Trotski - A Nossa Moral e a Deles (1938)

 

Trotski - A Nossa Moral e a Deles (1938):

244 - A moral é produto do desenvolvimento social; que ela nada tem de imutável; que serve aos interesses da sociedade; que esses interesses são contraditórios; que, mais do que qualquer outra forma de ideologia, a moral tem o caráter de classe. (...) Não existem, pois, preceitos morais elementares, elaborados durante o desenvolvimento da humanidade e indispensáveis para a existência de qualquer coletividade? Está fora de dúvida que esses preceitos existem, mas o alcance de sua ação é extremamente limitado e instável. Dá o exemplo do assassinato em legítima defesa.

245 - Elogia a consciência de classe dos burgueses. As normas concretas do catecismo burguês são mascaradas sob abstrações morais patrocinadas pela religião, pela filosofia, ou por essa coisa híbrida que se chama “senso comum”

246 - Dilemas (nem são) da moral: Sem mentiras a guerra seria tão inimaginável quanto uma máquina sem óleo. Para proteger a sessão das Cortes (lº de fevereiro de 1938) das bombas fascistas, o governo de Barcelona enganou, por várias vezes e deliberadamente, os jornalistas e a própria população. Poderia ter agido de outra maneira? Quem aceita o fim - a vitória sobre Franco - também deve aceitar os meios: a guerra civil com o seu cortejo de horrores e crimes.

247 - Marx e a defesa do fuzilamento dos 64 reféns por parte da Comuna: "[...] a Comuna, para proteger suas vidas [dos prisioneiros], viu-se obrigada a recorrer à prática prussiana de fazer reféns. [...]". Afirma que o mesmo o fez a revolução espanhola em momentos. Trotsky vai mais longe na relativização “Pela mesma razão, fariseus de todos os tipos voltam para Kronstadt e Makhno com tamanha obstinação - aqui eles podem despejar livremente suas secreções morais!

248 - Um meio somente pode ser justificado por seu fim. Mas o fim, por sua vez, precisa ser justificado. Do ponto de vista marxista, que expressa os interesses históricos do proletariado, o fim se justifica quando suscita o aumento do poder do ser humano sobre a natureza e a supressão do poder de uma pessoa sobre outra. (...) É permitido, respondemos, aquilo que leva realmente à emancipação da humanidade. Moral revolucionária.

249 - Mas o moralista ainda insiste: "Então, isso significa que, na luta de classes contra os capitalistas, todos os meios são permitidos: a mentira, a maquinação, a traição, o assassinato etc.?" Respondemos: Permitidos e obrigatórios são aqueles e apenas aqueles meios que unem o proletariado revolucionário, enchem seus corações de um ódio implacável à opressão, ensinam-nos a desprezar a moral oficial e seus arautos democráticos, imbuem-nos da consciência de sua missão histórica, aumentam-lhes a coragem e o espírito de auto-sacrifício na luta. Assim nem todos os meios são. Trotsky repudia aqueles meios e procedimentos vis que lançam uma parte da classe trabalhadora contra as outras, ou que tentam fazer a felicidade das massas sem sua participação; ou diminuem a confiança das massas em si mesmas e em sua organização, substituindo-a pela adoração dos "líderes".

250 - Por exemplo, o terrorismo individual é permitido ou não do ponto de vista da "moral pura"? Nessa forma abstrata, a questão é para nós totalmente desprovida de sentido. Os burgueses suíços conservadores ainda hoje tecem louvores oficiais ao terrorista Guilherme TeU. Nossas simpatias estão totalmente com os terroristas irlandeses, russos, poloneses ou hindus em sua luta contra a opressão política e nacional. O assassinato de Kirov, um sátrapa brutal, não provoca em nós qualquer simpatia.

251 - Diz que o terrorismo individual dificilmente se encaixa em algum contexto justificador revolucionário. Entretanto, dá exemplo do poder de relativização de um contexto: Se, diremos, um revolucionário tivesse explodido o General Franco e seu estado-maior, dificilmente esse ato teria suscitado indignação moral, até mesmo entre os eunucos democratas.

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