Kant, Immanuel - Que é o iluminismo? (1784)
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FICHAMENTO
TEXTO
Resposta à pergunta: Que é o iluminismo? (1784). Kant, Immanuel.
1 - Kant, utilizando o axioma latino “sapere aude!” - numa das traduções possíveis: “ouse conhecer” -,
provoca o ser humano a abandonar sua “menoridade” a fim de se guiar por seus
próprios entendimentos. Seria, assim, a “palavra
de ordem” do Iluminismo (p. 1). Exceção
feita apenas aos que apresentassem dificuldades de entendimento.
2 - Culpa a preguiça e covardia pelo comportamento passivo de grande
parte dos homens, que acabam sendo “tutelados” por outros. “Se eu tiver um livro que tem entendimento por mim, um director
espiritual que em vez de mim tem consciência moral, um médico que por mim
decide da dieta, etc., então não preciso de eu próprio me esforçar. (...) É,
pois, difícil a cada homem desprender-se da menoridade que para ele se tomou
quase uma natureza. Até lhe ganhou amor e é por agora realmente incapaz de se
servir do seu próprio entendimento, porque nunca se lhe permitiu fazer
semelhante tentativa.” (p. 1-2).
3 - Os tutores/domesticadores teriam o cuidado de embrutecer seus
“animais domésticos” e estarem sempre alertando para o perigo e dificuldade que
seria, para o domesticado, “andar sozinho”. “Preceitos, fórmulas e instrumentos mecânicos de uso racional”
passam a ser fontes de temor. (p. 2).
4 - Trata-se de um processo lento, a ilustração. Kant vai colocar que
uma reforma do modo de pensar é algo mais complexo, por exemplo, que a
destituição de um déspota. “Novos
preconceitos, justamente como os antigos, servirão de rédeas à grande massa
destituída de pensamento”. (p. 2).
5 - Passo seguinte, Kant pondera que a obediência às leis, ordens e
hierarquias, mesmo no “uso privado da
razão” (p. 3), não é empecilho à liberdade
de crítica e manifestação de entendimentos contrários por parte de um erudito.
Por exemplo, a obrigação de pagar tributo não impede que se faça juízo de valor
ou se defenda propostas referentes à sua cobrança.
6 - Contrapondo-se ao “uso privado da razão”, há o “uso público” da
mesma. Kant assim a exemplifica: “(...)
como erudito que, mediante escritos, fala a um público genuíno, a saber, ao
mundo, por conseguinte, o clérigo, no uso público da sua razão, goza de uma
liberdade ilimitada de se servir da própria razão e de falar em seu nome
próprio” (p. 4).
7 - Proibir a ilustração, inclusive vinculando gerações vindouras, é,
para o filósofo alemão, um verdadeiro “crime
contra a natureza humana” (p. 5). já que a
determinação original da mesma seria justamente o contínuo avanço do
conhecimento construído autonomamente. Assim, nem monarcas e nem mesmo o povo
poderia criar leis proibindo a ilustração.
8 - Kant alerta para o fato de que o avanço da ilustração ainda estava
no seu início, não considerando sua época como uma “época esclarecida”, mas de
esclarecimento. As condições para tanto ainda estavam sendo criadas
gradualmente. Nesse sentido, tece grande elogio a Frederico, da Prússia: “Um príncipe que não acha indigno de si dizer
que tem por dever nada prescrever aos homens em matéria de religião, mas deixar-lhes
aí a plena liberdade, que, por conseguinte, recusa o arrogante nome de tolerância,
é efectivamente esclarecido e merece ser encomiado pelo mundo grato e pela
posteridade como aquele que, pela primeira vez, libertou o gênero humano da
menoridade, pelo menos por parte do governo, e concedeu a cada qual a liberdade
de se servir da própria razão em tudo o que é assunto da consciência.” (p. 6)
9 - Sobretudo nas temáticas religiosas, um dos alvos preferidos da
interferência governamental à época, era louvável que se permitisse ao súdito o
uso público da sua própria razão, vai afirmar Kant, para quem, “a tutela religiosa, além de ser mais
prejudicial, é também a mais desonrosa de todas” (p. 7).
10 - As preocupações de Kant no texto se relacionam claramente ao
período em que estava vivendo, já que o iluminismo prussiano se desenvolveu concomitantemente
a teses do livre exame da Reforma, num ambiente de tolerância religiosa que não
era realidade em países vizinhos.
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