Site Voyager - Contra o Neostalinismo e Seus Mitos (Resposta a Jones) II
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198 - “Nós absolutamente não absolvemos Stalin da responsabilidade pela fome. Suas políticas para com os camponeses eram implacáveis e brutais. Mas a história que surgiu neste livro é de uma liderança soviética que estava lutando com uma crise de fome causada parcialmente por políticas erradas, mas era inesperado e indesejável. O pano de fundo da fome não é simplesmente o fato de as políticas agrícolas soviéticas derivarem da ideologia bolchevique, embora a ideologia tenha desempenhado seu papel. Eles também foram moldados pelo passado pré-revolucionário russo, as experiências da guerra civil, a situação internacional, as circunstâncias intransigentes da geografia e do clima e o modus operandi do sistema soviético tal como foi estabelecido sob Stalin. Eles foram formulados por homens com pouca educação formal e limitado conhecimento da agricultura. Acima de tudo, foram uma consequência da decisão de industrializar este país camponês a uma velocidade vertiginosa.” (Davies e Wheartcroft, Years of Hunger, pp 441)
199 - A pitada de verdade (há invenções na história mesmo): Segundo a narrativa dos neostalinistas, por exemplo, em 1935 o jornalista americano William Hearst teria visitado a Alemanha nazista e recebido a notícia da suposta fome da Ucrânia diretamente do Goebbels e depois espalhado a mentira pela imprensa mundial. De fato, o jornalista Thomas Walker publicou, no New York Evining Journal, empresa controlada por Hearst, uma matéria manipulada sobre o assunto. O que resultou desmentido, que saiu no The Nation, assinado pelo jornalista Louis Ficher.
200 - Há basicamente dois importantes relatos, que apareceram ainda em 1933, dos jornalistas Gareth Jones e Malcolm Muggeridge. Gareth viajou para URSS em de março de 1933 e conseguiu entrar na Ucrânia de forma clandestina. Lá ele presenciou a condição de penúria que a população local passava. Detalhe: Gareth iria morrer em 1935 e, suspeita-se, que ele tenha sido assassinado a mando da NKVD. Antes dele, o jornalista Muggeride, na época um comunista, já tinha relatado a existência da fome. O relato de Gerath, sobretudo, é ignorado pelos negacionistas do Holodomor porque eles desmentem a tese de que essa história teria sido inventada por Goebbels e Hearst em 1935.
201 - … Mas, seja como for, toda essa discussão se tornou anacrônica após a abertura dos arquivos soviéticos. O livro do Douglas Tottle, por exemplo, é da década de 1980. Hoje as fontes disponíveis são muito mais amplas, elas vão muito além dos relatos dos viajantes. Há inclusive correspondências secretas, enviadas para o próprio Stalin, relatando o problema. Como disse, há trabalhos mais recentes com cerca de 500 páginas apenas de referências.
202 - Transcreve inúmeras cartas secretas assustadoras. Falam de fome e que as pessoas estavam começando, por isso, a ficar contra o regime ou boicotar as fazendas coletivas. Relatam decepção e perda de credibilidade. Algumas são dolorosamente desesperadas. Um trecho desta aqui mostra bastante revolta política: “Embora você, camarada Stalin, seja aluno de Lenin, seu comportamento não é de Lenin. Lenin ensinou: fábricas para trabalhadores, terras para camponeses — e o que você está fazendo? Você tira não apenas a terra, mas também o gado, a cabana, os pertences dos camponeses médios e dos pobres. Se você expulsou Trotsky e o chamou de contra-revolucionário, então, camarada Stalin, você é o verdadeiro e primeiro trotskista, e estudante não de Lenin, mas de Trotsky. Porque Fomos ensinados no círculo político que Trotsky se ofereceu para construir intensamente a indústria pesada às custas do homem. A acumulação inicial nos países capitalistas ocorreu às custas de camponeses carentes, artesãos arruinados e às custas dos filhos dos pobres. E a acumulação inicial em nós ocorre às custas de milhões de camponeses trabalhadores honestos, suas esposas e filhos. Exatamente a prescrição dos tubarões capitalistas, mas vinda de Trotsky e Stalin.” (Uma nota de rodapé afirma que não era bem essa a ideia de Trotsky, que discordou do método de industrialização stalinista desde o início)
203 - Avanços morais foram revertidos. Quanto à perseguição aos homossexuais, os neostalinistas alegam que os países capitalistas também faziam o mesmo. (...) Num primeiro momento, eles dizem que a URSS teria sido pioneira nos direitos civis. Quando verificamos se tratar de mais uma mentira, eles aparecem com essa história de “anacronismo”.
204 - Constituição soviética de 1936 era para inglês de esquerda ver. No Capítulo X, artigo 128, está escrito: “é garantido a inviolabilidade de domicílio e a inviolabilidade da correspondência são também garantidas pela lei”. Porém, sabe por qual motivo Alexander Soljenítsin foi preso? Ele escreveu cartas que continham críticas ao governo.
205 - … “o próximo (18º) Congresso do Partido, que se reuniu na primavera de 1939, continha míseros 37 sobreviventes dos 1827 delegados que tinham estado presentes no 17º em 1934”. (Era dos Extremos: pg 381).
206 - “... a Constituição de 1936 foi adotada na véspera do Grande Terror do final da década de 1930; as eleições ‘completamente democráticas’ para o primeiro Soviete Supremo permitiram apenas candidatos incontestados e ocorreram no auge da violência selvagem de 1937”.
207 - Não foi só o capitalismo… Os gulags nada mais eram que campos de trabalho forçado, ou seja, escravo. Sem falar nos camponeses que foram aprisionados novamente a terra, como na época da servidão. “Muito pouco se pode dizer em favor da política camponesa e agrícola, a não ser que os camponeses não foram os únicos a carregar o fardo da “acumulação primitiva socialista”, como se tem dito. Os trabalhadores também arcaram com parte do fardo da geração de recursos para investir no futuro” (Era dos Extremos: 373).
(continua...)
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