Gustavo Machado - Revolução Russa, as idas e vindas da consciência
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Gustavo Machado - Revolução Russa, as idas e vindas da consciência:
134 - … Em sua História da Revolução Russa, Trotsky comenta sobre a “lenda pouco inteligente que retrata a história do bolchevismo como uma emanação da pura ideia revolucionária”. (...) A cada nova situação, o partido se adaptava apenas por meio de uma crise interna” (TROTSKY, 2007b, p.906).
135 - A miséria do jovem proletariado russo atingiu, naquela época, um nível tão elevado que em janeiro de 1905 cento e cinquenta mil operários de São Petersburgo se dirigiram ao palácio do Czar, o autocrata que dominava toda Rússia, para reivindicar condições de trabalho que permitissem atender as necessidades básicas, principalmente a jornada de 8 horas de trabalho. (...) Mas se engana quem pensa que eles foram protestar contra o Czar. Ao contrário. Na época, o ditador russo gozava de um prestígio quase religioso entre os camponeses e operários. (...) Acreditavam que os patrões e os funcionários estatais fossem os únicos vilões, mas o Czar seria o representante de todo o povo, estando apenas mal informado sobre a sua real situação. (...) Quem conduzia esses 150 mil operários não era nenhum sindicato, central sindical ou partido revolucionário, mas um padre.
136 - Ocorre que esse movimento foi recebido por metralhadoras em um episódio que ficou conhecido como “Domingo Sangrento”. Esse processo iniciou a primeira Revolução Russa que foi, depois de muitos meses de batalha, derrotada.
137 - Jornal “The Times” de Londres nos desfiles do tricentenário dos Romanov em 1913: Não há dúvida de que nesse forte apego das massas à pessoa do imperador está a grande força da autocracia russa” (grifo nosso) (FIGES, 1999, p.43).
138 - A traição do SPD e outros em 1914: O que poucos sabem é que em função dos conflitos imperialistas desenvolvidos na época, particularmente da Alemanha contra a França e Inglaterra, a atmosfera nacionalista tomou conta de toda a Europa. Em diversos casos, foram os próprios trabalhadores que, reunidos em torno do parlamento alemão, exigiram da Social-Democracia a aprovação dos créditos de guerra. Cita fontes que tratam da popularidade da guerra.
139 - “Social-chauvinismo”. Ora, nesse cenário, Lênin e os bolcheviques, que se opunham a guerra, ficaram em absoluto isolados. Além do oportunismo, criticou a ajuda ao ‘próprio’ governo numa situação difícil, ao invés de utilização das dificuldades para os fins da Revolução. (...) Além disso, os revolucionários russos estavam tão divididos entre si desde o revés de 1905 que ninguém mais acreditava capazes de atingir seu fim. Mas a terra plana não gira, capota: (...) três anos depois, já durante o governo provisório que sucedeu a Revolução de Fevereiro, não havia um só russo que não acreditasse que os bolcheviques eram os únicos que poderiam retirar a Rússia da guerra.
140 - Poucos sabem que os bolcheviques, a princípio, se opuseram a manifestação de 8 de março de 1917 [no calendário gregoriano] que culminariam da derrocada da centenária autocracia russa. E o motivo foi, acreditem, uma avaliação equivocada da consciência imediata dos operários russos. Meses antes desses acontecimentos, no final de 1916, os bolcheviques lideraram uma série de greves em Petrogrado em função das condições econômicas precárias dos operários. No entanto, em meio a crise produzida pela Grande Guerra, essas greves foram derrotadas e terminaram com demissões em massa. Nesse contexto, “quando se criou um comitê para organizar as manifestações de 23 de fevereiro, previstas para a jornada das operárias, os bolcheviques recursaram sua colaboração, por julgarem que toda tentativa dessa natureza era prematura. Não tinham exaustivamente provado os reveses dos meses precedentes?”. Para se ter uma ideia, dirigentes bolcheviques temiam ser fisicamente agredidos nos bairros operários caso convocassem a referida manifestação. No entanto, “no dia 23 de fevereiro de manhã, vendo que, não obstante, os grevistas saíam em passeata, decidiram participar dela” (FERRO, 1974, p. 31-32).
141 - Lênin em fevereiro de 1917: Nós, os da velha geração, talvez não cheguemos a ver as batalhas decisivas dessa revolução. Não obstante, creio que posso expressar com plena segurança a esperança de que a juventude, que está trabalhando tão magnificamente no movimento socialista na Suíça e de todo o mundo, não só terá a sorte de lutar, mas também de triunfar na futura revolução proletária. (grifo nosso) (LÊNIN, 1980, p.99).
142 - Os aliados, por sua vez, pretendiam provocar a queda dos Soviets, não apenas isolá-los da Europa por “um cordão sanitário” de pequenos Estados-tampões. Entretanto, soltados franceses e britânicos se amotinaram a partir de outubro de 1918, recusando-se a lutar contra o bolchevismo. Estas centelhas iriam logo multiplicar-se, suscitando nos dirigentes ocidentais uma preocupação maior ainda que a agitação mantida na própria metrópole pelos socialistas anti-intervencionistas. Seu efeito simultâneo foi que em 1919 Clemenceau e Lloyd George hesitaram em enviar novas tropas à Rússia. Não iriam elas voltar à Europa e executar a revolução social? (FERRO, 1974, p. 96)
143 - Trotsky após a revolução concluiu que “as massas entram na revolução social não com plano preparado de reconstrução social, mas com um sentimento agudo de não poderem mais suportar o velho regime”. Falava ainda de vários elementos conservadores - ex-pequena burguesia, ex-camponês - compondo o próprio movimento operário e, em março de 1917, o Partido Bolchevique continuava sendo uma insignificante minoria da classe operária e, além disso, existiam desacordos dentro do próprio partido. A imensa maioria dos operários apoiava os mencheviques e os “socialistas revolucionários”, isto é, os social-patriotas conservadores.
144 - Convenceram todos de que o inimigo não era invencível. Se o Partido Bolchevique tivesse fracassado nesta tarefa, não se poderia nem falar no triunfo da revolução proletária. Os sovietes teriam sido esmagados pela contrarrevolução e os minúsculos sábios de todos os países teriam escrito artigos dizendo que só visionários sem fundamento poderiam sonhar com a ditadura do proletariado na Rússia, sendo a classe operária, como era, tão pequena numericamente e tão imatura. (TROTSKY, 1978, p.92).
145 - A realidade que desembocou na Revolução Russa de 1917 não se diferencia da atual pelas confusões, ilusões e atrasos os mais diversos na consciência dos indivíduos e dos trabalhadores. (...) Mas foi decisivo, sim, sem dúvida, a existência de um partido que nunca deixou de acreditar na atualidade da revolução e por ela regeu sua intervenção.
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