Gustavo Machado - O lugar dos 'serviços' em O Capital de Marx

 

Gustavo Machado - O lugar dos 'serviços' em O Capital de Marx:

118 - Cada vez mais trabalhador nos “serviços”. Há corrente que troca o “operário” pelo “proletário” porque este conceito abarca os serviços. Outra corrente centra-se na diferença entre trabalho produtivo e improdutivo presente nas Teorias da Mais-Valia e no Capítulo VI inédito de O Capital onde Marx parece resumir a questão ao fato dos trabalhadores produzirem ou não mais-valia, tornando indistintos os trabalhadores empregados pela indústria ou pelo setor de serviços.

119 - “Quando o dinheiro se troca diretamente por trabalho, sem produzir capital e sem ser, portanto, produtivo, compra-se o trabalho como serviço, o que de modo geral não passa de uma expressão para o valor de uso especial que o trabalho proporciona como qualquer outra mercadoria” (grifo nosso) (MARX, 1980, p. 398).

120 - Não é produtivo porque não produz mercadoria. Não é uma depreciação. Ora, segundo Marx, na “mera prestação de serviços temos apenas consumo de renda e não produção de capital” (MARX, 2011, p. 212). É como um camponês que vende seu produto na feira. No sentido de que não produz capital. Assim, percebe-se também que nem sempre a produção de mercadoria será trabalho produtivo para o capital. É preciso um capitalista no comando. Fosse produtivo unicamente o trabalho produtor de mercadorias, o trabalho de um camponês ou artesão, que vende seu produto no mercado, seria produtivo para o capital, o que é falso.

121 - Marx alarga o trabalho produtivo porém: Do ponto de vista histórico, essa ampliação é da mais alta relevância, afinal, em sociedades como a da Grécia antiga, o pensamento e a ciência permaneciam, regra geral, a margem do processo de trabalho, sendo, portanto, improdutivos. Agora, um trabalhador intelectual, desde que imerso no trabalho coletivo de uma empresa capitalista produtora de mercadorias, é um trabalhador produtivo.

122 - Segundo Marx, “só o trabalho que produz capital é trabalho produtivo” (MARX, 1974, p. 136). “

123 - Trabalho improdutivo: É trabalho que não se troca por capital, mas diretamente por renda, ou seja, por salário ou lucro.

124 - Trabalho produtivo é aquele produtor de mais-valia para um capitalista, de onde se segue que não existe diferença social alguma entre o trabalho produtor de mercadorias e o trabalho não produtor de mercadorias, contando que produzam, ambos, mais-valia.

125 - Serviços. Produtivos em relação a quem? Eis a questão. Ora, na exata medida que tais atividades rendem dinheiro para aquele que a vende, elas são produtivas em relação ao vendedor, muito embora, não produzam absolutamente nada para a sociedade e, nesse sentido, sejam, em relação a sociedade, improdutivas. (...) Ora, para um camponês que produz para o seu consumo próprio, seu trabalho é certamente produtivo em relação a ele, mas não é para a sociedade que nada recebe, menos ainda para o capital, pois não há acumulação do trabalho não pago na forma da mais-valia.

126 - Marx não considera insignificante as grandezas advindas dos “trabalhos que só se desfrutam como serviços” em função do seu reduzido número na sociedade, como comumente se interpreta. Sua grandeza é insignificante, conforme a argumentação da passagem, pelo fato desses trabalhos não se transformarem “em produtos separáveis dos trabalhadores”. Isto é assim, não tanto pela materialidade da mercadoria em si mesma, mas pelo fato desta materialidade constituir o suporte que permite a mercadoria expressar sua propriedade social de ser valor. Já no caso dos serviços, produção e consumo coincidem, de maneiras que “a forma do valor é posta como forma simplesmente evanescente” (MARX, 2011, p.383).

127 - Serviços não são, então, capital produtivo. Em suma, as atividades não produtoras de mercadorias, os ditos serviços, apesar de produtivas para o capitalista individual, apenas consome na forma de renda o capital produzido pela sociedade. (...) Isto é assim mesmo que esta renda seja apropriada de maneira desigual no interior de um dado ramo, fornecendo mais-valia para um capitalista individual.

128 - (Achei nada com nada, por enquanto, a explicação sobre serviço não precisar de redistribuição de mais-valia - como precisa o bancário, por exemplo. Já que ele consome a renda produzida pelos setores produtivos… Pra mim é uma decorrência lógica).

129 - Gustavo elaborou uma quadro resumo das conclusões baseadas nos livros do “O Capital”:



130 - Ora, diversamente do que comumente se diz, Marx já assinala nos Grundrisse a tendência da sociedade capitalista em fazer crescer, cada vez mais, o número de trabalhadores alocados em atividades não produtoras de mercadoria. (...) Em Teorias de Mais Valia, Marx é ainda mais explícito a esse respeito: a “outra causa de ser grande o número dos sustentados por renda é a circunstância de ser grande a produtividade dos trabalhadores produtivos, isto é, seu produto excedente que os serviços consomem. Neste caso, em vez de o trabalho dos trabalhadores produtivos não ser produtivo por haver tantos serviçais, há tantos serviçais, por ser ele tão produtivo” (MARX, 1974, p. 272).

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