Econ - Rafael Guthmann - Sobre a Teoria Informacional de Stiglitz
Rafael Guthmann - Sobre a Teoria Informacional de Stiglitz:
241 - Economia informacional: Problemas informacionais são causados pela escassez de informação, devido ao custo de coleta por informação. (...) A quantidade de informação produzida é determinada pela relação entre o custo marginal da coleta de informação e pelo benefício marginal da informação coletada. (...) O sistema de preços funciona como um mecanismo de transmissão de informação, que economiza os custos de coleta de informação por parte dos agentes. Se temos preços de equilíbrio competitivo, então temos uma situação onde os agentes não precisam coletar informação sobre os bens e preferências dos outros agentes, porque o sistema de preços transmite toda informação relevante.
242 - Entra Stiglitz e suas percepções. O valor de um ativo - a capacidade de ele gerar proveitosos retornos no tempo - pode ser muito desconhecido. Quanto mais agentes souberem do valor de n, mais próximo o valor do ativo se aproximará de seu valor de mercado com informação abundante (sem custo). Como a busca pela informação é custosa o preço do ativo no equilíbrio não vai se igualar ao preço que ele teria se a informação fosse perfeita. (...) Os preços então não transmitem informação de forma perfeita, já que a informação tem um custo de coleta devido a sua escassez. E como a informação abundante não precisa de um sistema de preços o sistema de preços é considerado imperfeito.
243 - … Além disso, como os agentes não têm um custo de utilizar o sistema de preços, enquanto que os agentes coletores de informação em relação a “ativo n” têm o custo de coleta, os agentes que utilizam o preço do ativo para se coordenar estão sendo free riders dos coletores, que fazem os preços ficarem onde estão. Ou seja, nesse teoria a coleta de informação gera uma externalidade positiva devido ao sistema de preços. Logo menos informação é coletada do que seria ótimo, e o sistema de preços deixa de funcionar de forma perfeita. Logo o livre mercado também sofre de problemas informacionais como o socialismo, embora de menor intensidade, e o sistema ideal seria um mercado regulado, onde a ação estatal resolveria problemas gerados pela informação imperfeita, nesse caso o estado poderia coletar a informação sobre o retorno de n e revelar esse dado no mercado, fazendo com que os preços passem e refletir a rentabilidade r com perfeição, já que os agentes individuais jamais iriam revelar a informação sobre n, porque iriam perder a possibilidade de lucrar com ela, explorando a diferença entre a rentabilidade do ativo e seu preço. A revelação de n no mercado iria provocar um ajuste automático do preço do ativo com relação a sua rentabilidade.
244 - Rafael afirma que o Estado nem sempre tem (ou quase nunca tem) incentivo para agir de acordo com o bem comum. (De fato, mas uma produção autogerida tem. Ademais, nem toda ação do Estado é canalha. Eleições? Controle da mídia e do próprio mercado? Isso também pesa).
245 - Contra-argumento a Stiglitz (segundo Rafael, é um contra-argumento neoclássico): não temos externalidade gerada na coleta da informação sobre a rentabilidade do ativo porque os agentes que coletam essa informação são pagos pelos outros agentes para que eles façam com que o sistema de preços reflita os dados do mercado. (...) O empreendedor é justamente o agente coletor de informação que é pago pelos outros agentes para coletar a informação e transmiti-la através do sistema de preços.
246 - A réplica supostamente hayekiana não fez sentido para mim, pois parece o típico argumento de que “há dificuldade x, mas é ela quem cria a possibilidade de facilidade (e lucro) y”. O ponto não é a inexistência dessa “facilidade” e oportunidade, mas sim a necessidade de existência da venda da dificuldade.
247 - Outra crítica que ele faz: Ou seja, pela teoria convencional a existência de transações onde temos uma diferença de preço de um mesmo bem em diferentes partes do mercado é reflexo de uma situação ineficiente, porque uma situação eficiente iria liquidar a existência de transações com preços diferentes para um mesmo bem. (Sim. E a teoria convencional está obviamente correta nisso).
248 - A ineficiente noção de eficiência que ele apresenta como alternativa - e já exposta em outros textos dele: Na verdade essa noção de eficiência está errada, devido a incapacidade dos economistas ortodoxos de perceberem que o processo de ajuste de preços em relação a oferta e a demanda não é um processo automático, mas sim um processo que ocorre devido a mudança de expectativas por parte dos compradores e vendedores dos bens dos preços que os agentes vão aceitar nas transações. E se assumirmos que apenas os empreendedores são alertas, temos então uma situação onde a compra de bens pelo preço x num mercado e a venda desses bens pelo preço x+y no outro mercado é eficiente, porque todas as transações mutuamente benéficas são realizadas e as possibilidades de lucro foram esgotadas (ocorreram transações lucrativas, mas não existem mais transações lucrativas não exploradas no mercado). (Não há eficiência, cara. O bem-estar poderia ser maior aí. É a mesma coisa que eu dizer que o planejamento central em situação x é eficiente pois está sendo o melhor planejamento central possível e está ocorrendo algum benefício ali).
249 - Ele coloca a arbitragem como eficiente simplesmente por causa disso (e não estou dizendo que ela é inútil, apenas que não é eficiente e muito menos perfeita): A e B vão aceitar trocar pelos termos oferecidos pelo empreendedor porque eles não perceberam a existência dos parâmetros estruturais do modelo relevantes para o processo de formulação de seus planos de ação como o empreendedor percebeu, ou seja, o empreendedor que determina os preços devido a sua capacidade de perceber possibilidades de trocas que ainda não foram percebidas. (...) A e B são passivos no modelo e não conseguem agir (no sentido de perceber com a passagem do tempo que podem passar de um estado de menor satisfação para um estado de maior satisfação) porque não são alertas, já o empreendedor é alerta. Se ninguém é alerta o sistema econômico não apresenta tendências equilibrativas. (Ou seja, seria melhor para todos, mais eficiente, que a informação fosse publicizada).
250 - (Digo mais: o custo da informação deve diminuir com a tecnologia e essas oportunidades de “lucro puro” também).
251 - Termina com: Embora Hayek nunca tivesse afirmado que a função do sistema de preços era reduzir os custos de transmissão da informação (mas sim tornar relevante para todos os agentes a percepção da existência de informação ainda não coletada para realização de transações mutuamente benéficas) suas idéias foram mal compreendidas a ponto da maioria dos economistas imaginarem que a contribuição de Hayek para a economia informacional era justamente essa.
252 - Enfim, esse texto é um grande exemplo de cama de Procusto. A realidade tem que se encaixar na teoria dele de qualquer jeito.
FIM
Comentários
Postar um comentário