Econ - Reinaldo Carcanholo - Sobre a Ilusória Origem da Mais-Valia I
Reinaldo Carcanholo - Sobre a Ilusória Origem da Mais-Valia:
64 - Aparência em Marx: não é resultado de um erro ou um engano do observador. Trata-se de uma das duas dimensões da realidade. Porém, como a essência explica a aparência e seus movimentos, ela a contém, em certo sentido.
65 - Tudo isso dá problema. Enquanto a essência só é compreensível a partir da perspectiva da totalidade social, a aparência deriva direta e imediatamente de uma visão parcial ou isolada da relação social. Viramos prisioneiros da aparência e, por vezes, incapazes de enxergar exploração, por exemplo.
66 - Conceito do início do livro III. O custo ou preço de custo de uma mercadoria nada mais é do que aquela parte do seu valor depois de deduzida a mais-valia. Assim, nessas condições, o preço de custo é o que necessita o empresário para ressarcir-se dos gastos com matérias primas, matérias auxiliares, depreciação do equipamento e instalações e com os salários.
67 - Efeitos da aparência: A simples ideia de preço de custo (que surge naturalmente na consciência do empresário), ao produzir a indiferenciação das duas formas de capital, faz com que o lucro apareça como resultado não do capital variável, mas da soma das duas.
68 - Outra questão contra-intuitiva - em relação à teoria de Marx - que mistifica a coisa é que as empresas com alta composição orgânica, ou seja, baixo número de trabalhadores, são justamente as de maiores massas e mesmo taxas de lucro. Altamente mecanizadas. É que uma coisa é a produção e a outra a apropriação no nível dos preços. Isso se explica pelo preço de produção: … é o valor apropriável na sua venda, que garante ao seu produtor a obtenção do lucro médio, isto é, que garante a uniformidade da taxa de lucro. Exclui as distorções dos monopólios da vida.
69 - "Agora sabemos que só por casualidade a mais-valia realmente produzida num ramo particular de produção, ou seja, o lucro, coincide com o lucro contido no preço de venda da mercadoria." (Marx, OC 3, p.190) (...) "E essa imagem plenamente se confirma, consolida e ossifica, quando, na realidade, o lucro acrescentado ao preço de custo, em cada ramo particular de produção, não é determinado pelos limites da formação do valor aí ocorrida, mas por fatores inteiramente externos."
70 - Por tudo exposto, nem todo lucro de uma empresa - ou mesmo ramo industrial - equivale a mais-valia produzida lá. Logo, mais facilidade em mistificar a coisa. O lucro não é diretamente originado da exploração. (Eu diria mais do que o texto diz. Tem outro fator. O crescimento dos lucros-não-operacionais advindos da expansão do capital fictício é outro exemplo de como é possível se descolar da “mais-valia” presente. O tempo é mais um fator que entra.)
71 - Ele admite que não há identidade entre o lucro total da economia e a “mais-valia” total, em razão da diferença de composição orgânica no setor de bens suntuários. Sua solução “pós-marxista” é criar “duas taxas de lucro”. Afirma: Se a mais-valia total tem magnitude diferente do lucro total, então o valor do capital total consumido (Ct + Vt) difere do seu preço de produção (Ct' + Vt'). Mas isso significa que existem duas taxas de lucro (lucro dividido por capital total); uma em valor e outra em preço de produção!
(continuação...)
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