Gustavo Machado - textos sobre Marx, partidos e programas

 

Gustavo Machado - Marx e a questão do Partido, uma fábrica de mitos:

90 - Bicentenário do nascimento de Marx: Mesmo o jornal inglês The Economist publicou uma matéria, traduzida pelo Estadão, com o irônico título “Governantes de todo o mundo, leiam Marx”, acentuando que “seu diagnóstico sobre as falhas do capitalismo” se mostram, sobretudo hoje, de enorme relevância.

91 - Afirma que Marx alternava uma concepção ampla e outra mais estrita de partido. Não bastava a organização, já que uma revolução não é feita por um partido, afirma. O “partido amplo” inclui os interesses da classe operário. Entretanto, até por ter criado e passado por mil organizações, logo se vê que essas eram essenciais. Marx era explícito sobre a necessidade de haver um partido realmente operário, “independentemente das influências burguesas”.

92 - Também era contra conspirações para tomada de poder independentemente do movimento operário. Cita os livros de Marx, como Sr. Vogt e outros textos.

93 - Marx: a minoria substitui a observação crítica pela intuição dogmática, a intuição materialista pela idealista. Para ela, a roda motora da revolução não são as circunstâncias reais, mas a vontade. Nós, ao contrário, dizemos aos operários: terão que passar por quinze, vinte, cinquenta anos de guerras civis e lutas entre os povos, e não apenas para transformar as circunstâncias, mas para transformar a vós mesmos, capacitando-os para o Poder, se não for assim, podemos deitar e dormir. (MARX, 1973, p. 121-2).

94 - Essa discussão toda se dá no contexto da disputa de Marx e Engels pelo programa da Liga dos Justos e, posteriormente, Liga dos Comunistas.

95 - Como se vê, mesmo em uma situação reacionária, Marx advoga um partido que atue em função da revolução e da tomada do poder, jamais pela busca de melhorias a partir da atuação institucional no interior dos governos.

96 - As condições para fazer parte do partido - a Liga - eram bastante rígidas, exigindo grande dedicação dos membros. (Realmente me lembrou o partido leninista). (ex: todos militantes da Liga devam se manter distantes de todas organizações que obstruem o progresso em direção ao seu objetivo final).

97 - Transparece, então que Marx dedicou parte expressiva de sua vida à atividades organizativas. Batalhou por um partido independente da classe operária com um programa delimitado em bases científicas. Se opôs tanto ao núcleo clandestino e puramente conspirativo, quanto a organização assentada em bases institucionais, propensa a administrar o capitalismo, com esse ou aquele viés.

 

Gustavo Machado - Marx e a questão do programa, a ditadura do proletariado:

98 - O pessoal decepa a dialética ora cortando o corpo (a prática política) de Marx, ora a cabeça (análise e proposições, o programa).

99 - “Cada passo do movimento real é mais importante do que uma dúzia de programas” (MARX, 2012, p. 20). Para se ter uma ideia, essa frase está na capa da edição brasileira desse escrito, publicada pela Boitempo Editorial. Descolada de seu contexto, tal citação se assemelha a máxima do social democrata alemão Bernstein: “O movimento é tudo; a meta final, nada”. (...) O que não se divulga é toda a carta em que a citação de Marx mostrada acima foi extraída. Ela aparece no contexto da fusão entre dois partidos que originou a Socialdemocracia alemã em 1875. O primeiro partido era orientado pelas concepções de Marx, os eisenachianos,, e o segundo por Ferdinand Lassalle.

100 - Na verdade, um programa é tão relevante que Marx esculhambou o de Gotha, chamando de nefasto. Defende que deveria ter “sido previamente esclarecido de que não haveria nenhuma barganha de princípios”. Longe de ter defendido a unificação nos termos do programa de Gotha, Marx diz que seria melhor “ter firmado um acordo para a ação contra o inimigo comum”, possibilitando que um “programa possa ser preparado por uma longa atividade comum”. Não vale tudo pelo “movimento real”.

101 - Se movimento fosse tudo, Marx não passava boa parte da vida brigando por programas.

102 - Marx é explícito no sentido de que a luta deve ser política. Eis a finalidade programática que deve reger todo o programa de um partido revolucionário: a tomada do poder pelo proletariado.

103 - Já em 1850, Marx apresentava em programa a necessidade de “ditadura do proletariado”, abolindo as classes e o modo de produção.

104 - “Este socialismo (isto é, o comunismo) é a declaração da permanência da revolução, a ditadura de classe do proletariado como a ponto de trânsito necessário para a abolição das distinções de classe em geral” (MARX, 1978b, p.387, grifo nosso).

105 - Marx afirmou, em 71, que faltou um exército proletário na Comuna.

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