Filosofia - Textos Diversos IV
(continua...)
60 - Era a necessidade de análise concreta da situação concreta.
61 - A concretude da situação é dada pela especificidade de um momento histórico determinado. O que Lenin exige aqui é que cada situação seja tomada em sua particularidade. “Momento atual”, “momento presente”, “situação imediata” e “situação específica” são alguns dos sinônimos utilizados por Lenin ao longo de sua obra para expressar essa “situação concreta” (cf. p. ex. CW, v. 10, p. 112-119 e v. 15, p. 321-324.). Por meio deles era ressaltado o caráter único de uma situação da qual o sujeito do conhecimento – para Lenin, o partido – é também parte daquilo que deve ser conhecido.
62 - Como “síntese de múltiplas determinações”, a situação concreta assume, em dado momento, um caráter singular que precisa ser enfatizado. Suas determinações somente tornam-se inteligíveis quando ressaltada sua condição histórica. O concreto não é a coisa de estar disponível aos sentidos - ou seja, a aparência -, mas a atualidade da questão. Se está posta ou não. É necessário ir, na verdade, bem além dos sentidos.
63 - As duas condições: A análise da situação era, assim, o pré-requisito de uma ação planejada com o objetivo de superar o presente na medida em que permitia identificar de modo preciso aquelas configurações objetivas, ou seja, independentes da vontade do partido (mas não de sua ação), nas quais “a base não queira mais viver como antes” e “a cúpula não o possa mais”, como afirma em A falência da Segunda Internacional (CW, v. 21, p. 213-214).
64 - Não era mera questão de vontade: ““O marxismo exige de nós que tenhamos em conta do modo mais preciso e objetivamente verificável a correlação das classes e as particularidades concretas de cada situação histórica.”
65 - Lênin pensando nos mínimos detalhes os elementos da dialética: “Os elementos da dialética: (1) a objetividade da observação (não exemplos, não desvios, mas a coisa em si própria); (2) toda a soma das variadas relações desta coisa com as outras; (3) o desenvolvimento desta coisa (respective [ou] do fenômeno), o seu próprio movimento, a sua própria vida; (4) as tendências (e diferentes aspectos) internamente contraditórias nesta coisa; (5) a coisa (o fenômeno etc.) como soma e unidade dos opostos; (6) luta respective [ou], o desenvolvimento destes opostos, impulsos contraditórios etc.; 7) união da análise e da síntese – a decomposição em partes isoladas e a soma, a adição destas partes; (8) as relações de cada coisa (fenômeno etc.) não só são variadas mas gerais, universais. Cada coisa, (fenômeno, processo etc.) está ligada com as demais; (9) não só unidade dos opostos, mas transição de cada determinação, qualidade, traço, aspecto, propriedade, para cada outro; (10) processo infinito de descoberta de novos aspectos, relações etc.; (11) processo infinito de aprofundamento do conhecimento pelo homem da coisa, dos fenômenos, dos processos etc., dos fenômenos à essência e de uma essência menos profunda a uma essência mais profunda; (12) da coexistência à causalidade e de uma forma de conexão e interdependência a outra, mais profunda, mais geral; (13) repetição num estádio superior de certos traços, propriedades etc. de um inferior e (14) aparente regresso ao velho (negação da negação); (15) luta do conteúdo com a forma e inversamente. Rechaçar das formas, refazer do conteúdo; (16) transição da quantidade pra a qualidade e vice-versa (15 e 16 são exemplos de 9).” (CW, v. 38, p.221-222.).
66 - Plekhanov e, até mesmo, Engels eram censurados por Lenin devido à pouca atenção que deram a esta questão. É a contradição imanente existente em “todos os fenômenos e processos da natureza (incluindo também o espírito e a sociedade)” (CW, v. 38, p. 360) que constitui a fonte do desenvolvimento da totalidade.
67 - Conclui afirmando que a leitura da Lógica de Hegel em 1914 certamente mudou as ferramentas de análise de Lênin e como ele compreendia o materialismo dialético. Isso teria influenciado sua análise da falência da II Internacional, por exemplo.
André Luiz - História em
Foucault e Weber:
68 - Colocar que ambos
são tributários de Nietzsche na recusa a um sentido universal da História. Vai
dizer que Weber rejeita a evolução tanto no seu sentido dialético quanto no organológico.
O capitalismo podia ou não aparecer no mundo, por exemplo. Nem a racionalização
no ocidente pode ser, em Weber, o sentido da História.
69 - Podemos então dizer que, em Weber, a razão ocidental teve seu
nascimento a partir do desrazoável, para isso ele se deterá em compreender como
se deu a racionalização das condutas a partir de elementos não racionais como
por exemplo o ascetismo intramundano calvinista.
70 - Os tipos ideais,
como Weber os explicita em sua obra, são uma forma de ordenamento do caos
empírico, pois, a realidade que compõe este caos é muito mais rica que esses
conceitos, que terminam por encapsulá-la, mas mesmo esse paradoxo insuperável
requer que se compreenda como os conceitos são inventados pelo pesquisador.
(...) Como já foi anteriormente
mencionado a noção de tipo ideal em Weber não resulta de um conhecimento
científico necessário, que justificaria conhecer o mundo. Antes, porém, o tipo
é o resultado de uma incompatibilidade entre o conceito e o mundo, daí ser
possível verificar a necessidade que o tipo apresenta de estar a todo o momento
sendo inquirido sobre sua validade.
71 - Afirma que Nietzsche
quer praticamente o mesmo: “Pensemos
ainda na formação dos conceitos. Toda a palavra torna-se logo conceito quando
não deve servir, como recordação, para a vivência primitiva, completamente
individualizada e única à qual deve seu surgimento, mas ao mesmo tempo tem de
convir a um sem-número de casos, mais ou menos semelhantes, isto é, tomados
rigorosamente, nunca iguais, portanto, a casos claramente desiguais. Todo
conceito nasce por igualação do não-igual”. (NIETZSCHE: 2000 p.56).
72 - Sempre vejo como
Nietzsche pode ter sido o pai do relativismo. Não que ele esteja errado quando
cogite que o reino do acaso (e sem sentido?) possa, com seus tijolos, sempre
desesperar o reino dos fins e da vontade - talvez um mero reino irreal
criado/imaginado por nós - , mas… e daí?! Só podemos tentar. Conseguimos domar
várias coisas. Enfim, reflexões filosóficas rasas de um ex-relativista feitas (eu).
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