Econ - Tiago e Niemeyer - Condições históricas do planejamento
Tiago e Niemeyer - Condições históricas do planejamento:
576 - Analogamente, Carr (1947) afirma que tanto o Mundo Ocidental quanto a União Soviética chegaram ao conceito de planning como forma de condução da economia nacional na mesma época, embora por circunstâncias diferentes.
577 - Cada lado, porém, usou fontes diferentes para balizar seus tipo de planejamentos.
578 - Intervenção restringe-se à manipulação de variáveis macroeconômicas, com o objetivo de atingir estabilidade, ou seja, de reduzir a amplitude dos ciclos econômicos. A intervenção é, por isso, uma atividade estatal que não pretende subverter a lógica de alocação dos recursos pelo sistema de preços livres, mas visa apenas criar as condições para que esse mesmo sistema funcione dentro de condições predeterminadas. Por outro lado, essa ação deliberada sobre o mercado não corresponde ao modelo econômico liberal perfeito, com o que se pode argumentar que tanto a intervenção econômica, em sua forma de aparição específica a partir dos anos 30 do século XX, como o planejamento, definido nesses termos mais teóricos, são, ambos, elementos diferenciadores dos preceitos da econômica política liberal.
579 - Interpretação de Carr: o planejamento que se deu na prática foi um resultado da história e do desenvolvimento das forças produtivas, e não do ideal por trás do movimento comunista.
580 - De toda forma, é possível rastrear a origem normativa da ação estatal sobre o mercado até precursores do ideário oposto ao liberalismo, como Friedrich List. List, em oposição aos teóricos da economia política clássica adeptos do livre mercado, argumentava que o desenvolvimento da nação dependia de medidas de proteção do Estado. Aliás, existe uma falsa dicotomia que coloca liberalismo em oposição à ação do Estado capitalista, quando, na verdade, a ação política de defesa e expansão do capital nacional foi o lado real da ideologia liberal durante a expansão colonial.
581 - O planejamento na URSS visava explorar a massa de camponeses para criar capitais para a industrialização.
582 - Curioso esse comentário sobre a similaridade entre os planejamentos: Em linguagem formal, tal identidade é expressa no conceito de “equilíbrio dinâmico expansivo” ou “steady state expansivo”. Amin (1981) ressalta a identidade entre o capitalismo, que emprega essa expansão coordenada, e o sistema socialista, que tinha o objetivo de expansão material, como no caso da URSS buscando a industrialização. Para ele, tal identidade tem de ser lidada com cuidado, caso contrário, corre-se o risco de pensar o sistema econômico socialista como um capitalismo sem capitalistas. Sobre a identidade entre capitalismo e socialismo, no caso em que o objetivo de ambos os sistemas é a expansão contínua da produção, ver também Amin (2000).
583 - A taxa de consumo e de investimento se tornam alvo de algum nível de controle para propiciar o crescimento, ambos os planejamentos procuram lidar com isso.
584 - Na URSS, então, o pleno emprego foi alcançado como resultado colateral, ou seja, como subproduto da determinação para alcançar outro propósito, qual seja, a industrialização. Esse, por sua vez, se expressava, então, nas altas taxas de crescimento econômico que mediam o aumento quantitativo dos meios de produção disponíveis no país. As economias capitalistas, por sua vez, adotaram o planejamento como meio para alcançar a meta específica de resolver o problema do desemprego resultante da depressão econômica dos anos 30. O que chamava a atenção dos planejadores do ocidente na URSS é que ela alcançava esse objetivo, sem tê-lo como meta propriamente dita. Visto que a política econômica derivada da teoria de Keynes dá grande ênfase à manutenção de um nível de emprego como forma de evitar os ciclos, percebe-se que a técnica de planejamento, no capitalismo, é utilizada como meio para manter a população trabalhando em um estado estável de expansão.
585 - O que Oskar Lange percebeu é que o desenvolvimento dos estudos estatísticos sobre a economia capitalista culminava na formação da teoria da programação, cuja aplicação prática só poderia ocorrer em um contexto de condução consciente da produção, onde, dado o nível de desenvolvimento das forças produtivas, os meios técnicos poderiam ser manejados adequadamente para atingirem determinados fins.
586 - Sismondi e Owen já falavam da necessidade de controlar os ciclos da economia. Jevons chegava a achar que os ciclos tinham a ver com manchas solares, negócio louco.
587 - Economia nacional assume lugar de destaque na macroeconomia. Conforme Lessa (1998), Keynes contribuiu largamente para essa separação entre os níveis micro e macro em teoria.
588 - O desenvolvimento da teoria da programação como imposição capitalista expressa-se, de forma nítida, por exemplo, no livro Linear Programming & Economic Analysis, de Dorfman, Samuelson e Solow (1958). A elaboração do livro foi financiada pela Rand Corporation, instituição de pesquisa privada que tinha contrato exclusivo com a Força Aérea Norte-Americana durante a Segunda Guerra Mundial. O livro converte os problemas práticos de suprimento das forças armadas durante o conflito, resolvidos pelo método de programação linear, nos problemas gerais de alocação de recursos na economia.
589 - Perigo de “socialismo” para os mais alertas: A necessidade de efetuar a coordenação entre os setores no capitalismo monopolista criou a estrutura analítica que pode ser usada para controlar a produção e a distribuição global.
590 - No fim, o texto vai concluir o seguinte (o que é engraçado, pois para mim a URSS, até por essa definição, não seria socialista ou tão diferente assim, sendo justamente o tal “capitalismo sem capitalistas” que ele mencionou anteriormente para dizer que o socialismo real não fosse isso): Na sociedade capitalista, a técnica é usada para permitir uma expansão material que empurre constantemente para cima os limites de valorização do capital (tentando evitar o chamado descolamento). Isso é refletido na ânsia contínua por crescimento econômico, tópico central da macroeconomia. (...) Por outro lado, na sociedade socialista, a técnica é usada para atingir metas que são socialmente determinadas, que podem, inclusive, ser a de expansão material, assim como ocorre, na sociedade capitalista, por meio da meta de valorização.
591 - Na frente, o próprio texto vê as semelhanças. Por essa razão, em nível formal, as economias socialista e capitalista podem ser modeladas pela dinâmica do insumo-produto de forma idêntica, quando as metas são as mesmas. Bresser-Pereira (2005) denomina esse novo formato do sistema de “capitalismo dos técnicos”.
592 - Oskar Lange seria a grande referência socialista no tema. (Deve ter sido inspiração de Ignácio Rangel).
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