Econ - Uallace Moreira Lima - O debate sobre o processo de desenvolvimento econômico da Coréia do Sul II

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599 - Coréia e vantagens comparativas? Os autores sustentam seus argumentos mostrando que tais políticas não influenciaram no ganho de competitividade da Coreia do Sul, pois quando se compara o sistema de incentivos da Coreia com outros países, observa-se um nível de proteção e incentivos bem mais baixos do que outras nações ou de acordo com os padrões internacionais, ficando claro que na Coreia predominou uma zona livre de comércio.

600 - Banco Mundial de certa forma aprofunda o argumento acima: A política de proteção de importações tinha efeito nulo e gerava um sistema de incentivos neutro já que havia a política de subsídios para as exportações, isto é, a política de proteção às importações (que gerava distorção de preços) resultante do modelo de substituição de importações, era neutralizada pela política de subsídios às exportações (que gerava o equilíbrio no sistema de preços) através do modelo de desenvolvimento de industrialização exportadora de manufaturas.

601 - Banco Mundial elogia ainda o ambiente macroeconômico estável e o “investimento em pessoas”.

602 - Amsden, endogenista, argumenta que o Estado guiou, com os quinquenais, a entrada do setor privado nos ramos capazes de alavancar o desenvolvimento - não era incentivo ao investimento puro e simples. Praticamente criou chaebols nas áreas escolhidas. Outro ponto: a autora mostra que os fatores fundamentais para a expansão da produtividade podem ser obtidos por meio de três mecanismos, quais sejam: 1) através da importação de tecnologia estrangeira; 2) a operação de tecnologia estrangeira em uma escala crescente vai contribuir para minimizar os custos de produção; 3) e o processo de aprendizagem (learning-by-doing) no uso e emprego eficiente de tecnologia estrangeira.

603 - Creio que não entendi muito, mas… Do ponto de vista teórico, quando os estudos neoclássicos defendem a existência de um sistema de incentivos neutro na Coreia não é nítido em seus argumentos como o sistema de incentivos para as exportações (em um modelo orientado para fora) pode anular as medidas protecionistas em relação às importações (em um modelo de substituição de importações), pois se as estruturas de preços sob os dois regimes são diferentes, não se pode afirmar que a estrutura de incentivos sob o modelo de orientação para fora é neutro, já que o que importa na determinação da atratividade relativa das exportações e produção para o mercado doméstico é a estrutura de preços relativos e não a média de incentivos, como acreditam os neoclássicos.

604 - Ainda Chang: os exportadores não tinham acesso livre a importações de insumos (matérias-primas e máquinas) a preços de mercado mundiais. (Ué? Tinha ou não tinha?) (...) Além do mais, a política de crédito sempre apresentava recusa aos importadores de máquinas quando havia a oferta desses bens no mercado interno. Por outro lado, afirma o autor, havia amplo crédito subsidiado para os compradores de máquinas e equipamentos de origem doméstica.

605 - Os três argumentos que justificavam a excepcionalidade do desenvolvimento coreano segundo a “terceira corrente”, a dos fatores externos: 1) como resultado da estratégia dos EUA do pós-guerra de ampliação de seus interesses econômicos e políticos na Ásia, houve uma constante ampliação do superávit comercial dos países da região asiática com os países da OCDE exportando manufaturados; 2) expansão dos investimentos dos EUA e do Japão na região, com os EUA colocando-se como mercado das exportações dos manufaturados dos países asiáticos e o Japão como um dos principais países responsáveis pela transferência de tecnologia via importação de bens de capital; 3) e expansão do financiamento externo.

606 - Coréia e Choque do Petróleo na visão de Medeiros: Para o autor, os EUA e o Japão serviram de locomotiva para a Coreia do Sul na medida em que os recursos financeiros desses países evitaram um colapso nas contas externas coreanas, pois mesmo com a Coreia apresentando uma grande necessidade de realizar transferências financeiras ao exterior, isso foi feito em uma menor proporção e sem restringir sua capacidade de crescimento, já que a relação com os EUA e o Japão fez com que os choques de juros, a deterioração nos termos de troca nos anos 1980 e a queda da demanda mundial não atingissem a Coreia do Sul como atingiram, por exemplo, a economia brasileira.

607 - Indicadores da excepcionalidade externa - “boa intenção” pragmática dos estrangeiros: Por exemplo, apesar do país ter a menor taxa de poupança entre os chamados quatro tigres que embarcaram na trajetória do desenvolvimento econômico nos 1950 e 1960, a Coreia registrou uma das maiores taxas de crescimento e de investimento.

608 - A Escola de Campinas desdobrou-se a partir da concepção estruturalista latino-americana, segundo a qual não há padrões universais de desenvolvimento, mas modos de desenvolvimento historicamente particulares que se relacionam internacionalmente. (...) Os trabalhos pioneiros da Escola de Campinas na interpretação do desenvolvimento capitalista brasileiro foram os de Maria da Conceição Tavares (1974), João Manuel Cardoso de Mello (1975) e Oliveira (2002).

609 - Se no Japão a aliança entre governo e Zaibatsu era essencial para que o país pudesse dar continuidade ao seu desenvolvimento, esse modelo foi transferido para a Coreia em uma aliança estabelecida entre o Estado e as grandes empresas familiares coreanas, os Chaebols.

610 - Logo após o pós-Guerra: Os EUA implantaram um amplo sistema de alfabetização e formação educacional na Coreia, elevando notavelmente o índice de alfabetização e, consequentemente, formação de mão-de-obra qualificada (Hugh Jo, 2011; Cho, 2001).

611 - No debate acerca da contribuição financeira dos EUA para a Coreia, muitos estudos apontam para o fato de que isso diminuiu no início dos anos 1960, o que na verdade já vinha acontecendo há um tempo antes, já que nos anos 1950 o caráter da relação entre EUA e Coreia transita de ajuda financeira para empréstimo externo, inclusive com participação do setor privado. Após isso, a Coréia reata com o Japão e ganha mercado deste.

612 - Anos 70: A expansão do Euromercado beneficiou muito a Coreia do Sul, ainda mais no momento em que o país implementava a promoção das indústrias pesada e química. Segundo Cho (2011), considerando os países em desenvolvimento, a Coreia do Sul foi o país que mais recebeu recursos oriundos do Euromercado, seguidos do México e do Brasil.

613 - Disse que a Coréia do Sul teve crédito do Japão no Segundo Choque do Petróleo. Não sei se essa informação casa com outro texto que eu fichei. A abertura de Japão e EUA aos produtos exportados pela Coréia também foi de grande ajuda, afirma. Puxavam a pauta de exportação do país.

614 - Afirma que o Acordo de Plaza, em 1985, foi bom para a Coréia também. Significou uma pronunciada valorização do iene frente ao dólar – em um ano o dólar passou de 250 para 155 ienes – e inaugurou uma ampla ofensiva comercial dos EUA, visando reverter seu déficit estrutural na balança comercial com o Japão. Na verdade, o Acordo de Plaza foi uma negociação entre os governos do G-5 (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido e França) para estabelecer a coordenação multilateral, a fim de reduzir as crescentes pressões protecionistas que poderiam levar a uma retaliação mutuamente destrutiva, com graves danos para a economia mundial (Medeiros, 1997).

615 - Coréia e câmbio nos 80: a estratégia da política interna em relação ao câmbio foi fundamental para o bom aproveitamento do cenário externo benéfico. Com isso, na primeira metade dos anos 1980, o país desvalorizou sua moeda em relação ao dólar e seguiu a mesma estratégia do iene. Na segunda metade da década, a Coreia seguiu o movimento do dólar ao desvalorizar sua moeda em relação ao iene.

(continua...)

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