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470 - A Crise de 2008 é uma crise provocada por uma ideologia que prega serem os mercados os melhores reguladores da sociedade. Segundos seus militantes, a democracia e o direitos sociais são empecilhos que impossibilitam o funcionamento ótimo do mercado, o que prejudicaria toda a sociedade.

471 - Exemplos de livre-mercado: O filósofo Michael Sandel nos dá exemplos práticos do que esta defesa fanática pela submissão de todas as esferas da vida à lógica do mercado têm promovido. Desde pagamento por melhores lugares nas prisões, barrigas de aluguel, cobaias humanas em testes de laboratório, tropas mercenárias em conflitos na Somália e Afeganistão, comércio de sangue, mercados de futuro de terrorismo. Nada escapa, tudo se torna quantificável para venda.

472 - Fannie Mae e Freddie Mac: Essas empresas, há mais de 55 anos, são empresas privadas que deixaram de ser garantidoras de empréstimos do governo.

473 - Democratas na era Clinton pensaram em subsidiar a habitação, porém...: O governo reagiu cedendo aos republicanos parcialmente, substituindo os subsídios e planos de habitação pela concessão de vouchers portáteis, um tipo de vale-crédito para os beneficiários se arranjarem com empresas privadas.

474 - Contudo, entre 1999 e 2003, as empresas Fannie Mae e Freddie Mac foram alvo de auditorias implacáveis, depois dos escândalos das PontoCom com a maquiagem e trapaça no balanço das empresas privadas. Então, até 2005, não tiveram atuação de peso diretamente nos “empréstimos duvidosos”. As agências de classificação de risco privadas lhes atribuíam o mesmo peso de garantia dos títulos de tesouro dos EUA. (...) Não podiam entrar nos negócios subprime (os instrumentos de crédito de alto risco), posto que mutuários de renda média não podiam sustentar garantias que pudessem ser negociadas na bolsa (principalmente as hipotecas).

475 - Barry Riholtiz, um chefe de um importante escritório financeiro, considerado um dos mais importantes jornalistas econômicos dos Estados Unidos, colunista do Bloomberg e do Washington Post, tendo nada de “esquerdista”, ofereceu US$100.000,00 para quem provasse que ele estava errado acerca da loucura que é culpar as Fannie e Freddie pela da supercrise.

476 - Aponta também que, até 2005, o mercado de subprimes é Wall Street, e não essas duas empresas.

477 - Em 2005, as Government Sponsored Enterprises (GSEs), empresas patrocinadas pelo poder público (criadas pelo Congresso) para facilitar o acesso ao crédito, não podiam adquirir papéis de hipotecas duvidosas. A quota nelas do mercado de hipotecas mais inseguras caía entre 2004 a 2007, quando experimentou uma alta, devido à farra do retorno em relação ao risco. Já emprestadoras privadas, como a Countrywide, operavam no mercado subprime. Tudo avalizado por econometristas confiantes na suposta eficiência dos mercados.

478 - O que os lobistas do darwinismo social de livre mercado podem dizer da Europa, sem Fannie e Freddie, mas igualmente necessitada da estatização em massa de bancos e recuperação do sistema financeiro? Como culpar o Estado, se é flagrante que a crise foi provocada por empresas privadas se valendo da desregulação?

479 - Nos EUA, foi criado um instrumento institucional chamado Community Reinvestment Act (CRA), para evitar que bancos discriminassem moradores de bairros periféricos na concessão de créditos. (...) a lei já estava em vigor desde 1977, trinta anos antes. Durante todo esse tempo não fez estourar “bolha” alguma. (...) Lembrando que, como já citado, esse financiamento habitacional popular ainda se enfraqueceu durante o governo plutocrata de Ronald Reagan. Soma-se ainda o fato de que esse sistema só se aplicava a bancos depositários, os quais são uma fração mínima do bancos que faziam “empréstimos duvidosos” e que provocaram a crise de 2008.

480 - Tais novos instrumentos foram, na verdade, criados na transição de século por aqueles que acreditam em dogmas dos mercados eficientes que se autorregulam, nos dogmas das alocações racionais dos agentes (vistos como átomos isolados) e dos preços refletindo todas as informações relevantes, tendendo ao equilíbrio. Foram esses instrumentos, baseados nesses dogmas, que se agrupavam e dividiam as hipotecas em parcelas qualitativas, para depois as vender como produtos separados, permitindo que os bancos contratassem crédito sem se preocuparem com a situação econômica dos hipotecários.

481 - Relembrando a crise de 2008. OS CDO’s misturavam empréstimos, escamoetando (os riscos dos) os títulos podres e preservando sua vantagem (os altos prêmios de risco). A Lei de Modernização dos Mercados Futuros de Commodities, implementada no arcabouço da ideologia monetarista (a qual acredita que, com uma moeda estabilizada, o mercado proverá equilíbrio e funcionamento da sociedade), veio possibilitar que essas pirâmides chegassem a alturas ainda muito maiores. Cada CDO foi securitizado sob a forma de CDS (contratos nos quais o vendedor se compromete a reembolsar, corrigido a juros, os pagamentos do comprador se os instrumentos de crédito não forem honrados), quando então seus riscos não constavam mais nos balanços da instituição financeira — o que efetivamente fez o crédito ficar muito mais barato.

482 - Foram os juros baixos a farra? Texto diz que não. Os preços subiam, mas a avaliação de risco de mercado continuava a cair nas instituições financeiras privadas, aumentando a oferta creditícia e incentivando-se a ofertar mais. Um ciclo vicioso no mercado que, na complexidade social, não assimila e corrige devidamente os riscos sistêmicos, mas tende a deixá-los acumular até o caos. (...) Na verdade, o que as autoridades monetária fizeram, sob controle do presidente do FED Alan Greenspan, fã confesso de Ayn Rand e Milton Friedman, dois ícones do neoliberalismo,[11] foi exatamente um “desintervencionismo”, ao deixar a moeda flutuar sem intervir para enxugar a liquidez circulante, deixando a taxa de juros baixa.

483 - Traz trechos das autoridades dizendo que regulação privada do mercado bastava.

484 - Não foi só a desregulação do fim do governo Clinton. O governo Bush, a partir de 1999, aplicou mais desregulamentação por meio do Office of the Comptroller of the Currency (OCC), bloqueando a supervisão dos subprimes pelas unidades federativas. Em 2003, deu atribuições esquisitas ao OCC para bloquear iniciativas dos Estados que quisessem submeter os empréstimos subprime a supervisões. Agravando o processo, a lei de desregulamentação chamada Gramm-Leach-Bliley, de autoria de Phil Graham, senador republicano pelo Texas, foi promulgada.

485 - A divisão de produtos financeiros do American International Group (AIG), por exemplo, obteve 2,5 bilhões de dólares de lucro bruto em 2005, basicamente revendendo seguros subvalorizados sobre títulos complexos e não muito bem compreendidos. Geralmente descrita como ‘caçar níqueis na frente de um rolo compressor’, essa estratégia é lucrativa nos anos comuns e catastrófica nos anos ruins. Quanto a esta última queda, o AIG teve seguros não pagos sobre mais de 400 bilhões de dólares em títulos.

486 - Em outras palavras, o senhor descobriu que sua visão de mundo, sua ideologia, não é cor-reta” — interpelou Waxman. “Ela não estava funcionando?”

“Exatamente” — respondeu Greenspan. Foi exatamente por essa razão que fiquei chocado. Porque há 40 anos ou mais eu tinha provas consideráveis de que funcionava.

487 - (Segundo lembro bem, o doc “Inside Job” explica as coisas de forma mais didática que esse texto).

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