Livro: Armen A. Alchian, William R. Allen - Universal Economics - Prefácio e Capítulos 1 e 2

                                                                                                                      

Livro: Armen A. Alchian, William R. Allen - Universal Economics



Pgs. 21-23


"PREFÁCIO"


1 - Trata-se de um prefácio, escrito aparentemente em 2013 pelo co-autor William R. Allen: ...Armen Alchian — um colega, mentor, coautor e virtual irmão mais velho meu — nos deixou, aos noventa e oito anos, em fevereiro de 2013. (...) Nesta era pós-Segunda Guerra Mundial, havia um grupo considerável de teóricos inovadores e aplicadores de análises frutíferas. Poucos dessa elite foram tão úteis quanto Armen A. Alchian. 


2 -  O começo, não posso negar, é bem engraçado: Vários tipos de observadores e conselheiros autonomeados — teólogos, poetas, filósofos — há muito tempo trabalham para resolver alguns dos mistérios agridoces da vida. E agora somos abençoados com economistas.


3 - Armen e eu nos tornamos colegas da UCLA em 1952. Colaboramos em vários empreendimentos, principalmente na escrita de University Economics (Wadsworth Publishing Co., 1964, 1967, 1972) e Exchange and Production (Wadsworth Publishing Co., 1969, 1977, 1983). Este é um novo volume, embora tenha semelhanças familiares com seus predecessores.



PARTE UM - DEMANDA, TROCA E DIREITOS DE PROPRIEDADE 



Pgs. 24-38


"CAPÍTULO 1: "BEM-VINDO À ECONOMIA"


4 - Considere este livro. Milhares de pessoas — além dos autores — contribuíram para colocar este livro em suas mãos. Alguns fizeram papel; alguns fizeram tinta e cola; alguns editaram o manuscrito; alguns imprimiram, armazenaram, promoveram e distribuíram o produto. Nenhuma pessoa planejou e supervisionou completamente tudo isso, e ninguém era especialista em executar cada uma das inúmeras tarefas. No entanto, você tem o livro.


5 - Tão engraçada quanto boa essa definição: Um “bem”, como essa palavra é usada em Economia, é qualquer coisa da qual mais é preferível a menos. (...) Se um bem, por mais desejável que seja, é tão abundante que ninguém quer mais dele, é um bem “grátis”. Doravante, a palavra “bem” sempre significará um bem “econômico” (escasso). O caso clássico de um bem gratuito, para a maioria de nós na maior parte do tempo, é o ar: nós simplesmente inalamos, e lá está, sem que sacrifiquemos nada para obtê-lo. No entanto, o ar é um bem econômico para o astronauta e o mergulhador de águas profundas, e assim é o ar fresco para o morador da cidade em um dia de poluição. Detalhe: bem gratuito não é "preço zero". A educação gratuita não é gratuita.


6 - ...Há de se evitar juízos também: Talvez você pense que cigarros não são “bens” e que as pessoas estariam melhor sem eles. No entanto, enquanto alguém pensa que é desejável e quer mais, isso o torna um “bem”.


7 - A concorrência pela violência: Se a violência for tentada em uma escala grande o suficiente (por exemplo, nacional), os perpetradores são condenados somente se falharem. O poder da violência é o quase monopólio zelosamente guardado de um “governo” — pela definição do que é um governo. “Quase monopólio” porque, dentro de uma nação, é frequentemente usado por indivíduos em manifestações de rua para acesso ao poder político. Um governo reprimirá a violência por indivíduos — exceto no reino dos esportes de contato.


8 - Estacionamento em faculdade pública pra quem chegar primeiro é outro exemplo de bem com preço zero que não é gratuito. Os custos não precisam ser em pagamentos em dinheiro. Um preço zero não torna algo gratuito. E se criarmos "cotas" teremos discussões de justiça econômica, digamos. A custosa disputa para obter uma vaga poderia ser evitada pela atribuição prévia aos mais “merecedores” ou “necessitados”. O comitê que distribui privilégios perguntaria: “Quem, além dos professores, são os mais merecedores e necessitados?” Quase não há limite para a engenhosidade dos comitês de distribuição na racionalização de seus favores. Entre os critérios podem estar: distância do campus, idade, saúde, status sênior, tamanho da família, curso do aluno, notas e assim por diante. Mas uma pergunta leva a outra. Por exemplo, aqueles que recebem direitos a uma vaga de estacionamento devem ter permissão para vender os direitos a outros?


9 - O sistema também envolve cooperação.  Cooperamos para tornar a “torta” maior; competimos sobre quanto da torta cada um de nós fica. Qualquer combinação eficaz de cooperação e competição requer um controle dos tipos permitidos de competição para não obstruir a coesão social e a cooperação.


10 -  Competição e discriminação ocorrem mesmo em um mundo imaginário sem dinheiro, sem preços e sem mercados. Como veremos, a supressão de preços de bens e serviços determinados pelo mercado dá origem a formas não monetárias de competição e discriminação. (...) Competição é o esforço interpessoal por mais do que é escasso e desejado — pela produção, pela compra, pelo esforço por poder político, e assim por diante.


11 - Isto aqui é "vero": Cite três estadistas honrados que obtiveram seu status por competindo com sucesso na capacidade de usar a violência e que, se tivessem falhado, teriam sido punidos por traição ou crimes contra a humanidade. Uma porrada.


12 - Sobre a admissão em universidades nos EUA:  O maior uso de fatores além da disposição de pagar é possível pelo fato de que a maioria das faculdades não é de propriedade privada. (Não é bem assim, pois mesmo entes privados por vezes utilizam outros critérios, seja por marketing social ou outra razão qualquer). 


13 - Enfim, este primeiro capítulo traz uma série de "perguntas e respostas" como se tivesse fechando questões. Achei meio raso. Na verdade, grande parte delas é um longo debate, mas o recurso é interessante. 



Pgs. 39-57


"CAPÍTULO 2: "SUA SOCIEDADE ECONÔMICA"


14 - EUA e propriedade privada:  Embora a maioria dos recursos econômicos nos Estados Unidos sejam de propriedade privada e administrados, alguns, como grandes extensões de terra e equipamentos militares sofisticados e massivos, são mantidos como propriedade do governo. Além disso, enquanto cerca de 80 por cento da renda nacional é obtida no setor privado, as compras governamentais de bens e serviços (por exemplo, bombeiros, polícia, defesa, judiciário, educação, estradas, saneamento) respondem pelos outros 20 por cento críticos. (...) Esses gastos do governo incluem navios para a marinha e os salários de todos os funcionários do governo. Exclui-se aqui o pagamento de juros e as transferências sociais.


15 - Transferências do governo aumentam o PIB por ajudarem a compor os consumo das famílias e afins? Isso não significa que a economia seja maior ou que as pessoas sejam mais ricas por causa desses pagamentos de transferência. Esses pagamentos têm que ser financiados por impostos coletados de famílias e empresas — reduzindo assim o consumo privado e os gastos com investimentos — ou pela emissão de dívida governamental adicional — o que também reduz os gastos de famílias e empresas.


16 - As "essências" e seus problemas (ou como descobri que não sou dono do meu corpo...):  Os direitos de propriedade privada contêm três características principais: (1) o direito de tomar decisões sobre as condições físicas e usos de bens específicos , (2) o direito de vender os direitos de propriedade a outras pessoas e (3) o direito de desfrutar da renda resultante e de arcar com a perda da decisão de uso. Esses são direitos exclusivos; todos pertencem à mesma pessoa. Esses três elementos juntos constituem a essência dos direitos de propriedade privada. Se qualquer um dos três estiver faltando, os direitos de propriedade privada não estão presentes. (...) Nenhuma outra pessoa tem o direito de alterar suas características físicas ou usos do bem ao qual você tem o direito de propriedade privada. (Bom... A pessoa jurídica "governo" tem). O caso do vizinho que constrói um imóvel na frente, obstruindo uma bela vista, também é admitido pelos autores logo na sequência. 


17 - Na Inglaterra, até cerca de cem anos atrás, grandes propriedades de terra não eram “alienáveis”. Elas passavam de pais para filhos. Tudo o que o “proprietário-ocupante” podia fazer era viver nela ou aproveitar sua renda se alugada para outra pessoa. Na China, empresas de capital aberto emitem ações de “propriedade” que não são revendáveis sem aprovação do governo. Na Suíça, até algumas décadas atrás, ações em muitas corporações de capital aberto não podiam ser vendidas a outras pessoas a menos que o comprador fosse aprovado pelos diretores corporativos.


18 - Mais relativizações (sujeito em estado de emergência no mar quer salvar sua própria vida):  Um exemplo mais comum de ato ilícito ocorre quando você atraca seu barco no meu cais (com ou sem minha permissão), mas por causa de alguma negligência comprovada de minha parte, seu barco é danificado ou você é ferido. Nesses casos, os tribunais podem me forçar a compensá-lo.


19 - Mais limites: o proprietário não pode declarar sua terra, pra sempre, em testamento, uma reserva permanente de preservação de bicho x ou y.  A regra contra perpetuidades permite restrições ao uso e à vendabilidade de recursos por apenas cerca de vinte e um anos após a morte de pessoas que estavam vivas no momento da morte do doador. Se essa regra não fosse aplicada, os recursos de hoje ainda seriam usados da forma como eram há gerações — um resultado potencialmente pouco atraente.


20 - Uma economia com amplos direitos de propriedade privada sobre a maioria dos recursos é geralmente chamada de economia “capitalista”.


21 - Querem colocar que liberdade de expressão não abarca os protestos/manifestações: “Liberdade de expressão” significa o direito de se comunicar com seus próprios recursos para outros ouvintes dispostos. Enfim, "reclame desde que não seja pra incomodar ou mudar algo". Até "spam" apareceu como exemplo à violação ao direito de propriedade.


22 - Fronteira de possibilidades de produção.  Mais de um bem especificado requer produção reduzida de alguns outros bens.




23 - Geladeiras mais eficientes no uso de energia? Se economiza mais então é mais eficiente? Claro que não.  Se a economia de eletricidade vale mais do que o aumento do custo de produção da geladeira é a questão pertinente, não o fato de que menos eletricidade é usada. (...) Novamente, o conceito de “eficiente” é diferente do conceito de um máximo irrestrito ou “incondicional”. Mais moradias poderiam ser produzidas se não nos importássemos com mais nada. Isso seria moradia máxima, sem mais nada. Todos nós passaríamos fome em casas boas. Ou...  Todos nós passaríamos fome respirando ar perfeitamente limpo. A fronteira pode ser empurrada para fora para produzir mais coisas concomitantemente, mas não costuma ser algo fácil e rápido. Novas máquinas, tecnologias, organização, mais fatores, know-how etc.


24 - Você quer ar mais limpo, mesmo ao custo de menos direção. Eu quero mais direção, mesmo ao custo de menos ar limpo. Nós dois queremos eficiência com relação às nossas misturas preferidas. Portanto, “eficiência” não é uma base para escolher entre combinações alternativas “eficientes”.


25 - O que é ciência? Princípios formam uma “ciência” se as pessoas podem deduzir desses princípios consequências como resultado de eventos iniciais especificados. Se essas consequências implícitas acontecem de forma confiável, esse conjunto de princípios é uma “ciência”. A teoria da física nos diz características do swing de um taco de golfe que farão a bola ir direto de forma confiável. Isso é verdade, não importa quem seja o jogador. A teoria é confiável, mesmo que os jogadores não sejam confiáveis em seu desempenho.


26 - Colocam que a economia não é normativa, mas sim positiva. A economia não nos diz (implica) que os governos devem ser menores em vez de maiores, ou que os impostos devem ser mais baixos ou mais altos. A economia pode prever algumas das consequências de uma lei ou evento, e você pode então decidir por si mesmo se a ação anterior é desejável. E, ainda assim, tudo é probabilidade, colocam, pois quase tudo pode acontecer (quem sabe até tudo...).


27 - Colocam que as pessoas subestimam a regressão á média: Uma das maneiras clássicas de tirar vantagem desse efeito é convidar as pessoas a fazerem algum teste de desempenho — digamos, um teste de leitura — e dizer àqueles que pontuam abaixo da média para fazerem aulas de "melhoria de leitura". Depois das aulas (que podem ser nada mais do que dez respirações profundas ou piscar os olhos três vezes), seu desempenho no teste melhorará em média, porque seu desempenho anormalmente baixo no primeiro teste foi, pelo menos em parte, devido a uma sorte anormalmente ruim (não repetitiva).


28 - Não cometa o erro intelectual de perguntar se a teoria (o conjunto de princípios) é “verdadeira”. Nenhuma teoria é perfeita. Em vez disso, pergunte: “É útil e confiável o suficiente para meus propósitos? Ou seja, levará a implicações e orientações geralmente corretas a um custo suficientemente baixo sem erro intolerável?” Essa é a pergunta a ser feita em todas as disciplinas, seja Química, Física, Biologia ou Economia. (...) Toda teoria é errada e incompleta com relação a algumas coisas — assim como acontece com mapas. No mínimo escapam detalhes.


29 - Arbitrário: A economia pressupõe que as escolhas são feitas por indivíduos, não por um grupo, família, empresa ou governo. Pessoas em grupo também decidem, ora bolas.


30 - Essa parte final dos capítulos, com perguntas e respostas para meditações é um recurso didático excelente, mas fico chocado com as "viagens" dos autores. Escreveram isto aqui sobre o capitalismo mesmo depois da crise financeira de 2008 (e nem precisava dela)?!:  ...Alguém que produz com prejuízo suporta o efeito e é forçado a sair do negócio para alguma outra tarefa, talvez com menos compaixão do que sob um ditador socialista, que pode espalhar a perda para outras pessoas em vez de concentrar o efeito em uma pessoa, o proprietário.


31 - Capitalismo e liberdade? Mesmo se for verdade, depende: Uma gama maior de escolhas pode ser considerada como uma gama maior de tentação, risco, erro, arrependimento e comportamento desviante. Assim como os pais restringem as escolhas das crianças para seu próprio bem, podemos preferir restringir as escolhas dos adultos porque todos retêm alguns impulsos infantis. Se você deseja considerar um sistema ou outro como dando mais liberdade depende do seu significado de “liberdade”. Em um sentido, a liberdade pode incluir proteção contra os custos da tentação e escolhas infelizes; em outro sentido, a liberdade pode incluir o direito de arcar com esses custos e fazer essas escolhas e explorar alternativas tentadoras.


32 - Estavam realmente incomodados com os "occupy" da vida. Usar propriedade da faculdade sem permissão das autoridades da faculdade não é um direito de liberdade de expressão; é simplesmente apropriação de propriedade como se a propriedade fosse livre para ser tomada.


33 - Estão fechados com Pareto:  O que há de absurdo na proposição “Um bom sistema econômico maximiza o bem-estar do maior número possível de pessoas”? (...) Resposta: Apenas uma quantidade pode ser maximizada, desde que todas as outras sejam mantidas em níveis especificados. Você pode maximizar o bem-estar de uma pessoa, desde que o bem-estar de cada uma das outras pessoas permaneça inalterado


34 - Isto aqui eu já estou mais de acordo: Uma teoria pode ser provada verdadeira? Resposta: Não. Logicamente é impossível provar uma teoria. Uma teoria diz que uma afirmação ou proposição X implica logicamente algum evento Y. Empiricamente, se observarmos o evento X e então o evento Y, não podemos inferir que X causou a ocorrência de Y, porque pode haver algo mais (Z, do qual podemos não estar cientes) que causou a ocorrência de Y. Podemos dizer que a evidência apoia a teoria. “Confirmado” ou “validado” entretanto não significa aqui “comprovado”.


35 - Tive outras concordâncias e discordâncias também, mas não quis ficar contestando ou anotando tudo. Toda forma, perguntas são quase sempre válidas. 


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