazer parte de uma tradição baconiana – a teoria como crítica, como polêmica. Acredito firmemente em destacar o aspecto teórico dos problemas por também crer que, às vezes, alcançam-se assim melhores resultados diante dos métodos críticos. Isso também se encontra em Marx e Engels. Não acredito que esses sejam os melhores textos da tradição marxista, mas Feuerbach ou Anti-Dühring tratam-se precisamente da teoria desenvolvida como crítica. (...)  É como se desenvolver “teoria” fosse muito difícil e fazer a crítica teórica fosse algo muito mais fácil. E não é.  Acredita que a esquerda está abandonando o “segundo campo” aí.

 

22 - Cita Christopher Hill e 10% da obra de Christopher Caudwell como figuras “atuais” que o influenciam. (não os conheço e ele também explica pouco).

 

23 - Aceita que se possa ter uma interpretação diferente da obra de Marx inclusive em razão do acesso a novos escritos - como os Grundrisse -, mas demonstra preocupação com a questão da historicidade dos conceitos criados. Uma análise estrutural estática poderia matar isso.

 

24 - Identifica um silêncio em Marx acerca dos valores e da moral. Thompson rejeita a metáfora “base-superestrutura”:  Em meu trabalho, tenho interesse especial pelos valores, pela cultura, pelo direito e pelas zonas em que se manifesta a escolha, chamada geralmente de juízo moral. Ainda sobre o marxismo ortodoxo, criticou “a primazia de categorias que negavam a existência efetiva (na história e no presente) de uma consciência moral”. Ao resgatar Morris - de certa forma, o primeiro marxista inglês, afirma -  e escrever “A formação…”, procurou dar voz a esse silêncio em Marx. Ou seja, não se tratava de negar o marxismo, mas de resgatá-lo das apropriações stalinistas. (...)  O que eu examino é a dialética das interações, a dialética entre “economia” e “valores”. Essa preocupação encontra-se como um fio condutor em todo meu trabalho histórico e político.

 

25 - Aqui ele está grávido de razão: Marx tratou sobre a economia política ortodoxa e propôs o homem econômico revolucionário como resposta ao homem econômico explorado. Mas também está implícito, particularmente em Marx, que o dano está em definir o homem como “econômico”.

 

26 - Afirma que alguns silêncios - ou quase isso - da sua obra não são divórcios e sim o fato de se enxergar como parte de um coletivo. As análises econômicas ganham um lugar menor em Thompson por apareceram bem já em Hobsbawn, por exemplo, explica.

 

27 - Por fim, não é contra que se use as instituições, porém, faz e termina com essa observação - com a qual concordo 100% há muito tempo: “... os intelectuais socialistas devem ocupar um lugar sem condicionamentos; ter suas próprias revistas, seus próprios centros teóricos e práticos; lugares onde ninguém trabalhe para requerer títulos catedráticos, mas para a própria transformação da sociedade, lugares onde seja forte a crítica e a autocrítica, mas também a ajuda mútua e o intercâmbio de conhecimentos teóricos e práticos, lugares que prefigurem, de certo modo, a sociedade do futuro.” Enfim, foda.


Vida de Thompson

 

28 - O pai era pastor metodista na Índia. Thompson lutou na Guerra na Itália, contra Mussolini. Em 1946, estava num grupo de estudo marxista com Hobsbawn, Perry Anderson e outros.

 

29 - Os cursos não acadêmicos vieram antes de Warwick. De 1965 a 1970 na Universidade de Leeds.

 

30 - Em 1956 saiu do PC inglês em razão da denúncia dos crimes de Stálin (cantei essa pedra mais acima). Ainda mandou uma carta escaldando pesado.

 

31 - O agir humano era importante em Thompson ao ponto de quebrar o determinismo dos modelos marxistas - a questão da infraestrutura e superestrutura. (isso ficou pouco explicado para mim.. como ele faz isso… só lendo Thompson mais tarde).

 

32 - Nos anos 80, voltou a focar na militância pacifista (como à época da Guerra da Coréia), mas com foco na política nuclear. Também retornou a lecionar nas universidades. Chegou a ter, ao final da vida, esperança de que uma terceira via surgisse, especialmente no leste europeu agora sem os muros. Ficou desiludido com a vitória do neoliberalismo.

 

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