Econ - Ricardo Luis Chaves Feijó - Repensando a Revolução (Aspas) Marginalista IV

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156 - Menger chamava seu método de genética-causal (tem até uma coincidência com Marx, embora no geral o método seja diferente e até antagônico): “Na exposição que segue procuramos reduzir os complexos fenômenos da economia humana aos elementos mais simples, ainda acessíveis à observação segura, dar a cada um desses elementos simples o peso que por natureza lhes cabe e, com base nisso, investigar novamente como os fenômenos mais complexos evoluem novamente a partir de seus elementos mais simples”. Cf. Menger (1988, p. 30).

157 - Ainda Menger: … à teoria pura, cabe investigar o valor; os preços são fenômenos aleatórios que devem ser estudados pela estatística. (...) Mas a discussão do valor é apenas o capítulo III do Grundsätze. O livro de Menger expõe outros elementos antes e depois desse capítulo, que são vistos como verbalização excessiva ou fatos óbvios pelos leitores não acostumados a percorrer em profundidade o saber econômico e filosófico, preocupados como estão apenas com as técnicas.

158 - A teoria de Menger não é uma versão não-matemática da teoria de Jevons e Walras. Embora compartilhe com os marginalistas ocidentais a visão atomicista da sociedade e dos processos sociais, em oposição ao holismo da escola histórica, ele vai além do "individualismo metodológico". O seu individualismo, na verdade, é "ontológico": parte de uma concepção estática da natureza humana e procura reconstruir os fatos econômicos pelas leis de causalidade. Leis e tipos exatos. (...) Não é a explicação do fenômeno de preços com base no comportamento maximizador individual movido por impulsos psicológicos, segundo determinadas leis de sensações subjetivas.

159 - Menger e resto: Aqueles trabalham com informação livre e completa, e ausência de incerteza e risco; este incorpora ignorância, busca de informação, incerteza e risco. Nele a informação é escassa.

160 - Mais um argumento favorável à ausência de revolução: É que o marginalismo foi uma mudança de enfoque da natureza do objeto de estudo e dos problemas por ele suscitado. Entre uma e outra perspectiva teórica, há uma descontinuidade não só nas técnicas e nas soluções propostas mas também no tipo de questão enfrentada. Mesmo quando se debruçam sobre problemas aparentemente similares, clássicos e marginalistas estão falando de coisas diferentes. A temática do valor é ilustrativa. Valor para os clássicos compreende também a questão sociológica de explicar o mecanismo de coesão social; daí enfatizarem o valor de troca. Valor para a nova economia é valoração subjetiva, é o valor de uso. Mas não se pode colocar valor de troca e valor de uso como conceitos dicotômicos irreconciliáveis entre si. Traz até citação de Menger sobre valor-de-uso e o “de-troca” serem “subordinados” ao valor. (...) Menger não adota, portanto, a estratégia dos clássicos de atribuir dois significados diferentes à palavra valor e associar o valor econômico apenas ao valor de troca, deixando o valor de uso como mera condição necessária para a sua existência. (...) O valor, na acepção austríaca, surge na relação entre um meio - o bem - e um fim concebido. O valor subjetivo seria o de estudo da economia, mas existiria também o “valor objetivo”, que viria de soluções de “engenharia” (algo do tipo). (Entendi, não sei se certo, como engenharia de preço, mera aparência flutuante).

161 - … Eles reconhecem, porém, a existência de uma ligação entre valor subjetivo e valor de troca objetivo - a capacidade ou poder de um bem de obter outros bens em troca. Para os austríacos, entretanto, nenhum bem tem realmente esse poder. É só o poder conferido a bens na maquinaria complexa de uma comunidade econômica organizada, não existindo fora de um sistema de troca. É um poder que surge na conecção ou relação de duas coisas, e não da coisa em si. O valor de troca é objetivo, é poder mecânico, mas é também uma superestrutura de estimativas pessoais e subjetivas do valor dos bens pelos compradores e vendedores no mercado. (Ao contrário do que muita gente pode pensar, há trechos de Marx em sentido parcialmente semelhante).

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