Karl Marx - O Capital, Livro I - Capítulo XXI
XXI – Reprodução Simples (e trechos pré-capítulo XXI)
417 – “A transformação de uma soma de dinheiro em meios de produção e força de trabalho é o primeiro movimento pelo qual passa um quantum de valor que deve funcionar como capital. Ela tem lugar no mercado, na esfera de circulação. A segunda fase do movimento, o processo de produção, está encerrada tão logo os meios de produção estejam transformados em mercadorias cujo valor supera o valor de seus componentes, portanto, que contenha o capital originalmente adiantado mais uma mais-valia. Essas mercadorias a seguir têm de ser lançadas de novo à esfera de circulação”.
418 – “A mais-valia divide-se, portanto, em diferentes partes. Suas frações cabem a categorias diferentes de pessoas e recebem formas diferentes, independentes umas das outras, tais como lucro, juro, ganho comercial, renda da terra etc. Essas formas mudadas da mais-valia somente podem ser tratadas no Livro Terceiro.”
419 – Marx estuda no Livro I a acumulação em abstrato. Supõe que o proprietário tem a mais-valia por inteiro e vende a mercadoria pelo seu valor. Tudo a fim de explicar o processo de produção.
420 – Notável observação de Marx: “Qualquer que seja a proporção da mais-valia que o produtor capitalista retém para si mesmo ou cede a outros, ele sempre se apropria dela em primeira mão. O que, portanto, é pressuposto em nossa apresentação da acumulação, é pressuposto de seu processo real. Por outro lado, o fracionamento da mais-valia e o movimento mediador da circulação obscurecem a simples forma básica do processo de acumulação. Por isso, sua análise pura exige a abstração provisória de todos os fenômenos que escondem o jogo interno de seu mecanismo.”
421 – “Uma sociedade não pode parar de consumir, tampouco deixar de produzir. (...) todo processo social de produção é, portanto, ao mesmo tempo, processo de reprodução.”
422 – “Se essa revenue (renda) serve ao capitalista apenas como fundo de consumo ou é despendida com a mesma periodicidade com que é ganha, então tem lugar, permanecendo constantes as demais circunstâncias, reprodução simples”.
423 – Trecho extremamente interessante: “A classe capitalista dá constantemente à classe trabalhadora, sob forma monetária, títulos sobre parte do produto produzido por esta e apropriado por aquela. Esses títulos, o trabalhador os restitui, do mesmo modo constante, à classe capitalista e retira-lhe, com isso, aquela parte de seu próprio produto que é atribuída a ele. A forma mercadoria do produto e a forma monetária da mercadoria disfarçam a transação.”
424 – “Se amanhã o senhor feudal se apropriasse do campo, dos animais de tiro, das sementes, numa só palavra, dos meios de produção do camponês submetido à corvéia, este, daí em diante, teria de vender sua força de trabalho ao senhor.”
425 – Começo do processo de produção capitalista: “o capitalista se tornou possuidor de dinheiro em virtude de uma acumulação primitiva, independente de trabalho alheio não-pago, e por isso pôde pisar no mercado como comprador de força de trabalho”.
426 – “o trabalhador sai do processo sempre como nele entrou — fonte pessoal de riqueza, mas despojado de todos os meios, para tornar essa riqueza realidade para si”.
427 – Consumo produtivo do trabalhador significa a vida do próprio capitalista. Consumo individual do trabalhador significa a vida do mesmo.
428 – “A aparência de que (o trabalhador) é independente é mantida pela mudança contínua dos patrões individuais e pela fictio juris do contrato.”
429 – “Encorajem ou permitam (!) a emigração da força de trabalho, e que será do capitalista?” Polêmica sobre o clamor popular pela emigração dos algodoeiros que ficaram sem emprego com a Guerra Civil dos EUA. Queriam emigrar. O industrial, mediante manifesto dos patrões, disse que seria perigoso e protestou. Se os trabalhadores eram a força dos patrões, como aumentar a produção depois? Nada de emigrar. Passagens que chocam com a apresentada pelos patrões quando queriam reduzir a jornada. Lá, os trabalhadores eram facilmente substituíveis. Agora, as habilidades dos trabalhadores são acumuladas por gerações e levaria cerca de 30 anos para reproduzir outros de mesmo nível. Assim sendo, não podem emigrar. Venceu essa versão.
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