Karl Marx - O Capital, Livro I - Capítulo I

 

I - A Mercadoria

 

 

1. Os Dois Fatores da Mercadoria - Valor-de-uso e Valor (Substancia e Quantidade de Valor)

 

 

1 - A utilidade de uma coisa faz dela um valor-de-uso. Tal valor não depende da quantidade de trabalho empregado. Constituem o conteúdo material da riqueza.

 

2 - Na sociedade burguesa reina a ficção jurídica de que todo ser humano, como comprador, tem um conhecimento enciclopédico das mercadorias.

 

3 - O valor-de-troca muda constantemente no tempo e espaço.

 

4 - Propriedades materiais da mercadoria somente interessam pela utilidade que dão. Valor-de-uso. Não interessam na troca. Valor-de-troca independe do valor-de-uso (Acho que mais abaixo o próprio Marx corrige isso. Depende sim). Ademais, valor de uso só possui valor porque nele está materializado trabalho humano abstrato.

 

5 - Assim sendo, resta apenas a propriedade da mercadoria ser produto do trabalho humano. Porém, não é qualquer trabalho deste tipo.

 

6 - É o trabalho humano homogêneo, ou seja, conjuntamente considerado. Fala-se em tempo de trabalho socialmente necessário (TSN) para a produção de uma mercadoria.

 

7 - Este é o tempo requerido para produzir-se um valor-de-uso qualquer, nas condições de produção socialmente normais existentes e com o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho. Assim, se um empresário fica com modos ultrapassados, o valor-de-troca diminui mesmo a empresa trabalhando o mesmo tanto que sempre.

 

8 - Fatores que podem determinar a produtividade do trabalho são vários: destreza média dos trabalhadores; desenvolvimento da ciência e aplicação tecnológica; organização social do processo de produção; o volume a e eficácia dos maios de produção; e as condições naturais.

 

9 - Exemplo: diamantes. Muito trabalho para se encontrar uma pedrinha. Assim, menor produtividade por hora de trabalho é igual a um maior valor. Da mesma forma e inversamente, se todo mundo conseguisse facilmente produzir um produto demandado pela sociedade, o valor deste tende a ser baixo.

 

10 - Assim, a substância do valor é o trabalho.

 

11 - Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor. O seja, utilidade que não decorre do trabalho. Ex: ar, terra virgem.

 

12 - Coisa útil e fruto do trabalho, mas que não é mercadoria: agricultura de subsistência p. ex. Gera valor-de-uso. Minha dúvida é: apesar de ter trabalho socialmente necessário, não gera valor-de-troca já que será consumido? O servo produz parte pro senhor, mas não é mercadoria.

 

13 - Finalmente, nenhuma coisa pode ser valor se não é objeto útil; se não é útil, tampouco o será o trabalho nela contido, o qual não conta como trabalho e, por isso, não cria nenhum valor.

 

 

2. O Duplo Caráter do Trabalho Materializado na Mercadoria.

 

 

14 - Trabalho útil: aquele cuja utilidade se patenteia no valor-de-uso do seu produto ou cujo produto é o valor-de-uso.

 

15 - Para a produção de mercadorias, deve existir a divisão do trabalho. Conseqüentemente, cada mercadoria feita possui diferentes valores-de-uso adicionados. Sistema complexo. O valor-de-uso que tem o linho vira o valor-de-uso do casaco, maior, após mais trabalho pra transformar o linho em casaco.

 

16 - O trabalho como criador de valores-de-uso, como trabalho útil portanto, é indispensável à existência do homem.

 

17 - O trabalho é o pai, mas a mãe é a terra. Trabalho não é a única fonte dos valores-de-uso.

 

18 - Trabalho qualificado é igual a uma quantidade maior de trabalho simples.

 

19 - O casaco vale o dobro de dez metros de linho porque leva-se o dobro do trabalho para fazer o casaco. O linho, em si, por exemplo, não tem quase nenhuma utilidade, mas vale algo pelo trabalho nele contido, que permite que possa ser um produto útil no futuro, é o que me parece.

 

20 - Trabalho enquanto valor-de-uso: só interessa qualitativamente. Enquanto valor-de-troca: interessa quantitativamente.

 

21 - Um casaco com a mesma utilidade pode ter valores diferentes caso a sua produtividade vá evoluindo com o passar dos tempos.

 

22 - Maior produtividade: mais valores-de-uso.

 

23 - Resumindo: a mesma variação da produtividade que acresce o trabalho e, em conseqüência, a massa dos valores-de-uso que ele fornece (ou seja, não se reduz o valor-de-uso com o aumento da produtividade) reduz a magnitude do valor dessa massa global aumentada quando diminui o total do tempo do trabalho necessário para sua produção. E vice-versa.

 

 

3. A Forma do Valor ou o Valor-de-Troca

 

 

24 - Mercadoria possui dupla forma: a forma natural e a forma de valor.

 

A) A forma simples do valor: 1. Os dois pólos da expressão do valor: a forma relativa do valor e a forma equivalente. 2. A forma relativa do valor. 3. A forma de equivalente. 4. A forma simples do valor, em seu conjunto.

 

25 - Forma relativa de valor: o linho (papel ativo). Forma equivalente de valor: o casaco (papel passivo). O valor da mercadoria linho é expresso pelo corpo da mercadoria casaco. O valor de uma mercadoria (linho) pelo valor-de-uso da outra (casaco).

 

26 - Como valor-de-uso, o linho revela-se, aos nossos sentidos, coisa diferente do casaco (e infinitamente menos valiosa, acrescento); como valor, é igual ao casaco, passa a ter feição de um casaco. O corpo da mercadoria B (ex. casaco) transforma-se no espelho do valor da mercadoria A (ex. o linho) - forma relativa de valor.

 

27 - Hipótese: condições climáticas tornam as terras das plantações que fornecem a fibra pro linho escassas. Assim, o valor do linho aumentará. Pois, para produzir a mesma quantidade de linho de antes, será preciso o dobro de trabalho (mesmo nível de produtividade pressuposto, creio). Valor dobra. Se antes 20 metros igual a um casaco. Agora, 20 igual a 2.

 

28 - Se se precisa do dobro de trabalho, agora, para ambos, só colocando uma terceira mercadoria nas comparações para que se saiba o valor agora. Em um dos rodapés do livro, tem um brodinho que não entendeu isso e disse ter demonstrado o erro de Ricardo e da teoria valor-trabalho. Isso antes dos austríacos malucos.

 

29 - O casaco tem, por natureza, a forma de equivalente. (pág. 79). Trabalho concreto que pode ser tornado em trabalho humano abstrato. Ademais, trabalho privado, nesse caso, é também trabalho em forma diretamente social.

 

30 - Marx cita Aristóteles: dinheiro é apenas a figura ulteriormente desenvolvida da forma simples do valor.

 

31 - Marx acha mais ou menos errado o "a mercadoria é valor-de-uso e valor-de-troca". Para ele, a mercadoria é valor-de-uso (ou objeto útil) e "valor". Duplo caráter.

 

32 - Trecho (pág. 82) que não consegui entender: "Nossa análise demonstrou que a forma ou expressão do valor da mercadoria decorre da natureza do valor da mercadoria, não sendo verdade que o valor e sua magnitude se originem da expressão do valor da mercadoria; do valor de troca". 


32.1 - (Acho que Marx chama de "valor-de-troca" algo mais flutuante que o valor, ou seja, algo mais próximo do preço mesmo. Logo, não é o valor-de-troca que origina O valor ou mesmo sua magnitude)

 

33 - Em todos os estágios sociais, o produto do trabalho útil é o valor-de-uso. Só posteriormente que surge a mercadoria.

 

34 - A forma relativa simples do valor diz respeito a duas mercadorias comparadas (para se tirar o valor relativo entre elas. Para dizer o valor em relação a outras, evolui-se para outra forma.

 

B) Forma total ou extensiva do valor: 1. Forma extensiva do valor relativo. 2. A forma de equivalente particular. 3. Defeitos da forma total ou extensiva de valor.

 

35 - Mesmo valor do linho determinado em vários tipos de mercadorias. Trabalho humano homogêneo.

 

C) Forma geral do valor. 1. Mudança do caráter da forma do valor. 2. Desenvolvimento mútuo da forma relativa do valor e da forma equivalente. 3. Transição da forma geral do valor para a forma dinheiro.

 

36 - As mercadorias expressam, na forma geral do valor, seus valores de maneira simples, ou seja, numa única mercadoria. Consagra-se a expressão dos valores-de-troca. Significa que a realidade do valor das mercadorias só pode ser expressa pela totalidade de suas relações sociais. Cria-se o equivalente geral.

 

37 - Marx fala em permutabilidade direta e indireta, mas não explicou (ou não vi).

 

D) Forma dinheiro do valor. 1. O fetichismo da mercadoria: seu segredo.

 

38 - Por hábito social, o ouro se transforma em equivalente geral.

 

39 - Mercadoria: se destina, com suas propriedades, a satisfazer às necessidades humanas. Só adquire essas propriedades em conseqüência do trabalho humano.

 

40 - Fetichismo da mercadoria: os homens passam a enxergar os frutos de seu trabalho nâo como tal, apenas meras mercadorias que estabelecem relações de troca por si só. Não se enxerga o valor dos produtos pelo trabalho humano contido nele.

 

41 - Aos que trocam os produtos, interessa saber quanto de outras mercadorias podem receber pelas suas. Imaginam que as proporções entre os produtos, quando muito habituais, são fixas e não variam com o trabalho investido. Parecem-lhes naturais. Imaginam-se inclusive sob controle, o seja, que não depende da atividade social (trabalho) as proporções estabelecidas.

 

42 - O desenvolvimento histórico do modo de produção humano escamoteou as variações nas trocas fruto do trabalho socialmente necessário de cada mercadoria.

 

43 - Marx supõe uma sociedade de pessoas livres que trabalham em função de um produto social e a quantidade de trabalho socialmente necessário de cada serviria como "cota" para a distribuição do produto social; Meio comunista essa idéia : ) Somente na página 100 apareceu algo assim.

 

44 - Vive-se hoje uma formação social na qual o processo de produção domina o homem e não o contrário, o que, segundo Marx, explica a necessidade de se esconder o trabalho presente nos valores das mercadorias.

 

45 - Marx, num rodapé, critica Ricardo (David) por não diferenciar trabalho simples do complexo segundo me pareceu.

 

46 - Marx compara os economistas burgueses aos teóricos religiosos que colocam a sua como "palavra de Deus" e as outras como invenções dos homens. Os economistas chamam as sociedades diversas pré-capitalistas todas de "artificiais". A sua é a evolução natural. A natural.

 

47 - O valor somente se realiza através da troca. Excetua-se o valor-de-uso. Segundo Marx as mercadorias "falam" o seguinte: Nosso valor-de-uso pode interessar aos homens. Não é nosso atributo material. O que nos pertence como nosso atributo material é nosso valor. Isto é o que demonstra nosso intercâmbio como coisas mercantis. Só como valores-de-troca estabelecemos relações umas com as outras.".


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