Econ - Kalecki - Três Caminhos Para o Pleno Emprego II

(continuação...)

282 - … E se não sobe a produtividade no contexto acima? Aí só há mais três possíveis saídas, combinadas ou não, contra a inflação: a) a redução de investimento; b) redução do consumo dos não-assalariados e c) desemprego. Enfim, essa relação aumento dos salários e inflação depende bastante das demais variáveis.

283 - Afirma que a subida de juros da dívida pública resulta em meras redistribuições internas, não sendo tão nociva, assim, portanto, quanto à externa. (Isso seria um bom argumento se os ricos não mandassem bilhões ou mais em divisas para paraísos fiscais ou mesmo investimentos ou gastos no exterior todo ano. Desequilíbrio nas contas externas está sempre aí. Isso sem falar da possibilidade de aumento do consumo interno improdutivo numa economia muito financeirizada. Ademais, uns 10% ou mais da dívida interna é comprada por estrangeiros)

284 - Um argumento correto que dá é o de que a renda nacional pode crescer acima do juros tornando esse financiamento uma benção na verdade. Real, mas não é o que tem acontecido há décadas. Tem acontecido BEM o contrário.

285 - Estabilidade no pleno emprego: O investimento privado deve situar-se no nível adequado para expandir a capacidade do equipamento pari passu com o aumento da população trabalhadora e a produtividade do trabalho, isto é, proporcionalmente ao nível de produção de pleno emprego. Se o setor privado não estiver fazendo isso, defende que o Estado o faça, até criando estatais se for o caso.

286 - Volta a citar dificuldades dos estímulos monetários da vida: Conseguir uma redução apreciável na taxa de juros de longo prazo - que é relevante para influenciar o investimento é um processo um tanto lento. Além disso, o que é mais importante: há limites para a redução da taxa de juros de longo prazo, porque (em períodos longos) esta taxa sempre excede a taxa de curto prazo em certa margem, e a taxa de curto prazo não pode cair abaixo de zero.

287 - Quando o hiato é enorme, nem investimento público resolve, afirma: Mas o hiato a ser coberto por este dispêndio governamental pode ser tão grande que o investimento público logo se tornará inteiramente, ou quase inteiramente pelo menos, inútil. Em tal caso seria absurdo restringir o programa de gasto do governo ao investimento público, quando um padrão de vida mais elevado pode ser atingido destinando-se uma parte desse gasto ao aumento do consumo.

288 - Há um nível ótimo de investimento e perigo de que este passe do ponto. O risco do outro extremo da coisa. Na concepção ora considerada, o nível de investimento privado é levado até o ponto no qual cria demanda efetiva adequada para assegurar o pleno emprego. É claro que, se este nível exceder o necessário para expandir a capacidade produtiva proporcionalmente ao produto de pleno emprego haverá uma queda contínua do grau de utilização do equipamento e, portanto, uma elevação contínua da capacidade ociosa. Assim, uma parte do investimento privado será desperdiçada.

289 - ...Cairia, em casos assim, a taxa de lucro e talvez o investimento volta a nível até abaixo do necessário para o pleno emprego.

290 - Aqui estou com Kalecki, redução de taxa de juros nem sempre resultará em aumento da produtividade puxada pelo barateamento do investimento “capital-intensivo”: Assim, a redução da taxa de juros tenderia, teoricamente, a induzir mais o investimento de capital-intensivo, mas de forma alguma na extensão que freqüentemente se supõe. Na prática, mesmo esta influência é duvidosa. (Até porque, se passa do nível ótimo a proporção de “capital”, os custos com depreciação e coisas do tipo começam a subir e corroer a rentabilidade. Do contrário, a “robotização” de tudo já estaria bem mais avançada).

291 - Parênteses: Mostra-se favorável a políticas públicas de incentivo á melhoria da produtividade: Uma aceleração do aumento de produtividade pode ser obtida, entretanto, subsidiando-se a modernização do equipamento, por exemplo, fornecendo crédito barato para projetos submetidos à aprovação de um órgão governamental. Outra sugestão: Podem ser criadas empresas modernas de propriedade estatal, para forçar através da concorrência uma melhoria dos métodos de produção das firmas privadas.

292 - Por tudo isso, tanto o investimento público quanto o privado devem ser efetuados apenas na medida em que são considerados úteis. Se a demanda efetiva gerada dessa forma não leva à obtenção do pleno emprego, o hiato deve ser preenchido pelo aumento do consumo e não por uma indesejada acumulação de capital público ou privado.

293 - Coloca que o aumento de tributo pode não ser “depressivo” se o imposto de renda for direcionado a investimento público. A queda no consumo (IR maior) é compensada pelo aumento do consumo de bens de investimento por parte do governo. (Mas digamos que estes venham de importação. E aí?! Inicialmente será depressivo, a não ser que o consumo tributado sejam divisas que iam pra fora também...).

294 - Imposto de renda, a depender da destinação, pode servir também para aumentar a demanda: Em outras palavras: a redistribuição de renda das classes de mais alta para as de mais baixa renda aumenta a demanda efetiva.

295 - Controle de preços também pode gerar esse efeito de redistribuição. Diminui e mantém baixo o preço de bens de consumo e mantém constante o salário do trabalhador. O setor privado que lucre com aumento de produtividade…

296 - Algumas partes do texto me pareceram bem mal explicadas, como a dos impostos compensatórios para reduzir déficit orçamentários. Não seria mais simples dosar menor o estímulo original?

297 - Conclui: O dispêndio governamental em investimento público e em subsídios ao consumo popular, por meio do “gasto deficitário” ou financiado por um aumento do imposto de renda, é sempre capaz de assegurar o pleno emprego. Eu não diria isso. Por uma série de razões, sendo a principal a de que uma economia não é fechada e que o setor privado não é marionete. Sua via preferida e máxima de expansão desse investimento público e subsídios é o “imposto de renda”, que só não é elevado por razões políticas, afirma.

298 - No mais, vi outras discordâncias menores, mas deixei quieto.

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