Site Voyager - Contra o Neostalinismo e Seus Mitos (Resposta a Jones) I
Site Voyager - Contra o Neostalinismo e Seus Mitos (Resposta a Jones):
189 - Gulags: Pois bem, o problema é que, quando a gente vai olhar a bibliografia selecionada, percebe que, dos 11 livros destacados, nenhum deles é dedicado exclusivamente à temática dos gulags. Nenhum! Ou seja, o autor quer “desmascarar” a historiografia sem recorrer a fontes primárias e com fontes secundárias muito precárias. Mas as falhas não terminam aí. (...) Apenas dois livros analisam, em pelo menos um dos seus capítulos, a temática (Stalin: História crítica de uma lenda negra, Domenico Losurdo, e O Século Soviético, Moshe Lewin). (...) O Século Soviético é um livro de extrema importância e, até hoje, é referência para os estudiosos da história soviética. Porém, as passagens citadas foram cuidadosamente selecionadas. O youtuber pinçou apenas os trechos mais favoráveis à conclusão que ele queria chegar, os quais são passagens referentes apenas aos anos 20, enquanto todas as transformações posteriores — justamente no período de Stalin, que , segundo o próprio Moshe Lewin, teriam sido desumanas — foram ignoradas. Tudo foi apagado pela argumentação do youtuber. Quem quiser conferir, basta abrir tal livro para perceber a manipulação.
190 - ... Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Em relação ao outro autor escolhido, Domenico Losurdo, o youtuber não precisou selecionar os trechos mais convenientes. O próprio Losurdo já havia feito esse trabalho. A pesquisa do filósofo italiano também não contou com fontes primárias e os autores citados, Anne Applebaum e Oleg Khlevniuk, foram inseridos também com trechos pinçados cuidadosamente, poupando o trabalho do youtuber, que acabou citando a Anne Appleblaum de terceira mão, sem, de fato, ter lido o trabalho da pesquisadora, a qual, inclusive, é uma autora extremamente crítica ao stalinismo. (...) O mais interessante é que o livro da Anne Applebaum está disponível gratuitamente na internet, bastaria ele ter pesquisado no Google. Mas não. Nada disso interessava. Afinal, o que menos importava era a pesquisa séria, mas ter algum material para embasar a conclusão que ele já havia estabelecido no início.
191 - O livro História do Marxismo VII, por exemplo, reúne o que há de melhor no pensamento marxista e nele tais crimes são debatidos de forma muito séria. O próprio Eric Hobsbawm, na Era dos Extremos, reconhece que o número de mortos ficou entre 10 e 20 milhões.
192 - Por que não houve grave decréscimo demográfico? As práticas sexuais consideradas desviantes seriam severamente reprimidas. A sodomia, por exemplo, foi considerada crime (um homossexual poderia passar até cinco anos em um gulag). O aborto passou a ser visto como ato egoísta da mulher e acabou proscrito em 1936. (...) A partir de 1944, criaram-se medalhas para as mulheres que engravidavam. Para serem nomeadas mães heroínas da União Soviética, honraria máxima, era preciso ter no mínimo 10 filhos.
193 - Nem tudo foi a colonização forçada. Ainda assim: O próprio Eric Hobsbawm fala desse censo em seu livro Era dos Extremos: “Acrescento, sem comentário, que a população total da URSS em 1937 era tida como de 164 milhões, ou 16,7 milhões menos que as previsões demográficas do Segundo Plano Quinquenal” (Era dos Extremos: pp 383). Diz o texto que Stálin mandou matar quem fez o levantamento estatístico. (Não cita fonte).
194 - Holodomor e as fotos: No caso da URSS, não houve libertação e, portanto, as fotos são mais escassas. Mas elas existem. O fotografo Alexander Wienerberger, por exemplo, que passou uma temporada na Carcóvia durante a crise, conseguiu tirar clandestinamente mais de 100 fotos.
195 - … Essa questão do impacto do clima na produção de grão é controversa. Pode sim ter havido uma queda na produção, mas isso não explica a fome e tampouco inocenta os dirigentes soviéticos.
196 - Stalin preferiu mandar recolher todos os grãos das regiões produtoras, deixando essas regiões sem comida. Manteve as exportações de grãos. E, para piorar, em dezembro de 1932, quando a fome estava começando a fazer as primeiras vítimas, ele impôs um passaporte interno que impedia que as pessoas saíssem dessas regiões. Ou seja, ele prendeu milhares de pessoas em áreas sem comida. Para piorar, como demonstrou o historiador Richard J Evans, alguns oposicionistas também foram deportados para essas áreas. Não tem como justificar esse tipo de barbaridade.
197 - Negacionistas: … Porém podem ser considerados estelionatários nomes como Ludo Martens, Grover Furr e Douglas Tottle, pesquisadores que são levados a sério tanto quanto o Olavo de Carvalho.
(continua...)
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