Econ - Site Voyager - Industrialização da Inglaterra e o Protecionismo

 

Site Voyager - Industrialização da Inglaterra e o Protecionismo:

447 - No final do século XV, o rei Henrique VII (22 de agosto de 1485 – 21 de abril de 1509) iniciou uma política industrial em que enviava missões para identificar os melhores locais para a instalação de fábricas de tecidos, que seriam construídas com financiamento público. (...) Um forte protecionismo também foi aplicado: as tarifas de importação aumentaram em até 70% e as exportações de roupas não acabadas foram proibidas em 1489, com incentivos para o processamento futuro; ao mesmo tempo implementou um estatuto que concedia aos alfaiates ingleses preferências na compra da lã antes da exportação. (...) Esta política protecionista foi mantida após o reinado de Henrique VII, e por muito tempo, sendo parcialmente suspensa 60 anos após o reinado de Elisabeth I (17 de novembro de 1558 – 24 de março de 1603), quando a indústria finalmente possuía capacidade de processamento em larga escala. (...) O dirigismo do Estado (...) ainda quebrou os concorrentes do setor, como foi o caso das Províncias Unidas dos Países Baixos, que foram à falência. Assim a Inglaterra obteve dividendos para financiar importações de matérias-primas essenciais para o que veio a ser conhecido tempos depois como a “Revolução Industrial”.

448 - Mais políticas protecionistas essenciais foram reforçadas em 1721, com uma legislação levada a cabo pelo líder político Conde Robert Walpole, com amplo alcance, abrangendo a indústria manufatureira, subsidiando a exportação (dois anos antes proibiram emigração de trabalhadores qualificados ou mesmo trabalhos temporários por mais de 6 meses). Impuseram pesadas tarifas de importação para produtos estrangeiros, baixando as das importações de matérias-primas. Introduziu-se regulamentação de qualidade para as manufaturas. Tudo isso se manteve por mais de cem anos.

449 - Em 1750 a Inglaterra proibiu exportações de ferramentas e componentes industriais de lã e seda, depois algodão e linho. Em 1785, com a Tool Act, proibiu-se exportações de várias maquinarias. Em 1820 a Inglaterra tinha taxa média de 50% sobre importações, a França tinha 20%, a Alemanha 8% e Suíça 12%. A Inglaterra havia proibido construção de novas oficinas de laminação e corte de aço nas colônias, forçando-lhes a se especializarem em barras de ferro bruto; proibiu importações de tecidos de algodão da Índia, proibiu exportações de roupas de lã de suas colônias para outros países, destruiu a indústria de lã irlandesa…

450 - O maior dos economistas liberais austríacos (ironicamente, nunca tendo sido adepto da “escola austríaca”), o único mais amplamente citado em ambientes de discussão técnica, Joseph Schumpeter, demonstrou na obra “History of economic analysis” (pp. 370-371) que até por volta de 1800 prevaleciam de maneira geral práticas protecionistas no comércio exterior inglês, mantidas elevadas barreiras alfandegárias até 1840.

451 - A grande abertura comercial só se deu concomitante ao poderio político sobre grande parte do globo, como Egito (onde Lord Acton determinou que se destruísse a indústria algodoeira), Península Indiana (onde chegaram a manietar tecelãs para prevalecerem contra a indústria têxtil local), Turquia, grande parte da África, indiretamente sobre a América Latina e depois com a sanguinária Guerra do Ópio na China (com a qual a Inglaterra mantinha grandes déficits comerciais). Essa perspectiva foi perfeitamente expressa por Halford Mackinder, líder político de direita e teórico da geopolítica que influenciou a estratégia internacional das potências mundiais, em um pronunciamento realizado em 1899 no “Institute of Bankers” conhecido como “The great trade routes”. (...) tomando certa descentralização como inevitável, prevê: Isso fornece a verdadeira chave da luta entre nossa política de livre-comércio e o protecionismo de outros países – somos, essencialmente, o povo que tem o capital, e quem tem capital sempre participa da atividade dos cérebros e músculos dos outros países.

452 - Dívidas e gastos públicos financiaram a indústria de bens de capital - do que se pôde colher os frutos mais tarde -, que chegaram a produzir mais que o necessário em tempos de paz, como demonstrou a depressão do pós-guerra em 1816-20. (...) Basta mencionar que, em 1783, os £9 milhões pagos anualmente pelo governo britânico para cobrir os juros e a amortização das dívidas absorveram nada menos do que 75% do orçamento e equivaleram a mais de ¼ do valor anual do comércio britânico.

453 - Os liberais ingleses estavam ocupados com outras lutas pelo “livre-comércio”: Estavam sempre do outro lado quando trabalhadores e trabalhadoras lutavam por melhores condições de trabalho e remuneração, contra as leis que limitavam a jornada de trabalho diária a 10 horas, inclusive contra a redução da carga horária extenuante do trabalho das crianças nas tecelagens.

454 - É útil para a ideologia liberal o conto da carochinha de que a indústria e tecnologia nasce espontaneamente da liberdade econômica. A realidade é bem diferente.

 

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