Ilmar Rohloff de Mattos - O Tempo Saquerema (Apresentação e dois capítulos) I

 

FICHAMENTO não foi feito por mim


Ilmar Rohloff de Mattos - O Tempo Saquerema (Apresentação e dois capítulos)

 

 

Aqui uma outra versão, melhor de ler (eu achei), mas que só tem metade do texto:

 

http://www.edufrn.ufrn.br/bitstream/123456789/842/1/LUZIAS%20E%20SAQUAREMAS%3B%20LIBERDADES%20E%20HIERARQUIAS.%20%20O%20tempo%20saquarema.%20MATTOS%2C%20Ilmar%20R.%202004.pdf

 

Outra versão - acompanhei o capítulo III também por ela:

 

https://archive.org/stream/MATOSIlmar.OTempoSaquarema/MATOS%2C%20Ilmar.%20O%20tempo%20saquarema_djvu.txt

 

 

 

Apresentação

 

1 - Os que se pretendiam dirigentes da sociedade buscavam se servir de ideias e imagens dos países distantes tidos como civilizados. No mais, recorriam à força sempre que julgavam necessário restaurar a ordem tida como “justa”.

 

2 - Fugas e insurreições de escravos assustavam os brancos. Não havia agitação só nas cidades. No meio rural, especialmente entre os cafezais, se intensificaram as lutas pela posse da terra. Manuel Congo e Luiza Mahin simbolizavam o “inimigo inconciliável”.

 

3 - O livro-texto pretende demonstrar a constituição do Estado Imperial e da classe senhorial e como estes dois processos se ligam. Não são conceitos dados, mas sim uma construção historicamente determinada. Os “saquaremas” se forjam a si próprios como dirigentes, explica. A “intermediação do conceito do conceito de dirigentes saquaremas” é que relaciona esses processos.

 

4 - Mais que mero aparelho de repressão, o Estado imperial é o locus da direção intelectual e moral dos dirigentes saquaremas. Quem o são? Alta burocracia imperial - senadores, magistrados, bispos, ministros e conselheiros -; os proprietários rurais das mais diversas e afastadas regiões, mas que orientam suas ações pelo parâmetros fixados pelos dirigentes imperiais; e professores, médicos, jornalistas, literatos (...) que defendem e difundem a “ordem e civilização”.

 

5 - Trabalhará, o autor, com um conceito de classe mais ampliado que a mera localização de um conjunto de indivíduos no modo de produção: a natureza da classe e seus elementos de coesão - sua identidade, em suma — aparecem como resultados de experiências comuns vividas por determinados homens, experiências essas que lhes possibilitam sentir e identificar seus interesses como algo que lhes é comum, e dessa forma contrapor-se a outros grupos de homens cujos interesses são diferentes e mesmo antagônicos aos seus, conforme nos ensina E. P. Thompson.

 

6 - Pretende expor o texto como uma “espécie de aula animada”.

 

7 - No mais explica cada um dos capítulos do trabalho e faz agradecimentos. Um galo só não tece a manhã.

 

 

II - Luzias e Saquaremas; Liberdade e Hierarquias

 

8 - Ilmar opõe-se à visão de Oliveira Viana, para quem pouco ou nada de diferente havia entre os partidos do Segundo Reinado. Havia um dito comum da época: “nada tão parecido com um saquarema como um luzia no poder”.

 

9 - A denominação “luzias” seria referência direta à vitória conservadora (forças do Barão de Caxias) no “combate de Santa Luzia”. Derrotados, os liberais mineiros passaram a ser chamados pelos adversários pelo nome do local: santa-luzias ou apenas luzias. Tal confronto se insere num contexto maior que envolveu movimentos liberais, em 1842, em diversas províncias. Mais detalhes: Conta-se, a propósito deíes, que foram tramados na Corte pelos componentes do Clube dos Patriarcas Invisíveis, os quais embora tivessem pretensão de unir as forças liberais de três províncias, além de alguns setores da província fluminense, acabaram por optar pela deflagração do movimento na província de São Paulo, por sua proximidade com o Rio Grande do Sul, havia muito conflagrado pelos farrapos.

 

10 - Os liberais queriam uma distribuição mais equilibrada do aparelho de Estado pelo território imperial. Era supostamente uma defesa da descentralização e da democracia. Ilmar aponta, porém, a ausência de uma unidade de ação, em termos de política geral do Império. Havia entre eles divergências e particularismos. Foram acusados, mais tarde, de intentarem destruir a independência e integridade do Império através de rebelião. No dizer do ministro da Justiça, bisavô de Moro, queriam que a “vontade nacional” se curvasse a interesses “provinciais”.

 

11 - … No fim das contas, a repressão não foi tão grande quanto prometida e houve anistia dois anos depois. O autor lembra o dizer “as leis criminais fizeram-se para os pobres”.

 

12 - Quanto ao apelido “saquarema”, nasceu de um evento envolvendo eleições na “vila de Saquarema”. Um padre, que era subdelegado, teria autorizado até assassínio de eleitor que recusasse as listas do governo (liberal). Porém, chefes conservadores de grande clientela nessa localidade, onde eram também proprietários, livravam seus protegidos, que passariam a ser chamados “saquarema”, dos desmandos da autoridade surtada em questão. Logo, o apelido depreciativo (eis que dava a entender que a pessoa era favorecida-protegida) se espalhou por todo aquele ligado ao Partido Conservador.

 

13 - ...Servia especialmente para os conservadores fluminenses, que  tendiam a se apresentar organizados e a ser dirigidos pela "trindade saquarema": Rodrigues Torres, futuro Visconde de Itaboraí, Paulino José Soares de Sousa, futuro Visconde do Uruguai, e Eusébio de Queirós. (...) Efetivando muitas das proposições "regressistas" de Vasconcelos, tendo a seu lado a figura ímpar de Honório Hermeto Carneiro Leão, e contando com apoio de José da Costa Carvalho na província paulista, a "trindade saquarema" constituiria o núcleo do grupo que deu forma e expressão à força que, entre os últimos anos do Período Regencial e o renascer liberal dos anos sessenta, não só alterou os rumos da "Ação", mas sobretudo imprimiu o tom e definiu o conteúdo do Estado imperial.

 

(continua...)

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