Econ - Reinaldo Carcanholo - Oferta e Demanda e determinação do Valor de Mercado
Reinaldo Carcanholo - Oferta e Demanda e determinação do Valor de Mercado:
40 - Neste trabalho apresentamos uma interpretação sobre o cap. X do livro III d'O Capital de Marx, procurando superar as dificuldades que o texto apresenta e suas aparentes inconsistências.
41 - Seu ponto é: valor “social” é o valor “apropriado” (ou “de mercado”) e não o valor “produzido”. (...) Dessa maneira o valor social apresenta-se como a dimensão aparencial do valor, a partir do qual, como referência, os agentes podem avaliar os preços de mercado como altos ou baixos. (Obs.: vale dar uma lida logo nos pontos 58 a 62 aqui do fichamento pra entender onde ele quer chegar, já que o cara é muito pouco didático nas coisas que escreve).
42 - Afirma que, em Marx, não há espaço para “definições” (nem sei, afinal, talvez nem tudo seja histórico, como lembra o Gustavo do PSTU), mas que vai dar algumas apenas no intuito de facilitar a comunicação. Ok.
43 - Apesar de que, para Marx, a riqueza capitalista seja representada pela mercadoria (unidade de valor-de-uso e de valor, isto é, unidade de conteúdo e forma) como esta última (a forma) progressiva e permanentemente predomina sobre o conteúdo e tende a dominá-lo de maneira cada vez mais significativa, a magnitude do valor deve ser tomada como a magnitude da riqueza capitalista.
44 - Na sociedade capitalista, quando a produção mercantil já se encontra suficientemente estendida, no nosso entendimento, o valor, em sua magnitude, define-se no instante de sua produção. É verdade que existem respeitáveis intérpretes com opinião diversa, que fazem o valor produzido depender inclusive do tamanho da demanda social (em relação a oferta total), de maneira que, se aquela é menor que esta, consideram que houve trabalho desperdiçado e, por isso, não haveria, nessa exata medida, valor produzido correspondente ao excesso da oferta.
45 - O argumento de Carcanholo é que o próprio Marx coloca que o valor se define na produção: “Só com a troca, adquirem os produtos do trabalho, como valores, uma realidade socialmente homogênea, distinta da sua heterogeneidade de objetos úteis, perceptível aos sentidos. Esta cisão do produto do trabalho em coisa útil e em valor só atua, na prática, depois de ter a troca atingido tal expansão e importância que se produzam as coisas úteis para serem permutadas, considerando-se o valor das coisas já por ocasião de serem produzidas”. (A meu ver, este trecho nada prova. Considerar o valor na produção não quer dizer acerto nesse sentido, identificação ou mesmo realização. Quer dizer apenas que vai se levar a quantidade de trabalho abstrato em conta).
46 - O argumento dele me parece ser o de que o valor é produzido na produção porque sim. O valor foi produzido, mas pode não ser apropriado por ninguém, por ter sido destruído ou por não ser aproveitado. (como é possível chamar de “valor” algo que não possui “valor-de-uso” para ninguém? Poderíamos dizer o mesmo de um buraco na terra? O valor foi produzido, mas não pode ser apropriado por ninguém)
47 - Para o indivíduo, o valor (e não falamos aqui do valor-de-troca) aparece como se tivesse magnitude diferente do real valor produzido. Trata-se de uma pura aparência, que é percebida desde o ponto de vista do ato individual e isolado. No entanto, lembremos que, para a dialética marxista, a aparência não é fruto de um engano do observador, mas uma das duas dimensões da realidade. A aparência é real tanto quanto a essência, embora explique-se e determine-se por esta última. (...) Insistamos, pois é muito importante: isso significa que, para a mesma mercadoria, podemos ter duas diferentes magnitudes de valor? Exatamente. E é por isso que falamos de valor produzido (ou simplesmente valor), por um lado e, por outro do valor apropriado. (...) Embora o valor apropriado não seja conceito diretamente observável a partir dos fenômenos (ali o que se vê é, concretamente, o preço de mercado), aproxima-se mais da aparência se comparado com o conceito de simples valor. Situa-se entre este último e a superfície dos fenômenos.
48 - Ao que entendi, a “solução do sistema conceitual” dele é colocar que o valor “não-apropriado” da “mercadoria em excesso A” será apropriado na troca por outra mercadoria (B) que não foi “produzida em excesso”, mas resultando numa apropriação “maior” que a produzida (por causa da mercadoria A). (Insatisfatório, a meu ver. O valor apropriado não será igual ao produzido se for produzida uma mercadoria cujo valor não se realiza de forma alguma, em qualquer troca, ainda que desigual em relação ao “valor” produzido)
49 - Ainda sobre “valor social”, ou Marx fez uma bagunça (ou Engels) ou Carcanholo está fazendo uma bagunça, afinal, quem garante o que ele está dizendo, que é: “Entendido assim, esse conceito difere do apresentado por Marx no livro I d'O Capital (no cap. X : “Conceito de mais-valia relativa), pois ali o autor se refere não a valor apropriado, mas a valor produzido, de maneira que o valor social identifica-se com a média aritmética ponderada dos valores individuais, independente das condições do mercado. Marx, ali, o trata provisoriamente e com relutância. E não poderia ser de outra maneira. Naquele livro, Marx identifica, por razões metodológicas, apropriação com produção.”
50 - O que seria o tal “preço-valor” que Marx aborda no capítulo: “A fim de que os preços por que se trocam as mercadorias correspondam aproximadamente aos valores ...” (Marx, 1981 – Livro 3, V. 4, capítulo X - p. 201) Na sua primeira manifestação sobre o valor de mercado, afirma: “Releva considerar como valor de mercado o valor médio das mercadorias produzidas num ramo, ou o valor individual das mercadorias produzidas nas condições médias do ramo e que constituem a grande massa de seus produtos”. ...” (Marx, 1981 – Livro 3, V. 4, capítulo X - p. 202)
51 - Enfim, ao que entendi, “valor de mercado” surge em ocasiões em que preço e valor são iguais. Idem para o inverso. Qual a utilidade desse par de hipóteses circular? Só vendo.
52 - “0 que dissemos do valor de mercado estende-se ao preço de produção quando o substitui” (Marx, 1981, capítulo X, pp. 202-203). Devemos reconhecer que há aqui uma inconsistência, pois o adequado para nossa interpretação seria que ele afirmasse: “0 que dissemos do valor (sic) estende-se ao preço de produção quando o substitui”. (Velho, ou você mostra que foi erro de tradução ou você admite que foi erro de Marx ou no mínimo confusão da parte dele. O que não pode é dizer que o capítulo não é confuso e tem fácil interpretação e, ao mesmo tempo, não culpar a tradução. Como não há acusação sobre a tradução… Marx fez sim um capítulo confuso).
53 - Tenho a impressão inicial de que o conceito que ele cria é uma coisa e outra ao mesmo tempo. Por quê? Para conciliar com Marx. Complicado. Assim, nosso conceito de valor de mercado normal ou valor social normal recebe uma nova determinação: ele não é exatamente o valor apropriado efetivamente no mercado, mas o valor que normalmente se espera seja apropriado no mercado, si deste se eliminam as pequenas flutuações do dia-a-dia. Assim, é possível conciliar nossa idéia inicial com as exatas palavras de Marx, no controverso capítulo que nos interessa.
54 - Cita um trecho em que Marx coloca que quando a demanda é muito alta, até mercadorias produzidas “nas piores condições” (entendo como “tempo de trabalho mais alto que o necessário”) podem ser vendidas ao preço do valor (Carcanholo corrige, não sei o porquê, valor por “preço de produção individual”). Na oferta alta é o contrário: É possível, por exemplo, que essas mercadorias se vendam pelo valor (“preço de produção individual”, corrige) ou quase, podendo então acontecer que as mercadorias produzidas nas piores condições nem realizem o preço de custo, enquanto as que estavam em situação média realizam apenas parte da mais-valia nelas contida”. (Não vejo, por sinal, como o valor possa já estar dado na produção. Se a mais-valia não se realiza, o filme que a Kodak produziu em excesso perde qualquer valor-de-uso).
55 - Ainda Marx: “Para que o preço de mercado de mercadorias idênticas, mas produzidas em condições individuais diversas, corresponda ao valor de mercado, dele não se desvie nem para cima nem para baixo, é necessário que a pressão exercida pelos diferentes vendedores seja bastante para lançar no mercado a quantidade de mercadorias exigida pelas necessidades sociais, ou seja, a quantidade que a sociedade é capaz de pagar ao valor de mercado.”
56 - Traz uma passagem seguinte que, na minha opinião, é absolutamente confusa da parte de Marx, já que faz flutuar o valor de mercado de acordo com a “moda”... (onde Carcanholo vê um sistema eu só consigo ver, por enquanto, incoerência). (...) Excetuado o caso em que a oferta predomina muito sobre a procura, o valor de mercado não coincide com o valor individual das mercadorias produzidas nas melhores condições”. (Marx, 1981 – Livro 3, V. 4, capítulo X - p. 209) (...) Se a quantidade é maior ou menor que a procura, o preço de mercado se desvia do valor de mercado. Primeiro desvio a considerar: se a quantidade é de menos, regula o valor de mercado a mercadoria produzida nas piores condições, se é de mais, a produzida nas melhores; um dos extremos regula o valor de mercado, embora se devesse esperar outro resultado segundo a mera relação entre os volumes produzidos nas diferentes condições, À medida que aumenta a diferença entre a procura e quantidade produzida, tende o preço de mercado a desviar-se mais do valor de mercado, para cima ou para baixo”.
57 - Finalmente Carcanholo vê erro. Ao comentar o último trecho acima, coloca: Por um lado, ou é o preço que se desvia do valor de mercado, como se afirma no inicio da citação, na parte sublinhada por nós (“Se a quantidade é maior ou menor que a procura, o preço de mercado se desvia do valor de mercado”) ou, por outro lado, o desvio é do valor de mercado em relação ao preço de produção médio do ramo ou em relação ao preço de produção individual das mercadorias produzidas em condições médias. Não acreditamos que possa haver dúvidas sobre a existência dessa contradição em termos, nas palavras de Marx. E, destaque-se, não se trata de um erro de tradução; o erro, parece estar no próprio original.
58 - A solução de Carcanholo é que Marx esteja falando sempre apenas de “valor de mercado” e não efetivamente de “valor”, como de fato o fez. De fato, se a oferta, no nível do valor, supera de maneira regular e persistente a demanda, deve existir, no setor, um número suficiente de empresas, em geral de menor porte e menor poder econômico que, utilizando tecnologia menos eficiente (e por isso com preço de custo maior que a média) que se dispõem a permanecer produzindo, mesmo não obtendo a taxa média de lucro e até trabalhando com uma receita pouco superior ao seu preço de custo. Se o número das empresas menos eficientes, existente no setor, não for suficiente, os preços de mercado serão atrativos de maneira a incentivar o ingresso de novos capitais pouco exigentes. Assim, os preços de mercado da mercadoria correspondente deverão flutuar em torno do menor preço de produção do setor (que, por isso é o valor social), garantindo, assim, a taxa média de lucro exclusivamente para as empresas mais eficiente. Esse caso se explica por inexistir, no setor, nível significativo de dificuldade de ingresso de novas empresas com pouco poder de mercado. E ele vai coordenar essa concepção com a do item 60 aí logo mais abaixo...
59 - Última citação cheia de coisa de Marx: “Não se trata aí da conversão formal do valor das mercadorias em preço, isto é, de simples mudança de forma; trata-se de determinados desvios quantitativos que os preços de mercado têm dos valores de mercado e ainda dos preços de produção”.
60 - Dessa maneira, na nossa interpretação e em um nível mais concreto de análise, o valor social deve ser entendido como o valor apropriado (dadas as condições concretas da particular rama econômica e abstraindo-se as flutuações conjunturais da oferta e da demanda) dentro dos limites estabelecidos pelos valores individuais extremos da rama respectiva. Se o valor apropriado, nessas condições, ultrapassar esses limites, ele se configura não como valor social, de mercado ou mercantil, mas como valor social de monopólio, de mercado monopólico ou mercantil monopólico. (Ao que entendi, é por isso que ele parece criticar a citação de Marx acima - a do item 59 -, pois, para ele, valor de mercado e preços de produção fazem parte de um mesmo contexto baseado em equalização das taxas de lucros médias de uma economia, logo, Marx “teria querido dizer” “valores”, e não “valor de mercado”, digamos assim. Também não sei se seria errado como está lá, preciso organizar num fluxograma essa miríade de conceitos de Carcanholo se não quiser me perder sobre o que é o quê).
61 - (O que é exatamente o “valor de mercado”, para Marx ou ele, continua complexo. Em tese, as alterações em relação ao valor seriam as causadas por flutuações semi-estruturais, digamos, na oferta-demanda. Só que como isso não seria, também, o preço de mercado (o qual estaria vinculado a flutuações muito menos estruturais e mais circunstanciais), tudo exige uma análise paciente de tudo que li aqui.
62 - Na conclusão, ele vai explicar melhor, na prática, como entende o “valor social” (valor de mercado): Assim, as mercadoria apresentam-se como caras ou baratas. Mas, em relação a quê? Qual é o ponto de referência? A resposta é justamente o valor na sua dimensão aparencial. Não o valor produzido e representado pela mercadoria, mas o valor normalmente apropriado quando se decide sua venda. Por isso, o valor, na sua dimensão aparencial, é o valor social, de mercado ou mercantil, discutido acima. Na sua dimensão essencial é simplesmente o valor, o valor determinado pela produção.
63 - Enfim, muitas mediações entre preço e valor.
(Esse fichamento ficou complicado porque o texto em si já é cheio de detalhe. Relendo o fichamento, vi que tem hora que não deixei claro quem está falando, Marx ou Reinaldo. Isso ajudou a deixar tudo mais confuso ainda. Vale complementar com a leitura do original e montar algum "quadro de conceitos" ou algo assim, dele e de Marx)
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