Filosofia - Textos Diversos II (Althusser)


Althusser - Como Ler O Capital:

30 - Texto de 1980. Diz que é um livro de teoria pura e não de história concreta.

31 - Ele faz alguns conselhos práticos de leitura que devem ser bem contestáveis, eis que invertem algumas ordens de Marx.

32 - Uma palavra sobre as "horas suplementares". Segundo os horários, elas são pagas a 25h, 50h e mesmo 100h acima da tarifadas "horas normais". Aparentemente, elas parecem "custar caro" ao patronato. Na realidade, elas são vantajosas para ele. Porque permitem aos capitalistas fazer funcionar até 24 horas sobre 24 horas máquinas muito caras, que é necessário amortizar o mais depressa possível, antes que sejam superadas por novas máquinas ainda mais eficazes, que a tecnologia moderna lança sem cessar no mercado.

33 - A luta de classes política, ao contrário da econômica, é a única ofensiva. Uma luta de classes política englobando a luta econômica, é a luta dos militantes revolucionários, a luta pela revolução socialista.

34 - Otimista todo, coitado: “Se desejamos ler O Capital, ler Lênin (e particularmente- "algumas conclusões" que terminam a Doença Infantil, quando falam diretamente das condições da Revolução Socialista nos países capitalistas ocidentais) saberemos tirar a lição e concluir que numerosos dentre nós verão em nossa vida mesmo, a Revolução em nosso próprio país.”

 

Althusser - O Marxismo Como Teoria Finita:

35 - Texto de 1977.

36 - Particularidades do pensamento de Althusser: Tão logo se liberta dos tons proféticos dos seus escritos de juventude e do socialismo utópico (que, diga-se de passagem, ainda permanecem, de certo modo, em O capital), Marx pensa o comunismo como uma tendência da sociedade capitalista.

37 - Explica que existiam tendências capitalistas (trocas mercantis, por exemplo) já nos modos de produção anteriores também.

38 - Teoria finita? Quer dizer que Marx não quer prever todo o curso da história, pretendendo apenas analisar as contradições e tendências do capitalismo para atestar a possibilidade do modo de produção seguinte.

39 - Afirma que Lênin e Gramsci querem dar uma dimensão “total” ao marxismo que não é bem assim.

40 - Nova crítica a Gramsci quando este trata dos supostos pontos cegos do marxismo: Parece-me que Gramsci, malgrado o seu profundo senso da história, obscurece mais do que ilumina este ponto cego que há em Marx, quando recupera a velha distinção burguesa entre sociedade política e sociedade civil, mesmo se ele dá um outro sentido à noção de sociedade civil (organizações "hegemônicas" privadas, portanto, fora da "esfera do Estado" que é identificada com a "sociedade política", o que implica em apoiar-se de novo na distinção jurídica entre "público" e "privado").

41 - Além da crítica da economia política, afirma ser necessária a crítica da política, da tendência da burguesia de separar o Estado do restante da sociedade. O Estado sempre penetrou a sociedade civil com seus aparelhos ideológicos. (Não apenas o dinheiro e o direito).

42 - A política não é a conquista do Estado, embora esta seja objetivo último da luta de classes segundo Althusser.

43 - Afirma que o Estado sempre foi ampliado. Não é algo recente. (Isso me parece um diferencial em relação a Gramsci).

44 - Critica que a política seja entendida segundo as categorias jurídicas produzidas pela ideologia burguesa. Esboça-se, atualmente, uma tendência importante de despojar a política de seu estatuto jurídico burguês. A velha distinção partido/sindicato é submetida a uma dura prova, iniciativas políticas totalmente imprevistas nascem fora dos partidos e do próprio movimento operário (feminismo, formas do movimento juvenil, correntes ecológicas, etc.), em uma grande confusão, é verdade, mas que pode ser fecunda.

45 - … E, naturalmente, todo esse movimento acaba por colocar em causa a forma de organização do próprio partido, o qual percebemos (um pouco tarde!) que é construído exatamente sobre o modelo do aparelho político burguês (com o seu "Parlamento" que discute, a base dos militantes e uma direção "eleita" que, aconteça o que acontecer, tem os meios de se manter em seus cargos e de assegurar, através do aparelho de funcionários e em nome da ideologia da unidade do partido, que sanciona o seu consenso, o predomínio de sua "linha". É evidente que esta profunda contaminação da concepção da política pela ideologia burguesa é o ponto em torno do qual se jogará (ou se perderá) o futuro das organizações operárias.

46 - A fórmula “partido que se torna Estado” só pode gerar algo como a URSS, critica Althusser, atribuindo essa máxima aí entre aspas a Gramsci e sua teoria do “príncipe moderno”. O partido deve ser um instrumento de desaparecimento do Estado (e seus aparelhos) e estar desvinculado inclusive do Estado proletário. Arrancar o partido do Estado e seus aparelhos e dá-lo às massas. Afirma que foi a tentativa de Mao na revolução cultural e que Marx e Lênin defendiam isso.

47 -  O comunismo, em Marx. seria o inverso do fetichismo, afirma. Sem alienações, portanto, Althusser crê, porém, que haverá política e relações sociais no comunismo, mesmo não havendo Estado. Portanto, não será um reino da transparência total. (Não explica muito isso). Pensar o contrário seria não combater os restos de idealismo em Marx…

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