Filosofia - Textos Diversos XVIII - Entrevista com Zigmunt Bauman
Entrevista com Zigmunt
Bauman:
311 - Bauman é um dos
líderes da chamada "sociologia humanística". Há uma defesa vaga de um
tipo de socialismo vago. Ele rejeita a alcunha de profeta da pós-modernidade.
Pela descrição da vida pessoal, parece um velhinho muito gente boa. É de 2002 a
entrevista, parece.
312 - Diz que, no seu
tempo, a salvação pela sociedade era um anseio normal. Infelizmente, o que se ouve agora, como homilias insistentes, é que
devemos buscar soluções individuais para problemas produzidos socialmente e
sofridos coletivamente.
313 - Sociologia não pode
ser uma engenharia a serviço do poder: O
livro de sociologia mais influente da época, The structure of social action, de
Talcott Parsons, declarava exatamente seu propósito de desvendar os segredos do
comportamento humano e de torná-lo previsível, não obstante ser um fato
inquestionável que os atos humanos são voluntários; em outras palavras,
alardeava a possibilidade de "neutralizar" os efeitos potencialmente
perturbadores da escolha livre inata dos seres humanos, escolha danosa e
abominável do ponto de vista dos construtores e guardiães da ordem. Esse tipo
de sociologia prometia ser uma ciência da não-liberdade a serviço da tecnologia
da não-liberdade... algo na mesma linha do que disse recentemente William
Kristol em apoio às intenções dos dirigentes americanos de remodelar a ordem
social das pátrias de outras pessoas, desta vez em escala planetária:
"Bem, o que há de errado com o domínio, desde que a serviço de bons
princípios e altos ideais?
314 - A extensão planetária da televisão não nos
permite mais dizer "eu não sabia" como desculpa para nossa inação.
Contemplamos diariamente como se faz o mal, como se sofre a dor, e dizer que
nada podemos fazer pelo outro é uma desculpa fraca e pouco convincente, até
mesmo para nós próprios. Não há como negar que em nosso planeta abarrotado e
intercomunicado dependemos todos uns dos outros e somos, num grau difícil de
precisar, responsáveis pela situação dos demais; enfim, que o que se faz em uma
parte do planeta tem um alcance global. Ele diz meio que “foda-se se isso
for considerado moralismo… É a verdade”.
315 - Por
exemplo, o único tipo de conhecimento pelo qual Tony Blair se interessa é
aquele que lhe diz qual movimento deve ser feito para ser mais popular. Outras
coisas, como o bem da sociedade, não lhe interessam muito.
316 - Reclama que a
universidade virou avaliar trabalhos e pensar na próxima promoção: Como se queixam muitos sociólogos
americanos, e também alguns europeus, os estudos sociais acadêmicos perderam a
ligação com a agenda pública. Parece haver poucos fregueses, se é que algum,
para os modelos de "boa sociedade", o que costumava ser a preocupação
central e o forte da sociologia com inclinações humanísticas. As classes
educadas não estão mais interessadas na tarefa de ilustração e de elevação
espiritual do povo. Os intelectuais pararam em grande parte de se definir pela
responsabilidade que têm para com "o povo", a nação e a humanidade.
317 - Lévinas foi uma
influência que veio depois de seu marxismo: Nascido
na Lituânia em 1906 e naturalizado francês, foi um filósofo que fez da
responsabilidade ética para com os outros o ponto de partida e o foco principal
de suas análises filosóficas. "A Ética precede a ontologia" é uma
frase que sintetiza sua posição.
318 - Socialismo para mim não é o nome de um tipo particular de sociedade.
É, exatamente como o postulado de Marx de justiça social, uma dor aguda e
constante de consciência que nos impulsiona a corrigir ou a remover variedades
sucessivas de injustiça. Socialismo é a qualidade de vida dos membros mais
fracos de uma sociedade, define.
319 - Camus o influenciou
e também era outro que dizia não se importar com os “ismos”. Faz a seguinte
crítica aos marxistas: A servidão, disse
Camus, era a verdadeira paixão do século XX. Amedrontado por sua impotência, o
rebelde histórico correu em busca de proteção, procurando desesperadamente uma
nova autoridade que aceitasse sua rendição. E isso ele encontrou nas "leis
da história", que inevitavelmente aliviam os ombros doloridos do peso da
escolha responsável, e também nos absolvem do mais angustioso dos deveres — o
da subjetividade: daquele cuidado pelo Outro no qual o Eu, o sujeito que está
sozinho mas que não é solitário, que se auto-guia mas não está abandonado,
nasce. Finalmente, as leis da história oferecem a fuga mais eficaz da culpa de
crueldade ao fazer a inevitabilidade histórica do progresso tomar o lugar da
distinção entre o bem e o mal.
(continua...)
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