Crescimento econômico e felicidade

Crescimento econômico não traz felicidade na América Latina


Washington, 18 nov (EFE) - Os cidadãos dos países da América Latina que tiveram maior crescimento econômico nos últimos anos estão menos satisfeitos com seu nível de vida que os que cresceram pouco ou nada.


Assim afirma um ambicioso estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) apresentado hoje em Washington pelo presidente do organismo, Luis Alberto Moreno, o coordenador da pesquisa, Eduardo Lora, e o chanceler do Chile, Alejandro Foxley.

"Além dos fatos: Entendendo a América Latina" reúne as opiniões de 24 mil cidadãos de 24 países da América Latina e do Caribe, aos quais se pediu que qualificassem de 0 a 10 a satisfação de suas vidas, assim como a educação, a saúde e a segurança em suas nações.

"Em termos gerais, os latino-americanos estão satisfeitos com suas vida", assinalou Moreno, embora curiosamente "as pessoas que vivem em alguns dos países mais pobres são os mais otimistas, enquanto os cidadãos de alguns dos países mais desenvolvidos estão entre os mais pessimistas".

O estudo revelou que as mudanças rápidas na economia e não somente nos níveis de renda ou consumo afetam o grau de satisfação dos cidadãos em curto prazo, algo que denominaram o paradoxo do "crescimento infeliz".

Os três países que mostraram maiores índices de satisfação foram Costa Rica, com uma pontuação média de 7,4, Panamá (6,8) e México (6,6), embora nenhum destes esteja entre os que mais cresceu na região no período 2001-2006.

Os que mais cresceram no mesmo período, em termos de renda per capita, foram Trinidad e Tobago, com 8,8%, Equador (3,9%) e Peru (3,5%).

Pelo contrário, os cidadãos do Chile foram os menos satisfeitos com suas condições de saúde, educação, habitação e emprego, apesar de terem uma das economias mais saneadas em comparação aos demais países da região.

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Segundo Lora, os Governos que concentram suas políticas unicamente no crescimento "estão destinados a perder apoio em longo prazo, se não responderem às altas expectativas em áreas como a educação, a saúde e a distribuição de renda".

Dos temas abordados na pesquisa, o relatório revela que as percepções sobre educação e o emprego dos cidadãos diferem da realidade, segundo os critérios estabelecidos.

Assim, por ex., a maioria de pessoas na América Latina e no Caribe está satisfeita com a educação pública, apesar de os estudantes da região obterem baixos resultados nas provas internacionais de rendimento escolar.

Concretamente, o estudo cita países como Venezuela, Uruguai, Paraguai e Bolívia, que mostraram níveis de satisfação com a educação superiores aos do Japão, apesar de o rendimento dos estudantes japoneses ser 35% superior.

Isto se deve, segundo Lora, a que os pais levaram em conta critérios como as infra-estruturas e a segurança de seus filhos nas escolas, contra outros estritamente acadêmicos.

Quanto ao emprego, 81% dos consultados disse estar satisfeito com seu trabalho, apesar de um quarto da população estar imersa na pobreza.

Nesta ocasião, de acordo com os analistas, os cidadãos levaram em conta critérios como a autonomia, a flexibilidade e o respeito no trabalho, mais que a qualidade dele em si.

Além da renda, o estudo incluiu outros fatores que podem afetar a satisfação das pessoas, como as relações familiares, as amizades e as crenças religiosas.

Neste sentido, nada podem fazer as políticas públicas, mas "os Governos podem decidir melhor suas prioridades se entendem a maneira de pensar das pessoas", assinalou o diretor do BID.

O emprego, a segurança e a capacidade econômica para ter acesso a alimentos básicos, saúde e uma casa foram as principais preocupações dos cidadãos da região.

Foxley assinalou que este relatório é pioneiro porque pela primeira vez se inclui a opinião dos cidadãos sobre as políticas que promovem seus Governos e um desafio para os políticos.

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"Temos que ser capazes de nos antecipar para atender as reivindicações da qualidade dos serviços públicos que nos pedem nossos cidadãos", frisou Foxley.

 

http://br.noticias.yahoo.com/s/18112008/40/entretenimento-crescimento-economico-nao-traz-felicidade.html

 

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