Econ - Reinaldo Carcanholo - O Capital Especulativo e a Desmaterialização do Dinheiro

 

Reinaldo Carcanholo - O Capital Especulativo e a Desmaterialização do Dinheiro:

14 - Texto produzido em 1999. Critica o conceito. Não existe capital “não-especulativo”. A especulação está presente na própria lógica do capital. O mesmo para capital “parasitário”, eis que a atividade especulativa sempre é parasitária, no sentido rigoroso de que os lucros da especulação necessariamente resultam de excedente-valor produzido por outros.

15 - Porém, admite uma razão de ser na discussão: O que acontece, porém, quando a lógica produtiva é superada pela especulativa? E é justamente isso que caracteriza a fase atual do capitalismo. Daí ele ter usado os conceitos que agora critica. O capital fictício cresceu de forma desmedida. Empresas essencialmente produtivas passam a depender seus lucros da esfera mais especulativa, digamos assim.

16 - Sobre dinheiro, repete discussões de outro texto que já fichei. Outros. Germer e afins. O dinheiro seria o ouro, por este ser sempre a medida do valor, por mais que possa ser substituído como meio de pagamento e como meio de circulação.

17 - No que se refere ao âmbito internacional, alguma discussão poderia existir, especialmente por ter Marx, em sua época e no livro I d’O Capital, sugerido que a função de dinheiro mundial só poderia ser cumprida diretamente pelo ouro (também pela prata). No entanto, cada vez mais, nos nossos dias, parece indiscutível que o sistema de crédito generalizou-se e podemos, sem dúvida, falar de dinheiro de crédito internacional. Não fosse assim, não poderíamos imaginar, atualmente, a presença do chamado capital financeiro, amplamente generalizado no mundo e, dessa maneira, não teria sentido o conceito de capital especulativo parasitário. O próprio Germer não tem dúvidas e é terminante no que se refere à existência, no âmbito internacional, do dinheiro de crédito.

18 - Germer afirma que algo que não tem valor - o “dinheiro” - não pode servir como medida do valor, pois seria como algo que não tem peso servir de referencial de peso. Dólar seria dinheiro de crédito. Se o Estado não fixa o valor do dólar com base na mercadoria-dinheiro, ele nada faz além de fixar-lhe o nome, o que é economicamente irrelevante. Conseqüentemente, o padrão de preços requer uma medida de valor material como base.

19 - Para se medir a temperatura, utiliza-se uma das propriedade dos corpos, a de modificação de seu volume; assim, utilizamos a expansão de uma coluna de mercúrio para calcular a temperatura ambiente. Da mesma maneira, posso medir a magnitude do valor de uma mercadoria, sobretudo porque me interessa uma medida prática, por sua manifestação; não preciso calcular a quantidade de trabalho abstrato.

20 - Dinheiro-mercadoria e seu ‘valor-de-uso’: O que acontece é que a mercadoria equivalente aparece ali, na relação de troca, não como mercadoria, não por seu valor-de-uso; sua presença se explica por constituir ela pura representação de valor, pura forma do valor. Em outras palavras, na expressão de troca, embora seja o próprio valor-de-uso da mercadoria equivalente que esteja de corpo presente, o vendedor que troca sua própria mercadoria pelo equivalente, não o quer pelo seu valor-de-uso, mas porque ele é a representação de valor; ele é aceito como se fosse o próprio valor, em si mesmo. Esse equivalente funciona na troca por ser incondicionalmente aceito por todos os demais possuidores de mercadorias. Ele passa a ser a representação social do valor; torna-se equivalente geral. Assim, na relação de troca, o valor-de-uso do equivalente geral está presente e ausente ao mesmo tempo. E essa ausência é o que determina a verdadeira natureza do equivalente geral.

21 - Não serve só para o equivalente-geral tal tendência: a sociedade capitalista está sempre e cada vez mais dominada pela lógica do valor e menos determinada pelo valor-de-uso. A própria mercadoria é cada vez mais valor e cada vez menos valor-de-uso e essa tendência prossegue indefinidamente até a necessária desaparição das relações mercantis.

22 - Disso tudo, Carcanholo depreende que, de fato, para Marx, dinheiro é mercadoria, mas não necessária e eternamente o ouro. É qualquer mercadoria. E o dólar se refere a elas. Diz mais: a mercadoria não é sua determinação material… Mercadoria é cada vez menos materialidade-mercadoria, pois é cada vez mais forma, cada vez mais pura relação social substantivada. (E eu posso até concordar com ele, talvez. Porém, fico com a sensação de que há uma heterodoxia muito grande nessa interpretação, para dizer o mínimo. Não me parece a ideia de Marx. Esse texto de Gustavo do PSTU me parece mais “fiel”):

https://teoriaerevolucao.pstu.org.br/existem-mercadorias-imateriais/

23 - Para Germer, o ouro é medida do valor e meio de pagamento final. Está, assim, no topo e na base da pirâmide do sistema de crédito.

24 - E Carcanholo, também não é o contrário. Ou seja, o fato do ouro ser uma mercadoria de maneira alguma impede que seja medida do valor, afinal: Admitindo-se que o ouro seja simplesmente um bem de consumo de luxo, não entrando portanto como insumo das principais mercadorias do sistema, mudanças tecnológicas na sua produção (como não é difícil entender) não alterará a estrutura dos preços relativos das demais mercadorias entre si. A única coisa que se alterará será o conjunto de preços relativos dele com relação às demais mercadorias.

25 - Ainda “em defesa do dólar” (digamos assim): Para o padrão monetário, basta estabelecer seu poder de compra em relação a qualquer mercadoria do sistema, seja A, B ou o próprio ouro e, então, estará em condições de medir o valor (ou melhor, expressar sua magnitude) de qualquer uma das mercadorias do sistema. Dada a estrutura dos preços relativos e o “preço relativo” do padrão monetário com qualquer uma das mercadorias, fica determinado seu poder de compra. (...) Sustentamos a existência, ao longo do desenvolvimento do valor – do capital e da sociedade capitalista -, de um processo gradual de desmaterialização do equivalente e, em última instância, do dinheiro. Essa desmaterialização é, na verdade, a contraface do desenvolvimento e domínio do capital especulativo parasitário.

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