Econ - Reinaldo Carcanholo - O Paradoxo da Desigualdade dos Iguais, Incompreensões Ricardianas
Reinaldo Carcanholo - O Paradoxo da Desigualdade dos Iguais, Incompreensões Ricardianas:
26 - Este trabalho foi apresentado no Encontro Nacional de Economia Clássica e Política, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 5 a 8 de junho de 1996.
27 - Tese central do trabalho: sendo o lucro nada mais que a mais-valia repartida de outra maneira - na transformação, a medida da magnitude do lucro total deverá aparecer diferente da medida da magnitude da mais-valia total (só serão iguais quando a composição orgânica do capital que produz as mercadorias a serem compradas com o lucro for igual à média). Em outras palavras, sendo o lucro nada mais do que mais-valia (pelo menos em termos de magnitude), teoricamente é obrigatório que apareçam como se tivessem grandezas diferentes. (A questão que vi Gontijo apontar é a soma total das identidades. Não bate)
28 - Então, o preço de produção não é um valor-de-troca transformado, mas uma das mediações entre o valor e o preço de mercado (valor-de-troca). Disso não pode haver a menor dúvida.
29 - O dinheiro pode ser visto como medida do valor, mas simplesmente porque é sua única manifestação direta. É a única medida que pode ser percebida pelos agentes econômicos, mas é uma medida inadequada. A verdadeira medida é o tempo de trabalho, pois a magnitude do valor está determinada pela quantidade de trabalho socialmente necessário.
30 - Benetti: lucro é uma relação que se dá numa proporção entre preços, logo, não poderia ter a ver com valor, como Marx pretendia. Carcanholo contesta: a escolha de uma das duas "maneiras" de medir a taxa de lucro como correta, a do preço (de produção), não fica suficientemente justificada no discurso do autor. Seria porque a medida em preços está mais próxima da realidade empírica, da forma observável na superfície de fenômenos? Assim, estaríamos escolhendo a observação empírica e imediata como o critério da verdade e, qualquer outra coisa diferente, não teríamos dúvida: jogaríamos na lata de lixo da metafísica.
31 - O conceito de "preço de produção" supõe a existência de uma taxa de lucro igual em todos os setores, o que implica certo grau de consciência dos agentes econômicos sobre ela.
32 - A uniformidade nas taxas de lucro resultante da transformação, na verdade não se mantém quando, depois de transformadas, medem-se a partir dos valores.
33 - Para Marx, como vimos, o preço de produção não é mais que um valor modificado, ou melhor, a magnitude do valor apropriável por cada capital ou por cada setor de produção, se certo critério de distribuição da mais-valia entre os capitais, ocorrer: a uniformidade da taxa de lucro. (Por isso aí, depreendo que o valor pode ser muito modificado em relação ao preço de produção, pois há setor muito lucrativo que sequer produz valor...) A grandeza do valor indica a magnitude da riqueza capitalista produzida em cada setor; a grandeza do preço de produção mostra a quantidade apropriável, atendido o critério anterior. Afirma até que Marx ter chamado de “preço” não foi uma boa (algo com o que até posso concordar). Na verdade, trata-se de um valor transformado; um valor que representa a riqueza apropriada pelo produtor de cada mercadoria, na venda, em condições de existência de taxa de lucro uniforme, isto é, em condições de equilíbrio dado o não monopólio. Afirma que a confusão “neoricardiana” foi essa. Confundir com preço de mercado.
34 - Wt = PPt (onde Wt = Valor total e PPt = Preço de produção total) (...) Assim, a magnitude do valor é indispensável para a determinação quantitativa do preço de produção. (...) O esquema de "transformação" que é compatível com a teoria do valor de Marx adiciona, ao sistema de equações, a seguinte: Wt = PPt, onde Wt = valor total e PPt = preço de produção total. Dessa maneira, como as duas identidades não são possíveis simultaneamente, resultará que a medida da mais-valia e a do lucro serão desiguais (ambas em horas de trabalho).
35 - Ao que entendi, ele associa os Benetti da vida aos sraffianos, que seriam os neoricardianos. Benetti: "Seguindo as indicações de Marx, efetuamos as correções necessárias e o resultado foi um esquema no qual o problema da transformação fica, pura e simplesmente, eliminado: em lugar de transformar os valores em preços, o esquema obtido determina os preços independentemente dos valores".
36 - Na transformação dos valores em preços de produção, em Marx, quando é também transformado o valor dos insumos, chega-se a um resultado indiscutível: a impossibilidade de se obterem simultaneamente as duas identidades fundamentais (salvo quando a composição orgânica do setor 3 for igual à média): valor total = preço de produção total e mais-valia total = lucro total.
37 - Critica o neoricardiano: Benetti não deveria sustentar a irrelevância da igualdade preço de produção total e valor total. Estaria obrigado a negar que ela pudesse existir, pois, para ele, o preço de produção é um preço relativo, um valor-de-troca, e sua medida é uma certa quantidade de um bem particular. Em caso contrário, seria obrigado a identificar (ou melhor, confundir) valor com valor-de-troca.
38 - Salvo quando a composição orgânica do setor 3 for igual à média, a magnitude do valor do sobreproduto e a de seu preço de produção não serão iguais.
39 - Enfim, o texto todo é para dizer que as igualdades de Marx se referem ao total dos preços de produção e não os de mercado (ao que entendi). Marx não afirma que o lucro total apropriado tenha a mesma medida que a mais-valia total produzida. O que é importante na sua teoria é que a mais-valia produzida pelo capital total seja a mesma da qual se apropriam os capitais sob a forma de lucro. (E infelizmente os preços de produção não são “palpáveis”, digamos assim. Como ter certeza de que não se trata, então, de metafísica se sequer há correspondência com o total dos preços relativos de mercado? Não sei. Diz-se simplesmente que Marx não pretendeu a transformação em tal nível. Pois bem acho que ele deveria ter retornado totalmente à aparência para explicá-la. De toda forma, continuarei pesquisando).
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