Filosofia - Textos Diversos VI
Bertrand Russell - Dúvidas
Filosóficas:
148 - A
ciência tenta agrupar fatos por meio de leis científicas; estas leis, mais que
os fatos originais, são a matéria-prima da filosofia.
149 - A ciência e esse
povo meio sofista. Ou… sempre dá para relativizar tudo. Dá pra confiar em nossa
memória?: Oponentes de Darwin, tais como o pai de Edmund Gosse, levantaram
argumento bem parecido contra a evolução. 0 mundo, disseram, foi criado em 4004
a.C., com fósseis introduzidos para tentar nossa fé. 0 mundo foi criado de
repente, mas de tal maneira como se fruto de longa evolução. Não há
impossibilidade lógica a esta opinião. E, igualmente, não há impossibilidade
lógica à opinião segundo a qual o mundo foi criado cinco minutos atrás, cheio
de memórias e registros. Talvez pareça uma hipótese improvável, mas não
refutável logicamente.
150 - E a memória que abrange longo período de
tempo está muito propensa a erro, segundo demonstrado pelos equívocos
invariavelmente descobertos em autobiografias. Quem reler cartas que escreveu
muitos anos atrás verificará a maneira coma sua memória falsificou
acontecimentos pretéritos. Por estes motivos, o fato de não podermos nos
libertar da dependência da memória para construir o conhecimento é, prima
facie, uma razão para considerar o que chamamos de conhecimento como algo
incerto.
151 - … Descartes
acreditava que os animais não têm espírito, não passando de complicados
autômatos. Os materialistas do século XVIII estenderam esta doutrina aos
homens.
152 - Quando queremos
conhecer/apreender algo externo a nós pode ser um objeto material ou uma ideia
(a filosofia, por exemplo). Neste segundo caso, chamamos de introspecção.
Porém, Russel alerta que ambos os casos são incertos. A realidade do objeto e o
acerto da reflexão. Nada garante que nossas palavras estejam significando a
mesma coisa para a outra pessoa.
153 - ...Não há, por exemplo, uma definição exata e perfeitamente
completo do que seja uma cadeira. Quando
digo que há "inferências" envolvidas, estou dizendo uma coisa não
suficientemente precisa, a menos que fosse cuidadosamente interpretada.
154 - A indução propõe talvez o mais difícil problema em toda a teoria do
conhecimento. Toda lei científica é estabelecida por seu intermédio, e no
entanto é difícil ver porque a julgaríamos um processo lógico válido. A
indução, em seu fundamento, consiste do seguinte argumento : já que A e B têm
sido encontrados juntos muitas vezes, e jamais separados, quando A for
encontrado outra vez, B provavelmente o será também. Isto ocorre, primeiro,
como "inferência fisiológica", e como tal é praticado por animais.
Quando começamos a refletir, nós nos descobrimos a fazer induções no sentido
fisiológico; por exemplo, à espera de que o alimento que vemos possua um certo
gosto. Com freqüência: só nos damos conta dessa expectativa quando ela nos
desaponta., isto é, se provamos sal julgando ser açúcar. Ao abraçar a ciência,
a humanidade tentou formular princípios lógicos justificadores desse gênero de
inferência. Discutirei tais tentativas em capítulos posteriores; agora, direi
apenas que elas me parecem assaz infrutíferas. Estou convencido de que a
indução deve ter alguma validade, até certo grau, mas o problema de mostrar
como ou por que ela pode ser válida continua insolúvel. Enquanto isso não for
resolvido, o homem racional duvidará se o alimento o nutrirá, e se o Sol se
erguerá amanhã. Não sou um homem racional nesse sentido, mas, neste momento,
pretenderia ser. E mesmo que não possamos ser completamente racionais, faríamos
o possível, sem dúvida alguma, para sermos mais racionais do que somos. Na pior
das hipóteses seria uma aventura interessante ver até onde a razão nos conduzirá.
155 - Trata-se de saber o
que é conhecer antes de sabermos o que conhecemos.
156 - In Russell, B.
(1977): Fundamentos de Filosofia, Rio de Janeiro: Zahar, pgs. 7-20.
Cartas de Adorno e
Marcuse:
157 - Carta de 05 de maio
de 1969. Adorno se defende da acusação de que não deveria ter chamado a polícia
para proteger o Instituto de Frankfurt das ocupações. Afirma que tudo seria
pichado ou prejudicado e haveria corte de verbas. Coloca que os estudantes
estavam num praticismo monótono e brutal. Esculhamba os estudantes: Parece-me igualmente inquestionável que
atitudes como as que tive de observar e de cuja descrição poupo, a ti e a mim,
possuem realmente algo daquela violência sem conceito que uma vez pertenceu ao
fascismo.
158 - Resposta de
Marcuse: Sabes que concordamos na recusa
de qualquer politização imediata da teoria. Mas a nossa (velha) teoria tem um
conteúdo político interno, uma dinâmica política interna que hoje, mais do que
nunca, exige uma posição política concreta.
159 - Quanto ao papo de
Adorno de que os vietcongues também torturam: “...E, de qualquer modo, parece-me desumano que não se deva protestar
contra o inferno do imperialismo sem ao mesmo tempo acusar aqueles que,
desesperados, se defendem por todos os meios contra esse inferno. Como
princípio metódico, transforma-se imediatamente em justificação e desculpa do
agressor”.
160 - Passemos ao "fascismo de
esquerda": não esqueci evidentemente que há "contradictiones"
dialéticas -mas também não esqueci que nem todas as "contradictiones"
são dialéticas-, muitas são simplesmente falsas. A esquerda (autêntica) não
pode, "em virtude de suas antinomias imanentes", transformar-se na
direita, sem mudar essencialmente sua base social e seu objetivo. No movimento
estudantil nada indica uma mudança desse tipo.
161 - “Afetuosamente teu”. Engraçado como eles
se despedem. Parece dramático.
.
Comentários
Postar um comentário