Econ - Kalecki - Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego
Kalecki - Os Aspectos Políticos do Pleno Emprego:
268 - Texto de 1944.
269 - Em um sistema de laissez faire o nível do emprego depende, em grande parte, do assim chamado estado de confiança. Se este se deteriora, o investimento privado declina, do que resulta uma queda do produto e do emprego (tanto diretamente como através do efeito secundário que a queda das rendas exerce sobre o consumo e o investimento). Isso dá aos capitalistas um poderoso controle indireto sobre a política governamental: tudo que possa abalar o estado de confiança deve ser cuidadosamente evitado, porque causaria uma crise econômica. Mas, uma vez que o Governo aprenda o truque de aumentar o emprego por meio de suas próprias despesas, esse poderoso mecanismo de controle perde sua eficácia. Daí que os déficits orçamentários necessários para efetuar a intervenção governamental passam a ser encarados como perigosos. A função social da doutrina da “finança sadia” é fazer com que o nível de emprego dependa do “estado de confiança”.
270 - Por que são contra a qualquer política de pleno emprego? De fato, sob um regime de permanente pleno emprego, a demissão de empregados deixaria de exercer sua função de medida disciplinar. Incentivaria greves e aumentos.
271 - Uma das mais importantes funções do fascismo como tipificado pelo sistema nazista, era a de remover as objeções capitalistas ao pleno emprego. Mantinha-se os bônus do sistema (maiores lucros com economia aquecida) com os benefícios (demandas das classes trabalhadoras controladas/disciplinadas).
272 - Estímulos ao setor privado não são tão simples: Pode-se mostrar, todavia, que o estímulo ao investimento privado não provê um método adequado de evitar o desemprego em massa. Existem aqui duas alternativas a serem consideradas: (a) a taxa de juro ou o imposto de renda, ou ambos, é fortemente reduzido na depressão e aumentado na prosperidade. Nesse caso, tanto o período como a amplitude do ciclo econômico serão diminuídos, mas o emprego estará longe de pleno não apenas na depressão, mas mesmo na prosperidade, isto é, o desemprego médio poderá ser considerável, embora suas flutuações sejam menos acentuadas; (b) a taxa de juro ou o imposto de renda é reduzido na depressão, mas não aumentado na subseqüente prosperidade. Nesse caso, a prosperidade durará mais tempo, mas deverá terminar em nova depressão: é claro que uma redução da taxa de juro ou do imposto de renda não elimina as forças que causam flutuações cíclicas numa economia capitalista. Na nova depressão será necessário reduzir novamente a taxa de juro ou o imposto de renda, e assim por diante. Assim, num tempo não muito remoto, a taxa de juro teria de ser negativa e o imposto de renda teria de ser substituído por um subsídio à renda. O mesmo aconteceria se tentasse manter o pleno emprego pelo estímulo ao investimento privado: a taxa de juro e o imposto de renda teriam de’ ser continuamente reduzidos. (...) Se a depressão é forte, eles podem ter uma visão pessimista do futuro, e a redução da taxa de juro ou do imposto de renda pode então, por um longo período, não exercer qualquer influência sobre o investimento e, portanto, sobre o nível de produção e de emprego.
273 - Parece, atualmente, que os “líderes empresariais” e seus assessores pelo menos parte deles tenderiam a aceitar como um PIS além a despesa pública financiada por empréstimo como um meio de aliviar as depressões. Mas eles ainda parecem opor-se firmemente tanto à criação de emprego pelo subsídio ao consumo como à manutenção do pleno emprego. (...) Na depressão, ou pela pressão popular ou mesmo sem ela, o investimento público financiado por empréstimo será adotado para evitar o desemprego em larga escala. (Só não pode chegar no “pleno emprego”, adverte).
274 - Esse padrão de “ciclo econômico político” não é inteiramente conjectural; alguma coisa de muito parecido aconteceu nos Estados Unidos em 1937-38. A interrupção da prosperidade na segunda metade de 1937 deveu-se realmente à drástica redução do déficit orçamentário. De outro lado, na aguda recessão que se seguiu, o Governo prontamente reverteu à política de gastos.
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