Site Voyager - As Falácias de Narloch
Site Voyager - As Falácias de Narloch:
173 - Omite que a alforria ocorria principalmente entre os cativos domésticos e das cidades. Omite que para a imensa maioria dos escravizados nos trabalhos agrícolas, a libertação estava fora do horizonte de possibilidades. Despreza também a luta dos escravizados na abolição.
174 - Thomas Jefferson possuía escravos quando falava em liberdade, mas sobre Zumbi não há provas: mais importante ainda é o reconhecimento de que não há suporte documental para se afirmar que Zumbi possuía escravos, mandava matar fugitivos ou sequestrava mulheres.
175 - Escritos em que Narloch se baseia: Essa gente, por razões óbvias, odiava o Quilombo de Palmares e tentava o tempo todo provar que a vida ali era ainda pior do que nas senzalas, daí as acusações do lugar ser um antro de ladrões, assassinos e estupradores. Imagem, aliás, coincidente com a que boa parte da elite brasileira atual faz das comunidades carentes.
176 - Além disso, os reinos africanos não eram socialmente homogêneos. Reis, guerreiros e comerciantes ocupavam o topo da escala social e participavam do tráfico, que existiu antes mesmo dos europeus chegarem a esse continente. (...) Quem se envolvia com o tráfico não eram os “africanos” como um todo, mas sim uma pequena parcela.
177 - Há tempos, João José Reis e Eduardo Silva chamaram a atenção para os múltiplos efeitos dessas divisões. Um escravo ou escrava nascidos no Brasil conheciam apenas, do ponto de vista existencial, a vida no cativeiro. Se fossem escravos domésticos, a tendência seria de conviver mais com a família senhorial do que com o pessoal da senzala. Se vivessem em cidades ou vilas, ficavam expostos a contatos com a vizinhança, conseguindo amigos e protetores brancos. (...) Dessa forma, as trajetórias de vida dos cativos e cativas domésticos nascidos no Brasil e moradores em cidades podiam ser muito diferentes das registradas entre escravos africanos cortadores de cana-de-açúcar.
178 - Havia conformismo, algo sempre muito enfatizado por Narloch, mas havia também centenas de quilombo. A experiência da escravidão mostra que sistemas sociais extremamente injustos podem perdurar durante séculos, desde que haja divisões e rivalidades entre os oprimidos.
179 - Eu indico o livro de Adam Hochschild, onde ele conta como um pequeno grupo de pessoas conseguiu mobilizar a opinião pública britânica, inclusive com a adesão de quase 300.000 pessoas ao boicote do consumo de açúcar produzido em áreas escravistas.
180 - Narloch “se esquece” de que a escravidão só terminou mesmo em 1888 (e olhe lá), décadas depois das campanhas inglesas. (...) na segunda metade do século XIX, o movimento abolicionista inglês entra em declínio. O historiador português João Pedro Marques faz um balanço dessa questão e aponta como uma das razões disso a ascensão das teorias biológicas racistas. Esse período também foi acompanhado pela conquista europeia de novos territórios. Na África, a escravidão voltou a ser tolerada, sobrevivendo em colônias inglesas, como ocorreu em Serra Leoa, até 1928. Conforme afirma Mike Davis, quando não era possível a escravidão, a alternativa era o extermínio. Na África do Sul chegou-se a adotar o genocídio como política oficial.
181 - Enfim, no século XIX, não é difícil encontrar muitíssimos relatos de atrocidades cometidas pelo Estado inglês contra africanos. Por isso, o melhor seria combinar que o agradecimento da “África”, ou do “movimento negro da América”, aos ingleses fosse acompanhado por um pedido de desculpas desses últimos ao continente africano e demais grupos humanos atormentados pelo imperialismo vitoriano.
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