Gustavo Machado - FASCISMO, de direita ou de esquerda II

 (continuação...)

40 - Critica a ciência humana moderna como fábrica de conceitos (e novidades tais), tendo deixado de se extrair esses da realidade. Fato é que os termos “esquerda” e “direita” não possuem substância, não possuem uma conceituação objetiva passível de ser determinada em si e por si mesmas, dando margem a todo tipo de trapaças teóricas.

41 - Ainda em 1974, a defesa do fascismo como uma corrente tipicamente de esquerda é defendida pelo conservador austriaco Erik von Kuehnelt-Leddihn em seu livro Leftism, From de Sade and Marx to Hitler and Marcuse. Mais recentemente, em 2008, a tese foi reerguida por Jonah Goldberg no livro Liberal Fascism: The Secret History of the American Left, From Mussolini to the Politics of Meaning. Este livro chegou a ocupar a primeira posição no ranking de vendas nos Estados Unidos por algumas semanas, considerando apenas obras de não-ficção. Golberg vai mais longe no jogo de conceitos: procura identificar, por meio de analogias e comparações externas de todos os tipos, o parentesco entre Socialismo, Fascismo e … Liberalismo.

42 - Demagogia socialista (inclusive símbolos). Demagogia religiosa. Certo é que o fascismo usava de tudo: Desse modo, se o fascismo procurou ganhar as massas populares em torno de seu projeto, não procurou em nenhum sentido expressar os seus interesses particulares em seu programa efetivo. É exatamente essa ausência de correspondência entre o programa e a base que procurou mobilizar para executá-lo, que exigiu um discurso hipócrita, demagogo, performático e subjetivo. Daí também o namoro do fascismo com o irracionalismo. Daí o absoluto descompasso entre discurso e realidade.

43 - Exemplo: o termo nação “proletária” é meramente metafórico. Seria a nação subalterna, mais fraca ainda. E não uma “nação para os proletários” ou “de proletários”.

44 - A Falange espanhola falava em proteger a propriedade “contra os abusos da Alta Finança, dos especuladores e usurários” e declarava a nação acima das classes.

45 - Tanto que os trabalhadores não eram os mais atraídos: Vários estudos (J-P FAYE, 1974; WINCKLER, 1979) dão conta de que a pequena burguesia e os estratos médios da sociedade foram os alvos realmente efetivos da propaganda fascista.

46 - O financiamento do fascismo pelos capitalistas tinha surtos em momentos de força dos comunistas. Quando estes chegam ao poder, a colaboração se dá em termos mais econômicos que políticos. Interesse em comum na recuperação econômica. “Me ajuda que eu te ajudo”. Apenas em alguns poucos casos houve engajamento político direto entre os grandes capitalistas e o governo. Mas são mais raros ainda o caso de aberta e declarada oposição. Apesar da retórica para os setores médios, o grande capital governava.

47 - Ações dos fascistas: Precipitam-se em direção à Bolsa do Trabalho, do sindicato, da cooperativa, da Casa do Povo; arrombam as portas, jogam nas ruas a mobília, livros, mercadorias e derramam galões de combustível: alguns minutos depois, tudo está pegando fogo. Quem é encontrado no local é espancado selvagemente ou morto. As bandeiras são queimadas ou levadas como troféu. (TASCA, 1969, p.130)

48 - O fascismo não é, certamente, liberal. Caracteriza-se pela supressão de todos os direitos democráticos. Além disso, enquanto uma proposta nacional imperialista opta em ascender internacionalmente pela via militar.

49 - Diferença com os conservadores: orienta seu discurso para o futuro - novo homem - e se apoia em um movimento de massas com um braço armado não institucional.

50 - Semelhança? Louva glória, tradição e passado. Ademais... O fascismo nega a Razão Ilustrada, o humanismo, o materialismo. (...) Mas se fundam em concepções bem diferentes: as acepções conservadoras negam a Razão Ilustrada e o humanismo em benefício de uma razão metafísica e universal, centrada na noção suprema de Deus. Enquanto o fascismo é anti universalista e irracionalista.

51 - O apoio do grande capital às organizações fascistas apenas no momento de absoluta instabilidade econômica e ameaça comunista imediata desnudam que o fascismo é, em seu significado histórico, a última cartada das classes dominantes nacionais.

52 - Inclusive são os conservadores que conciliam a chegada dos fascistas e nazistas ao poder nos respectivos países. Na Alemanha, em 1932, foi o conservador Hindenburg que convidou Hitler para a chancelaria, abrindo caminho para o poder nazista. Além disso, o processo se inicia com uma coalização entre nazistas e conservadores que garantiu aos nazistas mais de 50% dos ministérios.

53 - No entanto, a lista de intelectuais conservadores ou liberal-conservadores que aderiram ao fascismo ou ao nazismo é extensa (SÁNCHEZ, 1995; ALBERTONI, 1992). Após a consolidação dos respectivos partidos, de outra parte, o apoio de intelectuais comunistas ou socialistas ao fascismo é um episódio dos mais raros.

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