Eric Hobsbawm - A Era de Ouro, de Era dos Extremos (Cap. 13)

 

Anotações Sobre Era dos Extremos (Hobsbawm)

 

 

              Parte II do Livro - Era de Ouro1945 a 1973

 

 

Capítulo 13: Socialismo Real (pág. 363)

59 – O “universo socialista” era em grande parte, política e economicamente, auto-suficiente. Não faziam muita troca comercial com os “países capitalistas”.

60 – O Partido Bolchevique, originalmente (Lênin) esperava eclodir a revolução mundial. Jamais imaginou o “socialismo num só país”. E nem Marx “apoiava” isso. Quando os comunistas russos viram que ficariam um bom tempo “sós”, resolveram industrializar e modernizar o país para resistir.

61 – URSS, na década de 30, só perdeu para o Japão em crescimento. Décadas 45-60, socialismo cresceu mais rápido que o capitalismo. Inclusive o modelo soviético de “planejamento” inspirou países não-comunistas de Terceiro Mundo sem indústria privada forte. Contudo, nada disso de “indústria pesada”, “planejamento central” e “industrialização rápida” veio de Marx.

62 – Trotsky queria um rápido rompimento com a NEP e imediata industrialização. Já o Bukharin era adepto do gradualismo moderado. Lênin meio que também era.

63 – A NEP não teria condições de gerar uma graaaande industrialização. Esta teria que vir de cima. Imposta pelo Estado. Camponeses não queriam. De qualquer forma, Stalin exagerou, com uma política de industrialização traumática. Trabalhadores explorados. Camponeses superexplorados. Metas irrealizáveis a fim de gerar um “super” esforço humano. Autoritarismo. Gritos. Camponeses presos à terra (Gulags): 4 a 13 milhões. Stalin: “necessidade de investir no futuro”.

64 – Havia certa igualdade até que o sistema de privilégios especiais para a “nomenklatura” se descontrolou após a morte de Stalin.

65 – A URSS trocou uma agricultura camponesa ineficiente por uma coletiva ineficiente. Isso a imensos custos humanos. Precisou quase sempre importar grãos.

66 – Em compensação, a agricultura húngara coletivizada era um sucesso. Batendo inclusive a França em exportações, mesmo tendo área “agricultável” quatro vezes menos que essa.

67 – Burocracia excessiva. No fim dos anos 30, a “administração” cresceu duas vezes e meia mais que o emprego em geral.

68 – Não havia mecanismos internos de gerar qualidade dos produtos. E não se sabia o que fazer com as invenções do complexo industrial-militar – ao contrário do que ocorria nos EUA. Inflexibilidade do sistema. As preferências dos consumidores eram ignoradas. Não havia nem mercado, nem política.

69 – Sistema de distribuição ruim e também o de organização de serviços.

70 – Os movimentos de massa trabalhistas e socialistas eram as principais forças, na Europa, a lutarem pelo amplo direito de voto onde esse ainda não existia.

71 – Como conter a “potencialidade autoritária” do partido de vanguarda de Lênin? Ainda mais quando o Partido Bolchevique “inchou” após a revolução, sendo os velhos quadros suprimidos pelos novos.

72 – O governo, após a guerra civil, já era ditadura do partido único e centralizado, sem muita discussão interna. Governo e partido fundiram-se. Autocracia sob Stalin. Tudo que importava agora eram os objetivos definidos pelo “partido”. Diferente da teoria socialista.

73 – Regime político de Stalin serviu de modelo para outros países “socialistas”.

74 – Lênin certamente censuraria e não aceitaria Stalin, mas, como achava que sabia mais que os outros marxistas do partido, não incentivava discussões que atrapalhassem a efetividade das ações políticas e era intolerante com o que chamava de “desvio” ou “reformismo”. Mas a “intolerância” era acusar e argumentar contra. Não “prender” ou “matar”, segundo Hobsbawm.

75 – Partido único inamovível, segundo Hobsbawm, tem muita chance de levar a uma ditadura, quer queira Lênin ou não. Isso segundo Hobsbawm.

76 – De qualquer forma, Stalin foi um completo exagero. Grandes expurgos: 4 ou 5 milhões de membros e funcionários dos partidos foram presos por motivos políticos. Alguns executados sem qualquer julgamento.

77 – Após Stalin, a loucura de matar dissidentes acabou. O terror acabou. As Gulags se esvaziaram. “Só” ficou o autoritarismo. Imprensa não-livre etc.

78 – Foram de 10 a 20 milhões de mortos. Apesar de brutal e ditatorial, não era, a URSS, totalitária. Isso no sentido de que “despolitizou” a população. Não faziam “conversão de pensamento”, sequer foi defendido o “marxismo-leninismo”.

79 – A verdade é que, no começo, só à Alemanha Oriental pareceu negativo o saldo da dominação soviética. Isso porque os russos saqueavam as cidades alemãs para sua própria reconstrução (da URSS) após a guerra.

80 – Revolta na Hungria reprimida em 56. EUA não interferiram. Mostra a estabilidade da geopolítica internacional da época.

81 – Polônia não gostava nada de comunismo. Por isso, houve concessões. Exemplo: descoletivização da agricultura.

82 – A Europa Oriental fez reformas tímidas (ao contrário da bem-sucedida Hungria) que não alavancaram a economia. Mesmo Tito com suas “empresas cooperativas autônomas”, não decolou.

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