Paulo Freire – Comunicação e Extensão (trechos do livro)

Paulo Freire – Comunicação e Extensão:

 

(li o livro, mas só anotei poucas partes).


“Educar, educar-se, na prática da liberdade, é tarefa daqueles que sabem que pouco sabem, e por isso sabem que sabem algo e, podem assim chegar a saber mais, em diálogo com aqueles que, quase sempre, pensam que nada sabem, para que estes, transformando seu saber que nada sabem em saber que pouco sabem, possam igualmente saber mais.”

(...)

“O conhecimento exige uma presença curiosa do sujeito em face ao mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica em invenção e reinvenção. A reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, percebe o “como” de seu conhecer e os condicionamentos a que está submetido seu ato”



"Ao modo mágico de pensar, não é estranha a relação entre os “percebidos”. A percepção mágica, que incide sôbre o concreto, sôbre a realidade, é tão objetiva quanto ela. O pensamento mágico é que não o é. Esta é a razão pela qual ao perceber um fato concreto da realidade sem que o “admire”, em têrmos críticos, para poder “mirá-lo” de dentro, perplexo frente a aparência do mistério, inseguro de si, o homem se torna mágico. Impossibilitado de captar o desafio em suas relações autênticas com outros fatos, atônito ante o desafio, sua tendência, compreensível, é buscar, além das relações verdadeiras, a razão explicativa para o dado percebido. Isto se dá, não apenas com relação ao mundo natural, mas também quanto ao mundo histórico-social."



Perguntando-lhes o que costumavam fazer em tais casos, ouviu dos camponeses que, ao lhes ser impôsto, pela primeira vez, semelhante “castigo”, haviam sido salvos por um sacerdote. “Como?” indagou o agrônomo. “Fêz umas orações e os ‘animalitos’ fugiram assustados até o mar, onde morreram afogados”, responderam. Que fazer, do ponto de vista educativo, em uma comunidade camponesa que se encontra em tal nível?1 Que fazer com comunidades que se acham assim, cujo pensar e cuja ação, ambos mágicos e condicionados pela estrutura em que estão, obstaculizam seu trabalho?



(Sôbre os diferentes níveis de consciência fizemos algumas análises em Educação Como Prática da Liberdade, Paz e Terra, Rio, 1967-1969)

 

"O pensamento mágico não é ilógico nem é pré-lógico. Tem sua estrutura lógica interna e reage, até onde pode, ao ser substituído mecanicistamente por outro. Este modo de pensar, como qualquer outro, está indiscutivelmente ligado a uma linguagem e a uma estrutura como a uma forma de atuar. Sobrepor a êle outra forma de pensar, que implica noutra linguagem, noutra estrutura e noutra maneira de atuar lhe desperta uma reação natural. Uma reação de defesa ante o “invasor” que ameaça romper seu equilíbrio interno."



"Estamos convencidos de que, qualquer esfôrço de educação popular, esteja ou não associado a uma capacitação profissional, seja no campo agrícola ou no industrial urbano, deve ter, pelas razões até agora analisadas, um objetivo fundamental: através da problematização do homem-mundo ou d homem em suas relações com o mundo e o com os homens, possibilitar que êstes aprofundem sua tomada de consiência da realidade na qual e com a qual estão."



(...)

 

Precisamente porque não dicotomiza o seu quefazer em dois momentos distintos: um em que conhece, e outro em que fala sôbre seu “conhecimento” –, seu quefazer é permanente ato cognoscitivo. Jamais, por isto mesmo, se deixa burocratizar em explicações sonoras, repetidas e mecanizadas. Isso é tão certo que, em qualquer ocasião em que um educando lhe faz uma pergunta, êle re-faz, na explicação, todo o esfôrço cognoscitivo anteriormente realizado. Re-fazer êste esfôrço não significa, contudo, repeti-lo tal qual, mas fazê-lo de nôvo, numa situação nova, em que novos ângulos, antes não aclarados, se lhe podem apresentar clara-mente; ou se lhe abrem caminhos novos de acesso ao objeto. Os professôres que não fazem êste esfôrço, porque simplesmente memorizam suas lições, necessàriamente rejeitam a educação como uma situação gnosiológica, e assim não podem querer o diálogo comunicativo.

 

"Como resolver tal problema? Como “convencer sem manipular”? Como
superar o “democratismo populista” na educação? É possível dirigir, sem impor?


Sim, na ação dialógica. Eis a resposta de Freire."

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