Filosofia - Textos Diversos XII

 

Diálogo Entre Foucault e o Marxismo:

236- Althusser foi professor de Foucault e considerava que a ideologia não necessariamente era determinada pela base econômica (e há toda uma discussão, acrescento, sobre se foi bem isso que Marx quis dizer ou não), bem como mudanças econômicas podem não mudar a ideologia. Ocorre que ele defende essa independência da ideologia, segundo o autor, também por um conceito um tanto quanto diferente da coisa: Em outras palavras, a ideologia é formada para Althusser (1980) pelos valores e idéias considerados como sendo naturais na sociedade, apesar de não o serem, ou seja, ideologia é uma representação imaginária das relações humanas com suas condições reais.

237 - Althusser: Lembremos que na teoria marxista, o Aparelho de Estado (AE) compreende o Governo, a Administração, o Exército, a Polícia, os Tribunais, as Prisões, etc., que constituem aquilo a que chamaremos a partir de agora o Aparelho repressivo de Estado. Os aparelhos ideológicos não teriam essa função.

238 - O Estado precisa exercer a hegemonia em todos esses: o AIE religioso (diversas igrejas existentes), o AIE escolar (escolas públicas e particulares), o AIE familiar, o AIE jurídico, o AIE político, o AIE sindical, o AIE da informação (imprensa, televisão, etc.) e o AIE cultural composto pelas atividades artísticas e desportivas (Althusser, 1980).

239 - A ideologia harmoniza o aparelho repressor com o aparelho ideológico.

240 - Exemplo: Assim, a escola foi configurada como sendo um meio neutro e desprovido de qualquer ideologia, em que seus mestres seriam respeitadores da consciência e da liberdade dos alunos que lhe são confiados pelos pais, de forma a produzir nas crianças a moralidade e a responsabilidade dos adultos, reproduzindo assim de forma sutil as relações de produção vigentes em uma determinada sociedade

241 - Foucault:  não existe uma dualidade entre uma classe social que seria dominante e que, por sua vez, deteria o poder, e uma classe social dominada. O poder para o autor é uma prática social constituída historicamente. (...) não sendo o exercício do poder algo que aconteça em uma só direção, ou seja, o poder não é um fluxo que parte dos dominantes para os dominados, pois onde há poder há resistência. (Qual a lógica disso, meu Deus?! Poder não só existe como é às vezes é bem quantificado, Foucault. Eu posso fazer muito mais coisas que uma pessoa na sarjeta. Eu posso inclusive ficar na sarjeta se eu quiser. Tenho muito mais poderes de escolha. Resistência é sim contra-poder. Quando o direito diz que um branco pode coisa x e o negro não pode, a resistência dele será tratada no cassetete enquanto os brancos têm tempo livre para adquirir mais poder ainda)

242 - Conscientização: Para Foucault (1979) cabe aos sujeitos encontrar, por si próprios, o projeto, as táticas e os alvos que necessitam. Neste contexto, o que o intelectual pode fazer é fornecer instrumentos de análise para tal intento.

243 - Foucault, Althusser e a “positividade” do poder (e isso faz diferença?): Foucault (1979, 1987, 1988, 2003, 2004a) também demonstra que o poder para ser eficaz atua de uma forma muito mais positiva do que negativa, ou seja, o poder não quer somente negar e proibir, mas produzir formas de vida, produzir corpos dóceis e úteis para a sociedade.

244 - Ambos não vêem as relações de poder como algo naturalmente dado. Foucault: Ora, as mudanças econômicas do século XVIII tornaram necessário fazer circular os efeitos de poder, por canais cada vez mais sutis, chegando até os próprios indivíduos, seus corpos, seus gestos, cada um de seus desempenhos cotidianos.

245 - Ambos não viam ideologia como “falsa consciência”.

246 - A importância está em mudar as instituições (Estado e etc;) ou as práticas que as fundamentam? (Nâo sei se essa pergunta é lá muito prática). Foucault assim responde: na medida que as instituições agem essencialmente através da colocação de dois elementos em jogo: regras (explícitas ou silenciosas) e um aparelho, corremos o risco de privilegiar exageradamente um ou outro na relação de poder [...].  Não se trata de negar a importância das instituições na organização das relações de poder. Mas de sugerir que é necessário, antes, analisar as instituições a partir das relações de poder, e não o inverso; e que o ponto de apoio fundamental destas, mesmo que elas se incorporem e se cristalizem numa instituição, deve ser buscado aquém.

247 - Vale lembrar que Foucault participou das reinvidicações promovidas pela esquerda proletariada de orientação maoísta na França, sendo um dos principais articuladores do movimento denominado “maio de 1968”. Inclusive, Foucault manteve-se filiado ao partido comunista francês por dois anos.

248 - Rompimento de Foucault: o partido comunista aceita e perpetua a maioria dos valores burgueses (na arte, na família, na sexualidade, na vida cotidiana, em geral).

249 - “Marx pensava – e ele o escreveu – que o trabalho constitui a essência concreta do homem. Penso que essa é uma idéia tipicamente hegeliana” (Foucault, 2003: 259).

250 - Portanto, ao invés de realizar os seus estudos por meio da análise dialética, Foucault (1979, 1987, 2003) realiza os seus estudos por meio da genealogia. Foucault (1979: 171) entende por genealogia “o acoplamento do conhecimento com as memórias locais, que permite a constituição de um saber histórico das lutas e a utilização deste saber nas táticas atuais”. (...)  ocupase e objetiva ativar saberes locais, descontínuos, desqualificados, não legitimados e considerados menores, contra um cientificismo que procura sobre uma instância teórica unitária que pretende depurá-los, hierarquizá-los, ordená-los por meio de um conhecimento considerado verdadeiro (Foucault, 1979).

251 - Não há uma essência natural do homem em Foucault. Não há uma natureza aprisionada seja lá por quem (capitalismo). Não haverá reconciliação do trabalho com a natureza.

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