Econ - Reinaldo Carcanholo - Sobre a Natureza do Dinheiro em Marx (Réplica)

 

Reinaldo Carcanholo - Sobre a Natureza do Dinheiro em Marx (Réplica):

85 - Embora seja indiscutível que Germer, entre todos nós neste país, seja o que mais conhece a obra econômica de Marx, considero que, em certo sentido e até certo ponto, ele se vê prisioneiro de uma interpretação metafísico-positivista dos conceitos de Marx.

86 - Diz que sua (Carcanholo) concepção vem do processo de substantivação do valor. (...) A mercadoria não pode ser definida, por constituir não algo estático, mas um processo de desenvolvimento. Uma definição é uma fotografia do que algo é no exato momento, mas isso muda.

87 - O desenvolvimento mercantil consiste, explica-se e, ao mesmo tempo, implica o desenvolvimento da contradição valor/valor-de-uso. (...) Para melhor entender de maneira intuitiva o processo de dominação descrito, basta comparar os extremos: uma sociedade pré-mercantil, na forma simples, na que o valor não tem quase nenhum significado, ao contrário, praticamente não existe (só existe como embrião) e na que o intercâmbio, além de fortuito aparece como troca de presentes; e a sociedade capitalista atual, em que o valor-de-uso aparece altamente dominado pelo valor. Nesta, muitas vezes, o indivíduo estima a utilidade de um objeto, quanto maior seja seu valor. O valor-de-uso fica, nesse caso, determinado totalmente ou quase totalmente pelo valor.

88 - Isso tudo leva a uma desmaterialização da riqueza. Só que nunca vai chegar ao ponto de dominar completamente o “valor-de-uso” (por isso que vejo com dificuldade a ideia de que a produção do valor está condicionada apenas à esfera da produção). Isso é impossível, pois a destruição do valor-de-uso implica a destruição do próprio ser humano e, assim, do próprio valor, por ser ele uma relação social entre seres humanos.

89 - Coloca que o dinheiro é o auge da desmaterialização, tendo apenas valor-de-uso formal.

90 - A desmaterialização continua no dinheiro (ouro), mas ainda a materialidade-ouro continua ali. O processo fica muito mais evidente quando mais avançado, no dinheiro de curso forçoso e no dinheiro de crédito (que são as formas que conhecemos atualmente e que são estudadas por Marx no livro III d'O Capital).

91 - O fato de que, nos nossos dias, a desmaterialização do dinheiro não seja total e completa pode ser observado, no nível mundial, pela circunstância de que o ouro ainda continua a cumprir um papel como meio de pagamento em última instância.

92 - Fiz uma pesquisa google complementar aqui. Houve discussão famosa entre Bernanke e Ron Paul que lhe perguntava insistentemente se ouro era ou não dinheiro. Ulrich defende que Bernanke estava certo em chamá-lo de ativo (é meio que uma commodity), eis que a demanda pelo ouro como meio de circulação foi praticamente extinta (até por controle do governo em tal sentido, não apenas pelo inconveniente natural). Bernanke exaltou ainda seu papel como seguro contra uma grande crise ou colapso. Falou que sua atratividade vem do “Tail risk”. Apenas funciona como boa reserva de valor, portanto. Vide gráficos (“país subdesenvolvido tem risco de desvalorização da moeda grande, então…):

https://www.mises.org.br/article/3248/os-recentes-eventos-deixaram-ainda-mais-claro-dinheiro-de-verdade-e-o-ouro-e-voce-empobreceu

93 - Um marxista, como Carcanholo, lembra também a importância do ouro contra os absurdos do capital fictício, por isso ressalta também seu papel como “meio de pagamento em última instância”.

94 - Finalmente, convém uma referência ao capital financeiro atual, por nós denominado capital especulativo parasitário, em outros trabalhos. Ele nos mostra (se é que não ficou claro) que, atualmente, muito mais importante que sua dimensão material (valor-de-uso), a riqueza consiste em domínio sobre trabalho alheio, sobre seres humanos. A riqueza capitalista é, para Marx, domínio de seres humanos sobre seres humanos; constitui uma relação social de domínio. Inicialmente se expressa claramente através dos objetos; progressivamente se torna abstrata e, cada vez menos, exige a matéria constituída pelos valores-de-uso para manifestar-se.

95 - Germer está certo ao afirmar que dinheiro é mercadoria, mas não entende que a mercadoria e especialmente a particular mercadoria-dinheiro é cada vez mais pura forma social e cada vez menos simples materialidade.

 

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