Econ - Ricardo Luis Chaves Feijó - Repensando a Revolução (Aspas) Marginalista V

 (continuação)...

162 - De toda forma, valor, que subordina o objetivo e o subjetivo, será, em Menger: “um juízo que as pessoas envolvidas em atividades econômicas fazem sobre a importância dos bens de que dispõem para a conservação de sua vida e de seu bem-estar" e portanto "só existe na consciência das pessoas em questão”. (...) Menger e seus discípulos Bõhm-Bawerk e Wieser diferenciam o valor de troca puramente objetivo do valor de troca subjetivo. O bem tem duas importâncias subjetivas: pode ser usufruído diretamente e a coisa dada em troca dele pode ser usufruída. O valor subjetivo conteria esses dois ramos distintos de valor de uso e valor de troca subjetivo. Como na sociedade sempre há alguma troca de bens, todo bem adquire um segundo valor subjetivo possível, como uma forma de troca com outros bens ou como uma potencialidade para se obter outros bens. A troca é precedida da comparação e escolha entre esses dois valores. O valor subjetivo total do bem é determinado pelo maior destes dois valores subjetivos. Note-se que o valor de troca subjetivo é determinado pela utilidade marginal que depende das coisas obtidas em troca do bem. Portanto depende do preço, isto é, do valor de troca objetivo dos bens, além de depender da escala de desejos individual. Valor, em Menger, é valor subjetivo pessoal. Valor de troca, no sentido de relação de preço, é valor objetivo.

163 - A tradição econômica clássica elege o valor de troca, como objeto de estudo, e relega o valor de uso. Marx define a categoria valor como substância social, como conceito portador de relações sociais. Menger, Wieser e Bõhm-Bawerk elegem o valor subjetivo como essência do fenômeno. Note-se, portanto, que não coincidem as definições que atribuem a seus respectivos objetos de estudo. Qualquer comparação é sempre enganosa, se não considerarmos as diferenças entre seus sistemas filosóficos.

164 - Como a explicação do 162 não seria uma concessão ao valor objetivo? O que ficou do legado marginalista por essa época é a ideia de que a teoria do valor trata do valor subjetivo, que é a importância do bem no atendimento de necessidades concretas, quer no seu consumo direto ou em troca de outros bens. Neste caso, interessa a utilidade do bem recebido em troca. Mesmo aqui ainda se mantém a utilidade como critério para o valor, embora o montante total de utilidade dependa da relação de troca. Não é, entretanto, uma concessão ao valor objetivo, pois mesmo o valor de troca só é superficialmente objetivo. A sua objetividade reflete uma superestrutura de avaliações subjetivas. Portanto, o fenômeno do valor fica completamente reduzido à dimensão subjetiva, direta ou indiretamente.

165 - A impossibilidade de síntese viria da diferença de enfoque, não de uma revolução. Os argumentos historiográficos que desenvolvemos neste artigo apontam para a não existência de uma revolução teórica em economia nos anos setenta do século passado, e também para a impossibilidade de uma síntese lógica entre a teoria clássica e a escola subjetiva do valor.

166 - A tentativa de síntese impetrada por Marshall nos anos oitenta tornou-se conhecida pela metáfora da tesoura: assim como não se pode dizer qual das duas lâminas de uma tesoura efetivamente corta o papel, também não se pode apontar a utilidade ou os custos como fatores que isoladamente determinam o valor. A teoria da utilidade seria a novidade teórica, e ela é integrada por Marshall à antiga teoria do valor-custo de produção pelo emprego do tempo como categoria analítica. No curto prazo, a oferta é fixa e a utilidade marginal determina os preços, no longo prazo a oferta se ajusta ao mercado e a variável determinante do valor é o custo.

 167 - Afirma, assim, que Marshall não integrou as escolas, mas sim criou sua própria teoria (não deixa de ser certa síntese a meu ver): De fato, na Inglaterra a microeconomia do equilíbrio parcial de Marshall dominou completamente a cena acadêmica. Na passagem do século, o sistema de Marshall teve um grande impacto na evolução da ciência econômica no país berço da tradição clássica. O termo "revolução marshalliana" talvez se aplique melhor do que a idéia de "revolução marginalista" em Jevons, Menger e Walras. Isto já é outra questão que foge ao nosso tema.

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