Econ - Uallace Moreira Lima - O debate sobre o processo de desenvolvimento econômico da Coréia do Sul IV

 (continuação...)

623 - Excepcionalidades da Coréia: o mercado coreano passou a ser altamente concentrado, com pequenas e médias empresas tendo pouco espaço no país. Segundo Kim (2005a), um exemplo da alta concentração que predominou no país é o fato de que em 1977, 93% de todas as mercadorias e 62% de todas as vendas foram produzidas em condições de monopólio, duopólio ou oligopólio, sendo que os três maiores produtores eram responsáveis por mais de 60% de participação no mercado. Além do mais, os dez maiores chaebols foram responsáveis por 48,1% do PNB em 1980, ficando evidente o alto nível de concentração de mercado e o poder dos chaebols na Coreia do Sul.

624 - Os anos 1960 foram marcados pelo processo de reestatização do sistema bancário, fazendo com que o comando estatal predominasse tanto sobre os fluxos de crédito interno como também externo, com o objetivo de financiar o processo de industrialização. Os bancos eram estatais.

625 - A privatização do sistema financeiro em 84 colocou a maioria sob controle dos chaebols. O governo continuava tendo grande influência sobre os mesmos, por sinal. (...) o governo não deu autonomia gerencial por completo, o que irá resultar em um setor financeiro ainda regulamentado pelo governo.

626 - A imitação não exige investimento especializado em P&D, apenas um baixo nível de aprendizagem tendo em vista que não é necessário gerar novos conhecimentos. A imitação pode ser uma nova combinação de elementos tecnológicos altamente padronizados que pode ser aplicada através da engenharia reversa – que consiste em uma atividade que trabalha com um produto existente, identificando seu funcionamento, o que ele faz exatamente e como ele se comporta em todas as circunstâncias.

627 - Saltos tecnológicos: Nos anos 1980, o país transita para um modelo de imitação criativa, com atividades de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). Exige mais investimento e o produto pode até superar o “imitado”.

628 - Na verdade, a relação com o Japão e os EUA foi importante tanto no processo de transferência de tecnologia, como também como mercados de destino para as exportações dos produtos coreanos.

629 - Os sucessos da Coréia estão articulados: A estratégia de internalizar e absorver tecnologia através da importação de bens de capital, por exemplo, não seria possível sem a formação de uma infraestrutura que absorvesse todo conhecimento tecnológico necessário para realizar o processo de imitação e depois a imitação criativa, fortalecendo assim o ramo de bens de capital que é um dos mais intensivos em tecnologia.

630 - Segundo Lee (2005), os chaebols lideraram o processo de aprendizado através da aquisição de bens de capital estrangeiro para, posteriormente, produzir internamente com o intuito de atender as demandas crescentes de aquisições por encomendas de máquinas locais e a fabricação direta de bens de capital para satisfazer as necessidades internas. Com isso, se ao final dos anos 1970 o índice de auto-suficiência ficou em torno de 30% a 40%, deixando nítido que as empresas locais ainda não estavam aptas a produzir bens de capital avançados para atender o mercado interno, nos anos 1980 o índice de auto-suficiência chega a 60%, mostrando que os chaebols corroboraram de forma crucial para a internalização da tecnologia.

631 - P & D e PNB: a participação era de 0,26% em 1965 e saltou para 1,95% em 1990.

632 - … O número de pesquisadores saiu de 2 mil para 70 mil.

633 - Uallace resume assim os quatro fatores internos que, segundo ele, possibilitaram que a Coréia se diferenciasse (todos já mais ou menos explicados acima): estrutura de propriedade, organização industrial, centralização financeira (bancos estatais) e a estratégia de absorção de conhecimento tecnológico. (...) Nos anos 1960 e 1970, a política de estrutura de propriedade impôs restrições ao investimento estrangeiro direto para defender as empresas nacionais, dando condições a essas empresas de se fortalecerem e ter poder de concorrência no mercado interno e externo.

634 - Quinto plano quinquenal: Portanto, se na política de estrutura de propriedade o governo adotou medidas de liberalização retirando a maioria dos incentivos para o comércio exterior, quando consideramos a política de proteção da Coreia com outros países, podemos constatar que ainda predominou uma proteção em setores considerados estratégicos pelo governo.

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