Econ - Textos Variados LXXVII (Rothbard)
Rothbard - Dez Grandes Mitos Econômicos:
194 - Coloca a obviedade de que déficit nem sempre é inflação. Se eles são financiados pela venda de títulos do Tesouro ao público, então os déficits não são inflacionários. Nenhum dinheiro novo está sendo criado. Diz que só são inflacionários quando criados para alimentar o sistema bancário. (Nem sempre também, Rothbard).
195 - Se a poupança vai para os títulos do governo, vai haver necessariamente menos poupança disponível para o investimento produtivo, e as taxas de juros serão maiores do que seriam sem os déficits. (Sim para o primeiro, não para o segundo, pois depende de mais coisas).
196 - Ele fala umas besteiras, mais discutíveis ainda, que nem anoto. Supostas leis (erradas), como a seguir, sem qualquer relativização delas: uma expansão (monetária) do Banco Central vai estimular essas expectativas novamente e aumentar os juros.
197 - Olha só Rothbard tirando conclusões de estatísticas (por mais que eu ache a “Curva de Phillips bem discutível mesmo): Hoje, já deveria estar claro que esse achado estatístico viola os fatos, bem como a teoria lógica. Durante a década de 1950, a inflação foi de apenas um ou dois por cento, e o desemprego flutuou entre três e quatro por cento. Depois, o desemprego atingiu entre oito e 11%, e a inflação entre cinco e 13%. Nas últimas duas ou três décadas, em resumo, ambos o desemprego e a inflação aumentaram abrupta e severamente. Se houve algo, nós tivemos foi uma curva de Phillips reversa. Houve qualquer coisa, menos um tradeoff entre inflação e desemprego.
198 - Padrão-ouro: Praticamente a única época em que os preços subiram, naqueles dois séculos, foi em períodos de guerra (Guerra de 1812, Guerra Civil, Primeira Guerra Mundial). Os governos em guerra inflaram descontroladamente a oferta monetária para pagar pela guerra, de modo que essa inflação foi bem maior do que os ganhos em produtividade - o que levou ao aumento dos preços.
199 - Contesta a curva de Laffer: Alguns anos atrás, o governo do Distrito de Columbia decidiu aumentar a receita simplesmente aumentando severamente o imposto sobre a gasolina. Não funcionou, pois os motoristas podiam simplesmente atravessar a fronteira com a Virginia ou com Maryland e encher o tanque a um preço bem menor. As receitas do imposto sobre a gasolina em D.C. caíram e, para grande vexame e assombro dos burocratas de D.C, eles tiveram que revogar o imposto. (...) Mas não é provável que isso aconteça com o imposto de renda. As pessoas não vão parar de trabalhar ou deixar o país por causa de um relativamente pequeno aumento de impostos, ou fazer o inverso por causa de um corte de impostos.
200 - Salários e produtividade. Sem a ajuda de bens de capital avançados, a produtividade do trabalhador é bem menor do que nos EUA. Os salários em cada país são determinados pela produtividade dos trabalhadores naquele país. (“Sim” para o primeiro e “não necessariamente” para o segundo. Nada garante que o trabalhador poderá capturar ganhos de produtividade. Inúmeros exemplos comprovam).
201 - Todos os trabalhadores competem entre si, e se os salários na indústria A são bem menores que em outras indústrias, os trabalhadores - liderados por jovens trabalhadores começando suas carreiras - iriam sair da indústria A, ou se recusar a ir pra ela, e se dirigir para outras empresas ou indústrias onde o salário é maior. (Nem sempre).
Rothbard - Entesouramento e o Sistema Keynesiano:
202 - Esse trecho consiste numa tradução da seção 5-F do capítulo 11 do livro Man, Economy And State, de Murray Rothbard. Tradução de Rafael Hotz.
203 - “Entesouramento” é simplesmente um aumento na demanda por dinheiro.
204 - A fundação (implícita) do Keynesianismo é a suposição de que a certo nível de renda social total, os gastos sociais totais feitos a partir dessa renda serão menores do que a renda, o restante sendo entesourado.
205 - Não há nada errado com entesourar ou desentesourar, ou com “baixos” ou “altos” níveis (seja lá o que significam) de renda monetária social. (Não. Que nada, Rothbard. O capitalismo nem precisa de certo nível de circulação monetária... Pra que pressa pra investir né?!)
206 - O próprio tradutor corrige algumas das loucuras mais primárias de Rothbard, como o de considerar que uma economia de livre-mercado leva a um equilíbrio de pleno emprego. A primeira crítica básica que se faz a isso: “Rothbard não leva em conta o problema do conhecimento em sua análise. Pode haver desemprego involuntário se um potencial contratante e um potencial empregado, que, se estivessem frente a frente chegariam a um acordo, não tiverem o conhecimento dessa oportunidade de troca mútua. A existência desse tipo de desemprego mostra que o sistema econômico nunca está, nem estará em equilíbrio, embora possua tendências equilibradoras, no sentido de coordenar os planos de ação dos agentes (no caso dos potenciais negociadores, há uma oportunidade de lucro a ser explorada, por exemplo, por uma agência de RH). Dizer, como os Keynesianos, que há um equilíbrio de subemprego é errôneo, uma vez que o subemprego é sinal claro de que há desequilíbrio.”
207 - Há uma crítica ao keynesianismo que me parece besta, ou seja, de pouca consequência prática. Que a questão não é só se o agente vai investir ou entesourar (a teoria da preferência pela liquidez de Keynes resumiria tudo a isso, já que a taxa de juros é a “recompensa por abrir mão da liquidez”), mas sim se ele vai investir, consumir ou entesourar, pensando as três opções de vez e não num sistema de duas decisões temporalmente distintas. (Se é verdade que baixa taxa de juros pode simplesmente aumentar o consumo - ou nem isso - e não o investimento, também é verdade que alta taxa pode deslocar investimento para entesouramento. E é possível que Keynes soubesse disso tudo. Nunca li.)
208 - “Em contraste com a famosa frase de Keynes de que , Greidanus afirma que comprar bens de consumo (ou até mesmo bens de capital no sentido Keynesiano de “juros”) sacrifica liquidez e mesmo assim não renda nenhum “prêmio” de juros. “ (algo saiu mal anotado aqui, pois nada entendi)
209 - O tradutor acrescenta complexidade a ideia de Rothbard de que a taxa de juros naturais teria a ver somente com a taxa de preferência temporal: … “Mas como vivemos num mundo dinâmico, incerto e com agentes ignorantes de todas as circunstâncias relevantes para a formulação de seus planos de ação, temos mais componentes que se acrescentam à taxa de juros, como a de risco (poderíamos associar a preferência pela liquidez com essa componente), a de equalização temporal dos termos de troca, e de poder de compra da moeda. Rothbard examina melhor essas componentes aqui.”
210 - Os Keynesianos afirmam que existe uma relação entre taxa de juros e demanda “especulativa” por moeda. Se a última aumenta, a primeira também aumenta. Mas isso não é necessariamente verdadeiro. Afinal, pode ser deslocamento de “fundos de consumo” para o entesouramento, o que não implicaria aumento da taxa de juros (na verdade, Rothbard parece dizer que isso baixa os juros naturais). Um aumento natural da poupança e preferência temporal pelo futuro simplesmente.
211 - A demanda por liquidez também pode vir deslocada dos fundos que seriam para investimentos produtivos. Ou seja, do mero desaquecimento da economia, de curto, médio ou longo prazo, que não aconselha investimentos e sim entesouramento (é bem a situação atual do mundo, creio). Rothbard crê que isso pressionaria os juros para cima, tendo em vista a contração na oferta de dinheiro disponível para investir.
212 - (Devo observar que não sei, porém, se o que ele diz sobre o keynesianos está correto. Talvez, para Keynes, essa relação só se dê em um sentido da direção. Alta taxa de juros podendo determinar preferência por liquidez.)
213 - O medo Keynesiano é que as pessoas irão entesourar ao invés de comprarem títulos (creio que ele está a se referir especialmente aos “ilíquidos”, pré-fixados) por medo de uma queda no preço dos títulos. Traduzindo isto em termos “naturais” mais importantes, isso significaria que, como já dissemos, não investir graças a uma expectativa de quedas iminentes na taxa natural de juros. (Salvo alguma desatenção, creio que é o contrário aqui. Alta dos juros é que leva à queda do preço do título comprado à taxa mais baixa. As pessoas temem a alta dos juros num futuro próximo e a perda dessa oportunidade e toda a imobilização a que o capital “gasto” estaria sujeito por sabe-se lá quanto tempo durasse tal situação).
214 - Observam - e aí é claro - que o crescimento da preferência por liquidez não vai ao infinito. É limitado, por óbvio, pela necessidade de gastar/consumir o mínimo para sobreviver. Não dá para entesourar 100%. Isso mantém sempre algum dinheiro em circulação. (Ao menos a reprodução simples, eu diria, na falta de algum choque real de oferta de caráter profundo ou catastrófico)
215 - Uma demanda por saldos monetários emerge da incerteza geral do mercado. Os Keynesianos, entretanto, a atribuem à preferência pela liquidez, não à incerteza geral, mas à incerteza específica dos futuros preços dos títulos. Certamente esta é uma visão altamente superficial e limitada. (Ué, mas a preferência por liquidez vem muitas vezes é da incerteza geral mesmo. Por isso keynes escreveu tanto sobre recessões e seus riscos e armadilha)
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