Site Voyager - As Bobagens de Narloch Sobre Indígenas

 

 Site Voyager - As Bobagens de Narloch Sobre Indígenas:

163 - Começa querendo tratar os indígenas como bêbados incorrigíveis pelos padres. Esconde todo o processo disso. Na Carta de Caminha, por exemplo, os indígenas rejeitam o vinho. Alexandre Marchant, que estudou o escambo no século XVI, não inclui o vinho e a aguardente como itens de trocas com os indígenas. (...) Conforme mostram pesquisas de Oswaldo Lima e Alfred Métraux, a bebida tradicional dos indígenas, o “cauim”, tinha fraquíssimo teor alcoólico. Além disso, era utilizada apenas coletivamente e em certas ocasiões (casamentos, nascimentos, festas comemorando a vitória na guerra etc.). O europeu introduziu o hábito de beber sozinho e cotidianamente. Pior ainda: introduziu a aguardente, bebida destilada muitíssimo mais forte do que o cauim. Várias fontes citadas.

164 - Sobre “aldeias chatas”: De fato, estudos antropológicos mostram que os povos indígenas, não só do Brasil, tendem a aceitar “novidades” trazidas por colonizadores. Porém… Marshall Sahlins, em estudo clássico sobre a economia das sociedades “primitivas”, mostrou que, nelas, homens e mulheres trabalham cerca de duas ou três horas por dia para garantir a sobrevivência. Se o europeu introduz uma nova ferramenta — enxadas de ferro, por exemplo —, os indígenas tendem a adotá-la para diminuir ainda mais o tempo de trabalho. Não fazem isso por serem preguiçosos, mas sim por não terem a acumulação de bens como um valor cultural. Além disso, a adoção de novos instrumentos não significava abandono da cultura original, nem desejo de viver entre os brancos.

165 - Outra dúvida é saber se os indígenas “Queriam mesmo era ficar com os brancos”. Se isso existiu, por qual razão foi necessário tanto esforço dos jesuítas para convencê-los a se mudar para as proximidades das vilas e fazendas?! Se essa aproximação acontecia espontaneamente, por qual razão os bandeirantes tinham de ir caçá-los no mato?!

166 - Em razão de as sociedades humanas existirem há mais de 100 mil anos, quase todas as paisagens que hoje chamamos de “naturais”, na realidade, sofreram algum tipo de intervenção social. Várias espécies vegetais consideradas “nativas” foram espalhadas pelo homem.

167 - Sobre as queimadas, a história é bem diferente do que Narloch quer passar. Os dados falam em mil anos em que 50% da cobertura foi modificada. Porém, alguns incêndios eram sucedidos de tempo para recuperação. Ademais, mil anos de incêndios por raios também devem ter percentual muito relevante na estatística. O texto fala em metade.

168 - A floresta não era um “inferno” para os índios, mas sim sua casa. Outra bobagem.

169 - Florestan estudou as guerras entre tupinambás e as comparou com as européias. Mostra, por exemplo, que a noção de chefia militar era fraca entre os indígenas, mas forte entre os europeus. Mostra também aspectos em comum, como o uso de tambores durante conflitos. No geral, não eram mais vilões nem perfeitos que os europeus, o que não justifica genocídio.

170 - De acordo com o biólogo Jared Diamond, os contatos entre europeus e povos do Novo Mundo foram muito desfavoráveis a esses últimos. A razão?! Os europeus tinham muito mais resistência microbiana do que os indígenas. Os colonizadores vinham de áreas que há milhares de anos domesticaram animais. Já tinham desenvolvido imunidade contra as inúmeras doenças que os bichos trouxeram à espécie humana. (...) Além disso, ao estruturarem o tráfico de escravos, os colonizadores abriram mais uma via de contágio, como é o caso da febre amarela de origem africana.

171 - Segundo dados da Funai, antes da multiplicação de reservas indígenas, a população indígena chegou a ser de apenas 70 mil indivíduos, o que representaria uma redução de 98%, tendo em vista a estimativa de 3,5 milhões indígenas no início da colonização. Diante de tal constatação, é difícil não reconhecer o genocídio indígena.

172 - Afirma que o DNA indígena em um terço da população brasileira não significa necessariamente qualquer integração: Muitas também foram raptadas em aldeias e estupradas, havendo até quem se orgulhasse disso, dizendo que gostava de pegá-las “a laço”. (...) Quem consultar o texto do geneticista Sergio Danilo Pena, acima citado, constata a seguinte observação: “Os resultados obtidos demonstram que a imensa maioria (provavelmente mais de 90%) das patrilinhagens dos brancos brasileiros é de origem europeia, enquanto a maioria (aproximadamente 60%) das matrilinhagens é de origem ameríndia ou africana”.[14]

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