Karl Marx - O Capital, Livro I - Capítulos VI e VII

 VI. Capital constante e capital variável

 

 

 

169 - Dupla natureza do trabalho: conserva o valor dos meios de produção (que nada seriam sem ele), chega-se a dizer, "transfere valor" deles para os produtos. E cria valor. O trabalhador combina-se com os meios de produção para formar produtos.

 

170 - Nova máquina diminui seis vezes o tempo pra fazer um produto. Ora, em cada produto haverá agora seis vezes mais valor (percentual, creio) "da máquina" na sua produção (valor esse que só se transfere devido ao trabalhador apesar de tudo). Porém, o produto valerá seis vezes menos, afinal, uma vez a tecnologia sendo socialmente adotada, o trabalho humano no produto diminuirá; Torna-se o produto seis vezes menos valioso e tendente a ficar seis vezes mais barato.

 

171 - Valor, excetuando-se sua representação simbólica, só existe num valor de uso, numa coisa. A perda do valor-de-uso implica a perda do valor.

 

172 - Da compra da máquina ao ferro-velho: Seu valor de uso é completamente consumido pelo trabalho e seu valor de troca se transfere totalmente ao produto.

 

173 - Nada nas citações anteriores, mas acho que ás vezes Marx faz uma confusão de leve com preço e valor-de-troca. São coisas diferentes. Ele sabe.

 

174 - Assim, se o meio de produção é uma máquina "tosca" que dura 3 dias só, o valor-de-uso (valor-de-uso é, pergunto) dela será um terço menor até "morrer" no terceiro dia. E aí, tem que comprar outra. transferiu em dias seu valor para o produto. Estava na conta do capitalista antes de comprar.

 

175 - Se o meio de produção não tiver qualquer valor a perder, ou seja, não é produto do trabalho humano (terra, água, madeira solta), ou seja, é sem valor, não transferirá, por óbvio, nenhum valor ao produto. Terá servido para criar valor de uso, sem servir para criar valor de troca.

 

176 - Resumindo, a máquina só transfere o valor que tem. Não gera mais-valia. Comprou-se por um valor de 150 libras (digamos que justo) é esse o valor que será transferido aos produtos ao final dela.

 

177 - Marx compara Roscher a um jovem imprudente que diz ter tido um filho mas que ele "é muito pequeno". Isso pelo motivo de que Roscher diz que a natureza quase não produz valores de troca. Não produz, depreende-se de Marx.

 

178 - Até Edmund Burke fala da conservação do valor das máquinas (um dos duplos papéis do trabalho), ao tratar do trabalho no campo, afirmando que os instrumentos pouco importam e que sem o trabalhador sequer gerariam valor.

 

179 - Página 242,243: rodapé fantástico com notícia do Times mostrando a ira de um empresário com sua empresa parada. O valor das coisas vai se deteriorando sem gerar nada. Não há apenas falta de produção ou falta de lucro, mas reais prejuízos. O "saldo" de parar é negativo. Daí o trabalho ajudar a extrair o máximo de valor das máquinas (quase 100% do valor delas se se trabalha todo o tempo).

 

180 - Capital constante: matérias-primas, materiais acessórios e meios de trabalho (etc.). Capital variável: gera mais valia. Trabalho humano.

 

181 - No caso de invenção que se permita fazer a mesma máquina de uma forma mais barata, o valor-de-troca da comprada muda. Marx diz que a máquina sofre desvalorização.

 

182 - Marx diz que uma mudança no valor dos meios de produção, mesmo quando ocorra após sua entrada no processo, não muda seu caráter de capital constante.


VII. A taxa de mais-valia

 

1. O grau de exploração da força de trabalho


183 - C (capital desembolsado) é igual a c (capital constante) mais v (capital variável). C mais "m" ao final. "m" igual a mais-valia.

 

184 - "v" é capital variável, mas parece constante... Mas não é. É dinâmico (e não estático) já que gera (pode gerar... Normalmente gera) mais valor do que o que se paga por ele. O trabalho materializado nas 90 libras vira trabalho em operação, capaz de gerar mais. (capital).

 

185 - Taxa de mais-valia é igual à "m" sobre "v". "m" é a mais valia absoluta. "v" o capital variável (que parece constante por não variar muito... Ou seja, meios de subsistência do trabalhador). É a mais valia relativa essa tal taxa. Em outras palavras, trabalho excedente sobre trabalho necessário. Taxa de 100% significa que o trabalhador trabalha metade do dia para ele e outra metade para o capitalista. Tipo os servos...

 

186 - Rodapé importante e já na primeira edição do livro: "Os cálculos apresentados no texto servem apenas de ilustração. Admitiu-se que os preços e valores das mercadorias são coisas iguais. No Livro Terceiro, veremos que essa equiparação não se processa de maneira tão simples, nem mesmo para os preços médios."

 

 

2. O valor do produto expresso em partes proporcionais do produto; 3 - A "última hora" de Senior; e 4 - O produto excedente

 

 

187 - Produto excedente é a parte do produto que represente a mais-valia.

 

188 - A fim de dar uma "geralzona" em todo o capítulo, Karl Marx cita um economista safado (e aí não sei o que existe mais: economista ou jurista) da sua época (1936) - Senior, que, muito bem pago por industriais de Manchester, desenvolveu a teoria da "última hora" a fim de impedir a redução da jornada de trabalho diária de 11,5 para 10 horas. Segundo este, 8 horas o trabalhador paga as máquinas, 2 horas ele paga seu próprio salário e matéria-prima, meia hora, paga o "desgaste das coisas, fábricas e tal" (aqui o erro que Marx já explicou no capítulo VI). Assim, o lucro líquido viria da última uma hora. Ora, cair pra 10 (como aconteceu mesmo anos depois) horas a jornada, segundo a teoria, seria o caos. Não se pagaria nem o desgaste inventado... Mas enfim, a Inglaterra curiosamente não faliu apesar do "especialista" contratado pela "Globo" de lá. Os industriais de Manchester. Por sinal, chegou ao parlamento inglês uma petição "dos trabalhadores" pedindo a não-redução para evitar que seus jovens filhos saíssem dos trabalhos mais cedo e caíssem nos vícios do mundo. Não era uma petição muito espontânea é claro. Proteger a moral dos filhos virou mais um argumento. O erro, segundo eu penso, foi considerar que não iria sumir cada um daqueles gastos proporcionalmente ao menor tempo de trabalho (máquinas, matérias-primas etc.). O capitalista ia perder bem pouco na verdade... E somente pelo motivo de que não dá para pagar menos ao trabalhador, sob pena de risco de morte do mesmo.


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