Karl Marx - O Capital, Livro I - Capítulo V
V - Processo de trabalho e processo de produzir mais-valia
1. O processo de trabalho ou o processo de produzir valores-de-uso
132 - O pior arquiteto é melhor que a melhor abelha, afinal, ele projeta sua construção na mente antes de transformá-la.
133 - O processo de trabalho tem: a) a atividade adequada a um fim; b) a matéria a que se aplica o trabalho, o objeto; c) os meios de trabalho, o instrumental.
134 - Peixes separados da natureza, água separada do rio, é tudo objeto de trabalho.
135 - O meio de trabalho "aumenta" o próprio corpo natural do trabalhador. Ele se apossa das coisas para usar em seu trabalho. Instrumentos. A razão lhe confere essa capacidade.
136 - No começo da história humana, desempenham a principal função de meios de trabalho os animais domesticados. A terra é o meio universal de trabalho.
137 - Os meios de trabalho servem para medir o desenvolvimento da força humana de trabalho. O homem, segundo Franklin, é o animal que faz instrumentos de trabalho.
138 - Segundo Marx, meio e objeto de trabalhos são meios de produção. Inclusive o peixe solto lá do exemplo.
139 - Valor de uso que é produto de um trabalho pode tornar-se meio de produção de outro.
139 - Indústrias extrativas (mineração, caça, pesca, agricultura quando se tratar de desbravar terra virgem): o objeto de trabalho é fornecido pela natureza. Nos ramos industriais por excelência, o objeto de trabalho é a matéria-prima, isto é, objeto já filtrado pelo trabalho.
140 - O centeio é matéria-prima de uma parada de coisas e, como semente, ainda é matéria-prima de sua própria produção.
141 - Na engorda do gado, o boi é matéria-prima (a ser aprimorada) e meio de trabalho (fornecedor de adubo para a terra).
142 - Um produto que existe em sua forma final para o consumo pode servir também de matéria-prima (ex: uva-vinho). Já a matéria-prima semiproduto, não (ex: algodão).
143 - Assim, um valor de uso pode ser considerado: matéria-prima; meio de trabalho; ou já um produto.
144 - É nos defeitos que se lembra que o produto (ou matéria-prima, ou meio de trabalho) é feito de trabalho anterior. Ex: fio que se rompe, faca que não corta...
145 - O trabalho é quem transforma valores-de-uso possíveis em valores de uso reais, seja para consumo ou para nova produção.
146 - O trabalho, às vezes, consume produtos como instrumental ou matéria-prima para produzir produtos. Consumo produtivo.
147 - O capitalista consome a mercadoria especial força de trabalho, fazendo-a consumir os meios de produção com o trabalho dela. De início, é a mesma técnica de produção que encontra (que os trabalhadores sabem), depois é que vai evoluindo.
148 - Ao comprador da força de trabalho pertence o uso da mercadoria produzida, o trabalhador apenas cede realmente o valor-de-uso que vendeu.
149 - O processo do trabalho é um processo que ocorre entre as coisas que o capitalista comprou.
2. O processo de produzir mais-valia
150 - Objetivo do capitalista: produzir um valor de uso que tenha valor de troca. (devido ao segundo).
151 - Objetivo 2: produzir uma mercadoria de valor mais elevado que o valor conjunto das mercadorias necessárias para produzi-la.
152 - "Além de valor de uso, quer produzir mercadoria; além de valor de uso, valor, e não só valor, mas também valor excedente (mais-valia)".
153 - "Sabemos que o valor de qualquer mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho materializado em seu valor-de-uso, pelo tempo de trabalho socialmente necessário à sua produção. (Ou seja, se for preguiçoso ou produtivamente atrasado, terá valor maior e dificilmente será vendida na competição).
154 - Importante citação de Ricardo: "Influi no valor das mercadorias, além do trabalho nelas imediatamente aplicado, aquele que se empregou nos implementos, ferramentas e edifícios com os quais se torna possível o trabalho imediatamente aplicado."
155 - Se o capitalista se der ao luxo de usar fusos de ouro em vez de aço para fazer os fios, problema dele. Gastou grana sem motivo. Só conta o trabalho necessário para fabricar fios de aço que já são úteis o bastante.
156 - Só se considera criador de valor o tempo de trabalho socialmente necessário.
157 - À pag. 225-226, Marx ironiza o "trabalho do capitalista".
158 - O valor da força de trabalho e o valor que ela cria no processo de trabalho são duas magnitudes distintas.
159 - "O trabalho, para criar valor, tem de ser despendido em forma útil." Para mim, essa assertiva quase que choca com outras do livro em que o trabalho socialmente necessário parece garantir a produção de valor. Isso apenas acontece caso o setor (todo) esteja produzindo o demandado pela sociedade (e não mais que isso), portanto, não depende apenas da produtividade média como às vezes parece ser o conceito de "socialmente necessário", assim prefiro o conceito que Mandel coloca em seu livro e que alguns dizem não ser o de Marx, embora Mandel diz que o seja. Enfim... deu pra entender.
160 - Valor de uso específico da força de trabalho: é ela fonte de mais valor do que o que tem.
161 - "Na realidade, o vendedor da força de trabalho, como o de qualquer outra mercadoria, realiza seu valor-de-troca e aliena seu valor-de-uso".
162 - Dinheiro se transforma em capital, ou seja, dinheiro mais mais-valia. Isso se dá pelo motivo de que o trabalhador trabalha para si próprio apenas uma parte do processo de produção, paga sua subsistência (valor-de-troca) e, após, produz excedente para o capitalista vender.
163 - Assim, pode vender a mercadoria pelo seu valor-de-troca, não "perdendo" para a concorrência.
164 - Para Marx, a transformação do dinheiro em capital acontece dentro e fora da esfera de circulação. Depende dela para ocorrer, mediante compra da força de trabalho como mercadoria especial que gerará dinheiro mais mais-valia e se materializa no processo de produção. Mais ou menos isso.
165 - Ultrapassado o ponto em que o processo de produzir valor já paga os "custos de produção" (digamos assim, para usar um termo de agrado dos críticos de Marx), passa-se a produzir excedente, ou seja, mais-valia.
166 - O que Marx diz é que o valor-de-uso almejado já existe com a produção usando o trabalho socialmente necessário, que para gerar o valor da mercadoria (o valor vendido), o trabalhador não precisa trabalhar tanto.
167 - Escravatura não gera muito desenvolvimento tecnológico, pois os escravos depreciam rapidamente os meios de produção, não tendo interesse nem sabendo o porquê de preservá-los. Não usam equipamentos sofisticados, mas rudes. Explicação constante num rodapé. Escravos rudes, máquinas rudes. Quebrariam.
168 - Forma capitalista da produção de mercadorias: produz não somente valor, mas ainda mais-valia.
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