Filosofia - Textos Diversos IX - David Hume e a Questão Básica da Crítica da Razão Prática
David Hume e a Questão
Básica da Crítica da Razão Prática, por Eduardo Chaves:
188 - Se… ações são boas, porém, somente como meios
para um certo fim, e as máximas que as dirigem não devem ser chamadas de leis,
pois são somente preceitos práticos e razoáveis".
189 - Para Kant, o dever
precede e determina a bondade de uma ação. Já a ética de Hume é o contrário e,
por isso, ele não vê como algo racional. O bem é sempre instrumental ou
relativo. Porém, o “correto” não (para Kant).
190 - Bonitas naturalis tem a ver com o bem
que busca a felicidade e harmonia. Contudo,
há, além da bonitas naturalis, um bem que é ainda mais elevado: o bem moral, a
bonitas moralis, que é o bem absoluto, ou o bem que não leva em consideração
desejos ou inclinações, o bem que não é instrumental a algum outro tipo de
propósito, mas é intrinsicamente bom. A razão que a visa não tem a ver com
meios ou instrumentos. Ou seja, é a razão pura. Daí o imperativo categórico.
191 - Hume diz que há os
que consideram que a virtude vem da razão. Ideias morais inscritas na razão de
todos. Na segunda Investigação Hume
menciona que "a razão, sendo fria e desengajada" não é motivadora de
ação (IPM, p. 112) (17). Colocando isto em terminologia Kantiana, Hume está
convencido de que a razão pura não pode ser prática, e que, por tanto, as
regras da moralidade não podem ser conclusões de nossa razão (TNH, III:i:1)
192 - Hume observa, "é evidente que neste
caso o impulso (para a ação) não parte da razão, mas é apenas dirigido por
ela" (TNH, II:iii:3). O que isto quer dizer é que certos objetos nos
oferecem o prospecto de dor ou prazer, o qual produz em nós um sentimento
correspondente de aversão ou propensão. Na medida em que a razão empírica
descobre que estes objetos estão causalmente relacionados a outros objetos, nós
também teremos sentimentos correspondentes para com eles. Mas a razão é somente
capaz de descobrir estas relações causais - ela não é capaz de afetar-nos
diretamente, criando as emoções de aversão ou propensão (TNH, II:iii:3). O que
isto significa é que Hume não exclui toda e qualquer participação da razão
empírica em nossos juízos morais.
193 - Para Hume não há
combate entre paixão e razão. O combate é entre paixões contrárias.
194 - … O que podemos concluir destas passagens é
que Hume, como Kant, também está interessado em explicar porque é que, não
infreqüentemente, pessoas agem contra os seus próprios interesses. A diferença
entre Hume e Kant é que Hume não acredita ser necessário introduzir aqui a lei
moral e a razão prática pura para explicar este fenômeno. Frequentemente suprimimos nossos interesses imediatos em favor de interesses mais remotos,
mais isto não é tudo - este ponto de vista até os defensores do egoísmo ético
avançavam.
195 - Para responder a Hume, Kant tem que mostrar
que a razão pura pode ser prática, i.e., que ela pode diretamente influenciar a
vontade e mover-nos a agir.
196 - Lei da razão
prática pura: "aja de tal modo que a
máxima que governa a sua vontade possa sempre ser mantida, ao mesmo tempo, com
um princípio estabelecedor de uma lei universal”. È tipo aquela mentira,
boa pra gente, que a gente não conta pra não se odiar pelo prejuízo alheio,
ainda que leve.
197 - … O dualismo que jaz ao fundo da teoria ética
de Kant. O homem é um "ser sensual", que, como tal, pertence ao mundo
natural. Mas ele tem, também, um "propósito mais elevado", e, quando
visto do ângulo deste propósito, o homem pertence ao "mundo
inteligível", no qual ele é governado pela razão pura, e não por seus
desejos e interesses sensuais, um mundo no qual ele é livre, e não determinado
pelos eventos do seu passado ou do seu meio ambiente. Por amor à simplicidade,
designemos estas duas dimensões como "natureza" e "razão".
(…) No que diz respeito à sua dimensão natural, o homem está preocupado com a
felicidade, i.e., com a satisfação de seus desejos e de suas inclinações. No
que diz respeito à sua dimensão racional, porém, o homem está preocupado com a
virtude, i.e., com o ser digno da felicidade, algo que ele só pode conseguir
pela obediência à lei moral.No que diz respeito à sua dimensão natural, o homem
está preocupado com a felicidade, i.e., com a satisfação de seus desejos e de
suas inclinações. No que diz respeito à sua dimensão racional, porém, o homem
está preocupado com a virtude, i.e., com o ser digno da felicidade, algo que
ele só pode conseguir pela obediência à lei moral.
198 - Kant cita o exemplo
da pessoa que quer que tudo e seus semelhantes se explodam e mesmo assim é
capaz de uma boa ação, só pelo motivo de que é o correto. Essa razão não é
escrava, mas sim a mestra das paixões. Não só essa ação é possível como, em
Kant, isso explica o que é a liberdade e como podemos concebê-la. Não somos
escravos dos sentidos. Se não existe razão prática puro, então não existe
liberdade.
199 - O texto conclui que
a moral de Kant é superior a lógica do que ele propõe. Isso porque não temos
como provar que somos de fato livres e se não é o instinto condicionando cada
decisão.
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