Econ - Reinaldo Carcanholo - Teoria do Valor e Preços de Mercado III
(continuação...)
110 - Os capitalistas compram o “preço de produção” da força de trabalho, nesse esquema, não o valor dela (força de trabalho).
111 - Polêmicas marxistas: “A unidade de medida da magnitude do valor e da magnitude do preço de produção é o tempo de trabalho. É conhecido o fato de que alguns autores não aceitam tal coisa, afirmando que a única expressão possível do valor ou do preço de produção é o valor-de-troca ou o preço de mercado”.
112 - Afirma que Marx meio que sabia do problema dos insumos (não sei se o trecho prova): “Uma vez que o preço de produção da mercadoria pode desviar-se do valor, também o preço de custo de uma mercadoria, no qual se inclui esse preço de produção de outra mercadoria, está acima ou abaixo da parte do valor global formada pelo valor dos correspondentes meios de produção consumidos.”
113 - A composição orgânica média da produção dos bens destinados ao consumo dos capitalistas sendo diferente da composição orgânica da produção dos demais bens resultará em preços de produção diferentes do valor produzido nesse tipo de bem (bens suntuários). Com mais “robotização” neles, a massa de lucro aumenta, mas não na mesma proporção que a mais-valia (já que os bens necessários à reprodução da força de trabalho continua o mesmo). (...) Não se pode esperar que, em geral, a composição orgânica do setor III seja exatamente igual a composição orgânica média. Isso somente ocorreria de maneira exclusivamente casual;
114 - A alternativa de considerar o preço de produção total diferente do valor total (como em Bortkiewicz, por exemplo) na verdade significa transformar os preços de produção em simples preços relativos. Sob essas condições, dados certos preços relativos pode-se encontrar um fator que os multiplique (e resulta um novo sistema de preços relativos igualmente aceitável) de maneira que se consiga fazer que o "lucro" apropriado tenha magnitude igual a qualquer valor que se queira, por exemplo, ao da mais valia produzida. Nessas condições esta alternativa em nada favorece ou avança na solução do problema. (...) Na "solução" de Bortkiewicz, apesar de que os valores e os preços de produção são teoricamente diferentes, sua expressão quantitativa em preço (valor-de-troca) é idêntica para a produção do setor III, mesmo quando a composição orgânica seja diferente da média. Assim, podemos optar entre duas alternativas: ou acreditar que, neste caso, duas categorias distintas não se diferenciam por sua expressão fenomênica, ou sustentar que a "solução" do mencionado autor é essencialmente um equívoco. (Escolheu a segunda e acho que eu também). (...) O que Bortkiewicz queria, na verdade, era fazer que, no seu esquema, a mais valia total ficasse igual ao lucro total. Evidentemente, para isso, teria sido mais fácil e mais didático tomar essa igualdade como a equação que faltava. Mas o resultado teria sido o mesmo: a transformação dos valores em simples preços relativos que, obviamente, nada nos ensinam sobre os preços de produção. Emanuel critica: "Se a soma dos lucros aparece em termos absolutos igual à soma das mais valias, é porque ela foi obtida, de uma maneira formal, graças a escolha de uma particular unidade de conta que faz com que a soma dos preços já não seja igual à soma dos valores ..."
115 - Ao meio das páginas 15 e 16, parece-me que a solução de Carcanholo é considerar que esse poder de compra a maior que o capitalista recebe quando a massa de lucro total (decorrente do aumento da produtividade no setor de bens de consumo de luxo) é maior que a massa de mais-valia total não é, quantitativamente, “valor” (seria meio arbitrário). Tenta se explicar: O que Marx sustenta não é que o lucro total apropriado tenha a mesma magnitude que a mais valia total produzida, sendo a primeira medida em preço de produção e a segunda em valor. Ele afirma que o mais-valor produzido pelo capital total é o mesmo que os capitais se apropriam. (Acho que ele quis dizer “o primeiro medido” e não “a primeira medida”). Então as duas identidades de Marx, ao que entendi, estão sendo “distorcidas”... Sei não. (...) Seria, para ele, mesmas magnitudes medidas de “dimensões” diferentes (já que diz não se tratar de unidades de medidas diferentes, mesmo ele fazendo a analogia “milhas-quilômetros”... Enfim, muito louco): O valor produzido como excedente, através da exploração do trabalho, pode ser medido pela magnitude de valor ou pela magnitude do preço de produção. (Não estamos transformando tudo então em “preço relativo”? Como Bortkiewcz?)
116 - Todo o sistema de equações que ele apresenta a seguir é para mostrar que a massa do lucro em preço de produção e a de lucro medido em valor se equivalem. (Numericamente? Não entendi. Não lembro porque escrevi isso, só relendo o texto, pois abaixo, numa segunda leitura, está me parecendo o contrário. Talvez eu tenha escrito errado aqui).
E ele consegue chegar a esse resultado negando que Marx tenha querido dizer que mais-valia total era igual, quantitativamente, ao lucro total mesmo em termos de preços de produção. (O argumento “milhas-quilômetros” que ele cita me parece uma contradição, já que ele critica os que “resolvem” o problema a partir de preço relativos). Só assim - e isso implica duas taxas de lucro diferentes para cada medida, como demonstra - é que consegue transformar valores em preços de produção. (O problema é que, em tese, a - as massas de - mais-valia e o lucro deveriam ser, quantitativamente iguais, pela TVT marxista).
117 - Vou colocar algumas imagens para ilustrar a conclusão das demonstrações matemáticas de Carcanholo (Setor III é o de produção de bens suntuários):
(...)
INSIGHT/DÚVIDA ALEATÓRIA: Se eu bem entendi o problema da transformação, ele não passaria simplesmente pela reformulação da categoria (conceitos, como se queira chamar) “mais-valia” a fim de sanar o que me parece um falso dilema do setor III? Até pelo que eu já disse no “insight” anterior. Estou ainda pensando na linha de talvez não existir tendência marxista a baixa da taxa de lucro (qual taxa de lucro?, por sinal). Se bem que isso já é inclusive uma história meio separada dessa. Enfim, de toda forma, não me parece tão complicado.
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