Site Voyager - Seis Mitos Sobre Economia

 

Site Voyager - Seis Mitos Sobre Economia:

531 - Freud e a racionalidade: assim como Kant nos advertiu para não negligenciarmos o fato de nossas percepções serem subjetivamente condicionadas e não poderem ser encaradas como idênticas ao que é percebido como incompreensível, a psicanálise nos adverte para não equiparar percepções através da consciência dos processos mentais inconscientes que são seu objeto”.

532 - A ideologia do “homo economicus” racional: Esse princípio costuma apelar a uma narrativa pronta: de que nos primórdios as sociedades eram estruturadas em torno do escambo. Uma pessoa precisava de carne de vaca, levava seu artesanato de madeira para trocar no vizinho.

533 - Desde as primeiras décadas do século XX até hoje não foi possível constatar onde e quando em qualquer região do planeta se teria processado essa descrição hipotética da evolução econômica. - HUMPHREY, Caroline – Barter and Economic Disintegration.

534 - Afirma que o escambo nunca foi sistemático, mas sim eventual. Geralmente com grupos externos e revestidos de ritualidades e simbolismo.

535 - Antes de haver mercados com as transações mediadas por moedas, os primeiros instrumentos monetários eram símbolos de créditos virtuais. Isso mesmo. Eram símbolos virtuais de que a pessoa possuía um dado crédito por possuir algo (como cereais, por exemplo), em depósitos administrados por uma instituição oficial (realezas, aristocracias, sacerdócios, exércitos, etc.) - Graeber é a fonte aqui, mas cita mais livros em outras passagens.

536 - Os primeiros mercados mediados amplamente por moedas nas suas transações que temos registros foram instituídos a partir de prescrição de impostos de governantes para bancar exércitos mercenários, oficializando assim a moeda válida no território “protegido”; e foram regulados por estes mercenários. Exemplos são o primeiro dinheiro “indiano”, que apareceu durante o sexto século a.C. e que consistiu de barras de prata. As primeiras moedas cunhadas do mundo apareceram em Lídia (moderna Síria) em torno do mesmo período [5]. (...) O eminente medievalista Jacques Le Goff realizou um exame criterioso no período que abrange os séculos XII a XV d.C. e constatou que o dinheiro não representava um papel institucional amplo e difuso no sistema econômico, mesmo das cidades-estado italianas com maior dinamismo para aquele tempo.

537 - … Le Goff: Pareceu-me uma imposição precisar, como já o fizeram muitos historiadores notórios, que o capitalismo não nasceu na Idade Média, e até mesmo que a Idade Média não foi um período pré-capitalista: a penúria de metais preciosos, a fragmentação dos mercados impediam as condições para isso”.

538 - Seria interessante pesquisar essa reforma de Locke: O mercado de ações evoluiu a partir das Províncias Unidas dos Países Baixos para bancar guerras com emissão de títulos. O sistema bancário moderno emergiu com o poder de fabricar dinheiro a partir do nada. E a primeira reforma tentada sobre isso, por John Locke, para ancorar seu lastro em metais, terminou em escassez de moeda, deflação, queda nos salários, fome.

539 - Bancos criam crédito - novos ativos e passivos - desde antes de um BC: Isso precedeu em séculos os modernos bancos centrais, que não possuem poder controlador sobre o processo, mas podem encarecer ou baratear. O que realmente limita a circulação monetária é a disposição de cidadãos, firmas e governo em se endividarem.

540 - A despeito das retóricas que misturam chauvinismo, xenofobia, ignorância e buscas de bodes expiatórios por parte de uma direita militante estridente, as quais se manifestam também na islamofobia, a ironia é que o único sistema histórico dotado de um mercado relativamente “quase-livre” até hoje foi o sistema-histórico islã medieval, a partir da região persa, onde mercadores eram venerados.

541 - Adam Smith e os islâmicos: Na sua biblioteca continha várias traduções latinas de pensadores persas, como Tusi (século XIII) e Ghazali (século XI), plagiando – e adaptando – deste último seu famoso exemplo da fábrica de alfinetes.

542 - As bases legais da propriedade privada do direito romano derivaram do sistema de escravidão dos mesmos. Ius Dominium – relação de poder absoluto sobre algo. Antes do final do período da República, até quando vigorou a Lei das Doze Tábuas, os escravos tinham um status e valor pessoal muito menor do que pessoas livres, mas eram dotados de consideração enquanto pessoas. Foi então que (nos finais do século II a.C.) Dominium entra na jurisprudência justamente quando Roma passou a ter uma economia organizada de forma escravocrata com a abundante disponibilidade de cativos, que eram propriedade de outra pessoa. Dominium veio de dominus, um “senhor”, proveniente de domus, “casa” com a conotação de unidade familiar, como “casa de Fulano”. Assim, pôde ser alterada a noção de relação, que era algo entre pessoas, para também entre pessoas e coisa, a partir de que antes algumas pessoas foram consideradas “coisificadas”. A relação social de poder absoluto de um senhor sobre um escravo, na jurisprudência romana, foi estendida para a relação social de poder absoluto sobre uma coisa ante as demais pessoas que não teriam poder algum sobre ela.

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